Demonstração de ataque de cão durante a palestra. |
Possíveis ataques de cães são uma preocupação constante na vida dos garis que trabalham em Curitiba. Segundo a Cavo, empresa responsável pela coleta e limpeza pública da cidade, em média, cinco funcionários, de um total de 1.750, são atacados por mês.
“Depois da mordida, temos que fazer um monitoramento do cão e do funcionário ferido”, explica o supervisor de operações da empresa, Ricardo Cortez de Souza. “Fazemos um cadastro com o endereço do animal, o nome dos donos e verificamos se ele foi vacinado ou tem algum tipo de doença.” Já o funcionário, recebe vacina anti-rábica e, durante determinado período, fica em observação.
Para a Cavo, o melhor é tentar prevenir o problema do que remediá-lo. Por isso, a empresa promoveu ontem, como parte da programação da 7.ª Semana de Prevenção de Acidentes de Trabalho, uma palestra, ministrada pelo sargento Romualdo Amorim, da Polícia Militar do Paraná, para ensinar os garis a se defenderem. “É muito mais fácil e produtivo prevenir os ataques do que, após eles terem acontecido, fazer o monitoramento dos funcionários e dos cães”, diz o supervisor. “Queremos que os coletores saibam como agir e que o número de acidentes deste tipo diminua dentro da empresa.”
Defesa
De acordo com o sargento Romualdo, a forma mais comum de os garis tentarem se defender é jogando os sacos de lixo sobre os animais que os ameaçam. Esta, porém, é uma forma bastante errada de agir. “Jogar a sacola de lixo é uma afronta maior ao animal, sendo vista por ele como uma provocação”, adverte o policial. “A atitude pode deixá-lo ainda mais enfurecido.”
Em geral, os cães, principalmente os vira-latas, assumem o lixo como sua propriedade. Os resíduos normalmente carregam o seu cheiro e também o cheiro de seus donos. Por isso, Romualdo explica que os garis, assim como os carteiros e os funcionários da Sanepar que fazem a medição da água ? também muito incomodados por cães ? devem aprender a interpretar as reações dos animais, prevendo possíveis ataques. “Os coletores devem, por exemplo, perceber se o animal os está encarando”, ensina. “Nestes casos, nunca devem tentar inibir o cão retribuindo o olhar. O melhor é não olhá-lo nos olhos.” Segundo o sargento, pêlos arrepiados também podem indicar que o cão está se preparando para atacar.
Em casos de ataque, nunca se deve gritar, correr ou tentar lutar com o cachorro. O melhor é ficar imóvel e, se possível, se encostar em um muro até que o dono do animal apareça. Em campo aberto, a melhor opção é se jogar no chão e cobrir o rosto com as mãos. “Alguns cães podem ficar horas em cima da pessoa, mas sem mordê-la”, garante. “Nestes casos, por mais difícil que seja, a vítima deve tentar manter a calma.” Outra opção é uma terceira pessoa tentar desviar a atenção do cão ? desde que o faça de forma segura sem pôr sua própria integridade em risco.
Comunidade
A comunidade também tem um papel importante na prevenção de acidentes envolvendo cães. Os donos de animais devem conhecer os riscos que os garis correm e sempre adotar medidas preventivas.
Nos dias de coleta, os animais devem ficar presos. Os sacos de lixo devem ser colocados fora de seu alcance. As cercas e portões devem estar em bom estado de manutenção, o que evita que os cães ataquem os coletores através de frestas e buracos. Se levados para passear, os cães devem ser presos em coleiras e usar focinheiras.
Em casos de ataques comprovadamente causados por negligência, o proprietário do cão fica sujeito a punições previstas por lei. “Se houver ferimento, o dono pode ser indiciado de acordo com o artigo 129 do Cödigo Penal. Já pelo artigo 1.527, se não conseguir provar que o cão estava preso na hora do incidente, o proprietário deverá ressarcir o coletor”, lembra o policial.
Coletores evitarão repetir erros
Cintia Végas
São raros os garis que não enfrentaram algum tipo de problema com cães. Se não foram mordidos, levaram arranhões, ouviram rosnados ou tiveram que deixar de recolher determinados pacotes de lixo para não serem mordidos.
O coletor Josival Meneses Pinto, há sete anos na função, conta que já foi atacado diversas vezes. Na semana passada, ele teve que lutar com um pastor alemão que pulou o muro da casa e tentou mordê-lo. “Joguei os sacos de lixo sobre ele e dei muitos chutes e socos”, conta. Por sorte, o filho do dono do animal viu o que estava acontecendo e o socorreu.
“Hoje (ontem), depois de assistir a palestra, sei que fiz muitas coisas erradas”, admite. “Não deveria ter tentado lutar com o cão. Se acontecer novamente, saberei melhor como agir.”
Já o coletor João Paulo Correa, há um ano e três meses na profissão, teve uma mordida na perna esquerda, três na direita e uma no braço direito. A última, levou há exatamente uma semana. “O cão avançou pelas minhas costas e não tive como evitar a mordida”, lembra. “Era um animal pequeno, acho que um vira-lata, que se enfureceu quando eu fui pegar os sacos de lixo que estavam dentro de um cesto.”
João Paulo disse que sempre fica muito nervoso ao ser atacado, mas aprendeu na palestra que deve tentar controlar-se. “Não é fácil, mas da próxima vez que isso acontecer vou tentar”, prometeu.