Dura rotina

Bioquímicos que analisam exames convivem com o medo do coronavírus diariamente

Foto: Orlando Kissner/ANPr

O medo do contágio pelo novo coronavírus assusta grande parte da população, mas um grupo de profissionais precisa conviver de perto com ele diariamente: bioquímicos que trabalham em centros de análise de amostras. No Laboratório de Análises Clínicas do Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba, por exemplo, são sete profissionais que executam o processo que leva cerca de dez horas, desde a impressão da solicitação, para evitar contaminação pelo papel do pedido médico, até a liberação do resultado.

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O laboratório é um dos oito habilitados pela Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (Sesa) para realizar a testagem. Apesar de a curva de contágio da Covid-19 no Paraná estar “sob controle”, sem explosão de casos até agora, o trabalho de análise das amostras tem sido extenuante. Não só pela proximidade com o vírus, mas também pelas decisões que precisam ser tomadas: insumos a adquirir, controle dos equipamentos de proteção individual (EPI), reuniões com departamentos clínicos. No boletim deste domingo (03), Curitiba tinha 25 mortes por coronavírus, 623 casos confirmados e 470 pacientes recuperados.

“Nossa maior preocupação institucional é manter pessoas na linha da frente saudáveis, tanto na assistência quanto no laboratório, manipulando amostras respiratórias ou outras, que se mantenham saudáveis. Porque essas outras pessoas também têm medo, também são saudáveis, passaram a trabalhar muito mais do que trabalhavam. São pessoas que saem de casa e são questionadas se precisam trabalhar tanto, se precisa ir trabalhar no sábado ou feriado e isso, independentemente de receber insalubridade ou hora extra, que é uma realidade que não é para todo o hospital, as pessoas vestiram a camisa e se sentem parte disso para dar essa resposta. Neste momento, nós somos os profissionais preparados para isso”, relata Meri Bordignon Nogueira, que integra a equipe de virologia do laboratório do HC.

O HC, que é vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR), conseguiu se organizar para enfrentar a pandemia e tem os EPIs necessários, mas que são usados com parcimônia, conta a virologista: aventais, luvas, máscaras e protetores faciais (face shields) nas análises das amostras. Após a paramentação, são evitadas interrupções no trabalho – como beber água —, para não haver desperdício. A primeira etapa é a recepção da amostra colhida, seguida pela extração do material genético. “É o momento mais crítico porque é onde deve se ter cuidado maior, porque o vírus está vivo, a partícula viral ativa, daí retiramos a parte que vai ser isolada para fazer extração do RNA viral que vai ser inativada e a gente guarda um backup para voltar a essa amostra sempre que for necessário”, relata.

Depois do isolamento, é colocado um reagente que vai permitir a leitura do genoma da célula do vírus por máquinas específicas. Segundo a médica Sonia Raboni, chefe da Unidade de Infectologia do HC, os laboratórios todos costumam pedir prazo de 48 horas para entrega dos resultados porque se a equipe já iniciou uma análise, não há como voltar e processar outra amostra que acabou de chegar.

Moinhos de vento

As duas profissionais lamentam dificuldades adicionais no combate ao coronavírus: os questionamentos de uma parcela da população quanto à letalidade da Covid-19. “A mortalidade não é tão alta numericamente, ainda mais considerando que temos a dengue, com mortalidade bem alta, mas as pessoas não têm noção de observar o impacto na saúde global e na rotina do hospital com a Covid. Então, estamos nos preparando para atender esses casos e para que eu tenha leitos disponíveis para atender casos que a gente sempre teve. Claro que vai impactar, porque o número de infectados é muito grande, e não vou ter leitos para atender um infarto, um AVC e tudo mais. Isso tem sido difícil, as pessoas terem noção. Chega a uma hora que parece que estamos lutando contra moinhos de vento. Nunca na minha vida achei que a gente teria que voltar a falar de coisas tão básicas”, lamenta Sonia.

Para a infectologista, as pessoas precisam criar a consciência de usar máscaras, como forma de proteger a si e os outros. Ela destaca que mesmo que a dengue seja um problema mais crônico, especialmente no interior do estado, nas regiões mais quentes, com muitos infectados e mortos, a Covid-19 é um grave problema de saúde pública. “A dengue tem uma necessidade menor de internamento, já conhecemos a fisiopatologia do vírus. O coronavírus é novo, com capacidade de disseminação aérea. Além do isolamento, não há muito o que a pessoa possa fazer. Todo mundo está exposto e precisamos pensar no coletivo, na minha responsabilidade ao sair com máscara, não é só para proteção pessoal, é para todo mundo”, acrescenta.

Máscaras são indispensáveis

A organização do sistema de saúde do Paraná deu alento aos profissionais do HC, diz Sonia. Ela lembra que o Ministério da Saúde já havia destacado a estrutura paranaense no combate ao coronavírus quando surgiram os primeiros casos no Brasil. “E o Lacen [Laboratório Central] do Paraná sempre foi um diferencial para Brasil”, destaca. Outra medida importante, avalia, foi a decisão da UFPR e paralisar as atividades, em reunião ocorrida em 15 de março. “Houve crítica grande porque a universidade foi a primeira que fechou, e fomos bastante criticados por isso, sabemos da importância do impacto social e econômico da UFPR em Curitiba, e sabíamos que as outras parariam. Mas hoje a gente vê que quem parou primeiro está melhor”, observa a médica. Ela ressalta que a reabertura das atividades comerciais precisa ocorrer com o uso de máscaras. “Se pessoas aderirem a estas recomendações, a gente ainda vai ter uma menor taxa de contaminação e nosso sistema ainda vai conseguir dar conta”, avalia.


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