Paulo Cristino, 48 anos, mora nas ruas de Curitiba há 18 anos, e apesar de se rotular como um homem de poucos sentimentos, se emociona ao encontrar casacos pendurados em uma árvore na praça 19 de Dezembro, no Centro Cívico. “Fico emocionado de ver quem tem gente ajudando outras pessoas. Tem feito muito frio e eu estava precisando de casacos. É lindo ver isso aqui”, comenta emocionado o ex-mestre de obras, que escolhe um casaco de feltro e deixa os demais para outros tão necessitados quanto ele.
O colega de rua, Ricardo Alexandre Soares, 36 anos, também fica encantado com a ação chamada de Árvore Solidária. Nascido em Bandeirante, Norte do Paraná, o ex-militar perambula pela cidade há quase dois anos e, apesar de todo sofrimento, não quer sair das ruas e agradece a solidariedade dos curitibanos. “Curitiba é uma cidade mãe, tem muita gente disposta a ajudar. Não tem nada igual”, comemora Ricardo, já desfilando o novo casaco. E assim como Paulo, também pega apenas uma peça das várias expostas.
Marco Charneski |
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Morador de rua Ricardo Soares ficaram com um casaco cada. |
E é esta a ideia dos idealizadores da ação: fazer com que cada pessoa necessitada tome para si apenas aquilo que precisa e que outros doadores possam repor as peças retiradas também. O projeto Árvore Solidária surgiu ano passado, através dos irmãos Rafael e Ricardo Savae. Donos de uma de lojas brechós, eles propuseram nas redes sociais que a cada doação dobrariam o número de peças conseguidas. “Fizemos isso numa tarde e algumas horas depois começamos a receber ligações, as pessoas começaram a compartilhar a ideia”, conta Ricardo. Este ano, eles estão repetindo a ação.
A iniciativa teve tanto sucesso que acabou se espalhando pelo Brasil. Em Curitiba, este ano um segundo grupo também está espalhando roupas pela cidade na ação batizada de Cabides Solidários. O grupo de voluntários instalou cerca de 15 pontos em praças.
Marco Charneski |
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Idealizador, Ricardo Savae repete ação pelo segundo ano seguido. |
Somando os dois projetos, os moradores de ruas podem encontrar casacos, sapatos, cachecóis, blusas e até cobertores em 30 pontos de Curitiba. Com os pontos já instalados na cidade, os idealizadores orientam que as pessoas que têm roupas para doar deixem as peças já nos cabides. “Não há necessidade de levar até a loja ou os pontos de coleta. As doações podem ser colocadas diretamente os locais que estão os cabides”, explica Ricardo Savae.
A ação também chama a atenção de quem passa pelos locais. Moradores de Curitiba param para fotografar a ação, mas são os turistas que se encantam com a forma de ajudar o próximo. “Vou levar isso para João Pessoa e adaptar à nossa realidade. Pequenos gestos fazem a diferença. Preciso proliferar essa ideia”, comenta a turista Neide Sette, que mora em João Pessoa, na Paraíba.