Boca Maldita completa 50 anos de ?democracia?

A Boca Maldita, encontro da rua XV de Novembro com a Praça Osório, no Centro de Curitiba, completa hoje 50 anos. O espaço ganhou fama em todo o País pela liberdade de expressão. Criticar a tudo e a todos, ali é permitido, sem qualquer restrição. A Boca também foi palco para grandes movimentos sociais como as manifestações a favor das Diretas Já, na década de 1980. Um jantar para 600 convidados comemora o aniversário, hoje à noite.

O apelido Boca Maldita surgiu em 13 de dezembro de 1956, num jantar que reuniu os freqüentadores do local. O espaço ficou conhecido por ser democrático e reunir gente de todas as áreas, como políticos, artistas, esportistas, profissionais liberais e aposentados, que falam sobre os mais variados assuntos. ?Ao mesmo tempo em que a Boca é heterogênea, com a diversidade de gente e de opiniões, é homogênea em relação à liberdade de expressão?, comenta o presidente da confraria, Ygor de Siqueira.

Dez anos depois de ganhar o apelido, o nome foi institucionalizado através de um decreto municipal que determinou que o local é um espaço de opinião livre. Não é à toa que grandes comícios e eventos culturais são realizados ali. Um deles foi o comício pelas eleições diretas para presidente do Brasil, em 1984, com a participação de Ulisses Guimarães.

Com o passar dos anos, a Boca ganhou mais força e até importância turística. Muita gente não deixa a cidade sem ao menos passar pelo local, que também tem dois prédios tombados pelo Patrimônio Histórico. O Edifício Garcez, primeiro arranha-céu de Curitiba, com oito andares, construído em 1929, e o Palácio Avenida, erguido no mesmo ano.

Durante estes 50 anos de história os confrades não deixaram de se reunir nenhuma vez para comemorar a data, e a cada jantar, cerca de 40 pessoas recebem o título de Cavalheiros da Boca Maldita. Já são cerca de 1,2 mil. Este ano, houve duzentos nomes indicados e foram escolhidas as pessoas que mais se destacaram em suas profissões no cenário municipal, estadual e nacional. ?O título também não é restrito a curitibanos. É uma forma de divulgar o lugar e a cidade para todo o país?, explica Siqueira. Este ano vão ser entregues comendas alusivas aos 50 anos para as personalidades que se destacaram nestas cinco décadas.

A Boca também fez escola e outros espaços com o mesmo nome foram criados no Rio de Janeiro, no interior do Paraná e no Rio Grande do Sul. Mas apesar de a democracia ser o maior patrimônio do espaço, a participação de mulheres é proibida nos jantares comemorativos. ?As mulheres são bem-vindas, mas é tradição que só os homens participem dos jantares, devido à formação da Boca?, explica o presidente da confraria.

Manoel Laffitte Neto, 74 anos, é uma prova de que no local é possível falar de tudo e de todos. Ele freqüenta a Boca desde que foi fundada e não esconde seu descontentamento com a classe política. ?A gente fala de tudo aqui. Para mim, não tem ninguém que se salve neste meio?, opina.

Renato Pedroso, 67 anos, freqüenta o local há 15 anos, quando veio da cidade de Ibaiti. ?A gente vem aqui, toma um café, encontra os amigos para conversar, saber das novidades. Se o papo estiver bom, chega a ficar até umas quatro horas?, fala.

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