Boca-de-urna deixa toneladas de lixo eleitoral

O período de votação terminou, mas a sujeira deixada por material de campanha eleitoral na madrugada de domingo, antes do horário de início das eleições, permanece. Ontem de manhã, muitas ruas de Curitiba estavam repletas de santinhos de candidatos à Presidência da República, ao governo do Estado, ao Senado, à Assembléia Legislativa e à Câmara Federal. No fim da tarde de ontem, a Cavo, que presta serviço à Prefeitura, já havia recolhido cerca de 7,5 toneladas de panfletos de propaganda política, o eqüivalente a três caminhões cheios do programa Lixo que Não É Lixo.

A empresa iniciou seus trabalhos de coleta dos santinhos no sábado. Durante o dia de ontem, além dos varredores que normalmente fazem a limpeza da cidade, foram colocadas em ação nove equipes especiais, compostas por cerca de trezentas pessoas, para retirar o material de propaganda política das avenidas centrais, dos bairros próximos aos centros e da frente das grande zonas eleitorais. Hoje, o trabalho foi reforçado pelos setecentos serventes da Limpeza Pública.

Segundo o supervisor de operações da empresa, Ricardo Cortez de Souza, o serviço deve ter continuidade hoje. Como o vento dificulta um pouco a retirada dos santinhos, a previsão é de que os trabalhos sejam encerrados até o fim da tarde, mas a gerente de limpeza do Departamento de Limpeza Pública da Prefeitura, Gisele Martins dos Anjos, prevê um prazo maior. Ela calcula que até quinta-feira não deverá haver mais vestígios do primeiro turno.

Segundo ela, quanto mais rápido for feita a limpeza, melhor, para evitar que o vento espalhe ainda mais os papéis. “O tempo também colaborou porque, se tivesse chovido, o lixo seria levado para os bueiros, e aí sim a situação poderia ser bem pior do que a atual.”

No primeiro turno das eleições de 2000, foram retiradas 18 toneladas de papéis das proximidades dos locais de votação da Capital.

O pessoal de limpeza da Prefeitura limpa calçadas e meio-fios, mas não entra nos jardins e prédios dos colégios. Todo o material que está sendo recolhido será levado para a Usina de Valorização de Resíduos de Campo Magro e, posteriormente, será reciclado.Tapete

Em frente a algumas zonas eleitorais, o material de divulgação formava um tapete colorido sobre as calçadas, dificultando o trânsito de pedestres. Com o vento, os papéis eram levados para dentro e para frente das propriedades particulares, obrigando muitas pessoas a pegarem baldes e vassouras e limparem elas mesmas a bagunça. “No trajeto de casa para o trabalho já vi muitas pessoas colaborando, limpando suas calçadas e frente de escritórios”, disse Gisele. “Isso adianta o nosso serviço.”

É o caso das empregadas domésticas Ana Cláudia da Silva e Bernarda Gallego, que passaram grande parte da manhã de ontem limpando a grama e a calçada em frente à residência dos patrões. “Os milhares de santinhos jogados no chão dão uma aparência muito ruim à casa”, disse Ana Cláudia. “Nossos patrões não gostaram nada de, no domingo, sair para fora do portão e deparar com a papelada. Dá uma sensação de falta de limpeza”, acrescentou Bernarda.

Segundo elas, foi muito trabalhoso juntar os materiais de propaganda. “Varríamos parte da grama e, em minutos, o vento trazia um monte de papéis novamente”, reclamou Ana. “Achamos que não teve um candidato que tenha deixado de espalhar seus santinhos”, lamentou a colega.

Locais de votação repletos de panfletos

Cintia Végas

Em muitas escolas de Curitiba, utilizadas como locais de votação, o cenário não era diferente do verificado nas ruas. No colégio estadual Julia Wanderley, o pátio de entrada e os corredores ficaram repletos de santinhos. Na manhã de ontem, funcionários da própria instituição faziam a limpeza.

“Tivemos que retirar alguns funcionários da limpeza de suas funções normais e pedir para que eles juntassem os santinhos”, conta a secretária Suzana Monteiro. “Na minha opinião, os políticos é que deveriam pagar pessoas para, depois das eleições, limparem as ruas e as escola. A bagunça que eles fazem acaba influenciando de forma negativa na imagem deles próprios.”

Já no colégio Estadual Guido Straube, cuja frente estava repleta de santinhos na manhã de ontem, o problema mais grave foram os papéis ? contendo o nome dos candidatos e a localização das diversas zonas eleitorais ? colados nas paredes pelos mesários. A fita adesiva utilizada tirou a tinta de muitas paredes do pátio e das salas de aula.

No primeiro andar, a parede de um corredor, que tinha sido pintada na última sexta-feira, ficou toda manchada. “Colaram papéis até em alguns quadros negros, o que vai atrapalhar os professores na hora de escrever”, comenta a vice-diretora, Sílvia Aneti.

50 toneladas de santinhos nas ruas de Londrina

Os santinhos despejados por cabos eleitorais e partidos políticos na madrugada de anteontem nas ruas de Londrina geraram uma quantidade aproximada de 50 toneladas de lixo.

O cálculo é do presidente da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), Wilson Sella, que previu o término da limpeza apenas para hoje.

Mutirão

Segundo ele, foram distribuídas vassouras e sacos plásticos a 120 pessoas, divididas em quinze equipes, que farão durante o dia todo o trabalho de limpeza.

Ontem, Sella afirmou ter feito uma vistoria pessoal nas principais ruas e avenidas da cidade por volta das 22h do sábado.

Na ocasião, segundo ele, as ruas estavam limpas e sem a presença de panfletos ? o que comprovaria a responsabilidade de candidatos e partidos políticos no lixo encontrado ontem.

Estudo

Ele encomendou um estudo à assessoria jurídica da companhia para verificar a possibilidade da aplicação da lei municipal 5.733/94, da ex-vereadora Lygia Puppato, que estipula punição para quem joga papel nas ruas. A multa prevista é de cerca de R$ 96,00.

Operários que trabalham no serviço de capina e roçagem de terrenos foram temporariamente deslocados para a limpeza das ruas. A maior preocupação é com a possibilidade de chuva. “Uma parte dos papéis pode colar nas calçadas e outra entupir os bueiros da cidade”, constatou Sella.

Durante todo o domingo, enquanto transcorriam as eleições, 38 homens da CMTU, divididos em oito equipes, já trabalhavam na limpeza das ruas próximas a locais de votação.

Lixo será reciclado

As cerca de 50 toneladas de papel que estão sendo recolhidas pela CMTU serão destinadas às organizações não governamentais (ONGs), que trabalham na reciclagem de lixo em Londrina.

Todo o material será encaminhado à Central de Prensagem e Vendas (Cepeve), localizada na chácara São Miguel (zona sul). A Cepeve é coordenada por representantes das 27 ONGs que trabalham na reciclagem.

Volume

Para se ter uma idéia da quantidade de lixo gerada nessas eleições, o volume é o mesmo coletado diariamente pelas ONGs nas residências de mais de 85% da cidade.

A quantidade de lixo reciclável coletado diariamente em Londrina, que no início da atual administração era de três toneladas, chega hoje a de 50 toneladas por dia, sendo apenas 18 toneladas de papel. A previsão é que nos próximos seis meses a coleta de lixo reciclável atinja a meta de 100 toneladas/dia.

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