Otimização do tempo, economia, adaptação do sistema de transporte público às necessidades do cidadão e não o caminho inverso, com o passageiro tendo de adaptar seus horários e itinerário ao que o transporte coletivo da sua cidade oferece. Estes são alguns dos benefícios citados por cidades que utilizam o sistema de bilhete único no transporte público.
Outro ponto positivo apresentado pelas cidades é o baixo impacto na composição da tarifa. A Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), que foi procurada pela reportagem desde segunda-feira, mas não atendeu aos pedidos de entrevista, recentemente, após a apresentação de mais um projeto sobre o tema na Câmara Municipal, a empresa que administra o transporte público na capital paranaense afirmou que o bilhete único não só teria baixa adesão, em torno de 7%, como pode encarecer a tarifa em 13%.
Porém, os grandes centros como São Paulo, pioneiro no Brasil, Porto Alegre e Campinas, afirmam que o custo além de diluir nos anos de funcionamento do projeto, não pode ser considerado alto, diante dos benefícios que traz para população. Sem contar o baixo impacto na composição da tarifa. Em São Paulo, que adotou o sistema em 2004, o bilhete único corresponde a 2,4% da tarifa, já em Porto Alegre, fica na casa dos 3%.
Os gestores que atuam nas cidades onde o bilhete único já foi implantado reconhecem que é normal que o tema gere polêmica, por se tratar de uma novidade. Porém, é preciso encontrar mecanismos que facilitem a aceitação do programa. Em são Paulo, por exemplo, a maneira encontrada foi a prefeitura subsidiar parte das tarifas. “O subsídio é em torno de R$ 1 bilhão por ano e a arrecadação em torno de R$ 4,8 bilhões”, explica Adauto Farias, diretor de gestão econômico-financeiro da São Paulo Transporte (SPTrans), autarquia municipal que gerencia o transporte público na capital paulista.
Em Porto Alegre, o governo municipal entrou como avalista do empréstimo de R$ 32 milhões que as empresas do transporte público fizeram junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para implantar o sistema. “Não é um sistema barato, mas traz muito resultado e confiabilidade”, acrescenta Vanderlei Cappellari, diretor da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), autarquia porto-alegrense responsável pelo transporte público.
Usuários
Outro ponto que diverge das afirmações da Urbs, em dados apresentados pela prefeituras que já adotaram o projeto, é referente ao número de usuários do sistema. Enquanto a autarquia curitibana afirma que 7% dos passageiros utilizariam o sistema, as cidades com experiência no uso da bilhetagem única afirmam que o projeto tem no mínimo 70% de adesão. “Hoje estamos com 93% de uso do bilhete único. Claro, são dez anos, mas é um sistema que você já inicia com uma alta adesão. Ano que vem queremos chegar a 100%”, acrescenta Adauto, da SPTrans.
Após dez anos, o gestor comemora o crescimento do sistema, que hoje envolve não só os ônibus que circulam pela cidade, como também, três, metrô e até bicicletas. “O projeto Bike Sampa permite que, com o bilhete único, você também empreste uma bicicleta para usar no seu trajeto. De janeiro até hoje já foram 600 mil retiradas de bicicleta”, comemora Adauto.
Em Porto Alegre, o uso já está em 78%. Em 2010, o sistema ganhou mais adeptos com a integração ao sistema de metrô, e não apenas ônibus. “Quanto mais eficiente, maior a adesão dos usuários”, lembra Cappellari.
Adesão de quase 100% reduz violência
Não é apenas benefício econômico o que a bilhetagem única traz. A segurança de passageiros e, trabalhadores do setor passa por uma transformação significariva. Em São Paulo, em 2003, ano que antecedeu a adoção da bilhetagem única, foram registrados pela SPTrans 11.500 assaltos a ônibus. Em 2013, foram apenas 630 registros.
“O índice de violência cai praticamente na mesma proporção que a quantidade de dinheiro que circula, que é muito baixa”, explica Adauto Farias, diretor de gestão da SPTrans.
Porto Alegre ainda não tem estatísticas do ano passado, mas o governo também comemora a redução no índice, bem como a mudança no gerenciamento de arrecadação do sistema de transporte.
“Como você usa um sistema inteligente, você tem um controle financeiro maior, controle preciso do número de passageiros transportados, dados em tempo real, diariamente, por linha, por trecho de linha. É a eficiência no controle, sem contar a redução de evasão de dinheiro”, acrescenta Vanderlei Cappellari, diretor da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), de Porto Alegre.
Facilidades
As prefeituras de Porto Alegre e São Paulo também apontam as facilitações ao usuário como atrativo para que mais pessoas passem a utilizar o sistema. Acabar com as filas na hora de recarregar o cartão é o primeiro passo.
São Paulo tem hoje mais de 10 mil pontos habilitados e, no mês passado, lançou um aplicativo que permite recarregar o cartão pelo celular. “O usuário não gosta de fila. Quanto mais possibilidades para recarga você oferecer, maior será a adesão. É com este sistema que esperamos chegar aos 100% de uso do bilhete único”, conta Farias.
Ampliar o sistema para as cidades metropolitanas é um objetivo. Porém, a negociação é morosa. “Temos alguma integração com quem está na Grande São Paulo e utiliza o trem, mas ainda estamos tentando ampliar esta integração para os ônibus intermunicipais”, acrescenta Adauto. Porto alegre também está em fase de negociações.