Cabos eleitorais disputam eleitores

Quem se aventura a passar pela Rua Quinze de Novembro, centro de Curitiba, nessa época do ano, especialmente no trecho entre a Boca Maldita e a Marechal Floriano, dificilmente consegue sair da via sem um único santinho em mãos. Cabos eleitorais se apressam em distribuir panfletos, sem se importar se o eleitor vai jogar o papel logo adiante. Também as barraquinhas ? um pouco mais organizadas depois do sorteio feito pelo juiz eleitoral Luiz Osório Martins Panza na última segunda-feira, que resultou na distribuição de 13 pontos ? são obstáculos que os pedestres têm que estar desviando o tempo todo. É o preço da corrida eleitoral, que divide opiniões.

“Não me incomodo de receber tantos santinhos. Aliás, é uma forma de conhecer o candidato e depois cobrar dele as promessas que fez durante a campanha”, defende o funcionário público federal Marcos Zanil, acrescentando que guarda todos os panfletos que recebe. Com relação à poluição visual, ele acredita que faz parte do processo de democracia. “Os cartazes incomodam mais quando estão em lugares públicos, como nos viadutos”, afirma.

Comércio

Para os comerciantes da região, o incômodo com as barraquinhas e os cabos eleitorais se soma ao prejuízo financeiro. De acordo com o gerente da loja de calçados Planeta Pé, Éderson Torres, a queda no movimento chega a 50% aos sábados, desde que a área foi liberada para propaganda eleitoral. “Durante a semana não interfere em nada, mas no sábado prejudica bastante: muitos clientes não entram na loja simplesmente porque não conseguem”, reclama. Segundo ele, falta fiscalização para identificar quem está atuando de forma abusiva.

Se no comércio o movimento cai, para o gari Luiz Antônio Soares, que trabalha no trecho entre a Monsenhor Celso e a Praça Osório, o trabalho aumenta. “Algumas pessoas até são educadas, jogam os folhetos nos cestos de lixo, mas outros jogam no chão mesmo”, revela. Luiz Antônio conta que trabalha oito horas por dia, recolhendo lixo. “A quantidade aumenta muito nessa época do ano, mas a gente procura fazer o possível para dar conta.”

E de onde vem tanto folheto? A estudante Elisabeth de Souza Queiroz, de 17 anos, é uma das que contribuem para a distribuição dos santinhos. Para que seus papéis não vão direto para a lata de lixo ou para evitar uma possível rejeição, Elisabeth conta que tem uma tática para abordar os pedestres. “Procuro olhar a cara das pessoas. Se tem uma cara fechada, nem tento abordar”, conta. Elisabeth diz que às vezes recebe respostas grossas de pedestres que se recusam a pegar o folheto, mas geralmente o que vem mesmo é cantada. “Alguns perguntam se atrás tem o meu telefone. Como tenho que ser simpática, só dou risada”, relata. Segundo ela, as pessoas mais acessíveis para receber santinhos são os mais simples. “Pessoal de terno não pega”, sentencia.

TRE pune os “sujões” com tarja

Elizangela Wroniski

A idéia de colar tarjas identificando propagandas irregulares de candidatos está surtindo efeito. Desde sábado, quando os fiscais do TRE começaram o trabalho, dezessete deles já procuraram o órgão prometendo regularizar a situação até o fim da semana. Além disto, os eleitores também resolveram denunciar os “sujões” e o TRE está recebendo quinze ligações por dia.

De acordo com Claudionir Viana, chefe da 3ª Zona Eleitoral, a idéia surgiu para suprir a demanda de pessoal da fiscalização, são apenas seis para cobrir a cidade inteira. A propaganda irregular ganha uma tarja vermelha com letras pretas e traz a identificação da Justiça Eleitoral do Estado. Viana explica que o fato do eleitor identificar os candidatos que descumprem a lei faz com que eles voltem atrás e retirem o material. “A idéia é criar neles o constrangimento para que não voltem a transgredir a lei”, reforça o juiz eleitoral Luís Osório Panza.

Desde o início do trabalho, mil selos já foram colocados e espera-se atingir a marca de 5 mil. Na segunda-feira será feita nova fiscalização, quem ainda estiver em situação irregular vai receber uma intimação oficial e pode responder processo. A multa varia de R$ 5 mil a R$ 15 mil.

Para Viana, a idéia também motivou os eleitores a reclamar da poluição visual. “Eles querem a cidade limpa”, comenta. A transgressão que mais ocorre é colar materiais no patrimônio público como postes, telefone e ponto de ônibus. Mas há casos em que os eleitores acordam e a sua casa contém propaganda, sendo muito comum a situação acontecer em locais onde há obras em andamento.

Neste fim de semana, o TRE vai intensificar o trabalho.

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