Biblioteca Pública sofre com vandalismo

A perda e a degradação de obras literárias nas bibliotecas é uma realidade no Dia Nacional do Livro, comemorado amanhã. Na Biblioteca Pública do Paraná (BPP), negligência e vandalismo são atos corriqueiros, sem contar os livros que são emprestados e não são devolvidos. De janeiro a setembro, já são 2.028 empréstimos que ficaram sem retorno. Só em 2006 foram 2.131 livros que não voltaram para a BPP.

Além do roubo de livros, a deterioração das obras é preocupante. ?São figuras recortadas, páginas destacadas, além das pessoas que deixam a capa e levam o miolo do livro?, enumera a chefe da Divisão de Preservação da BPP, Bety de Luna, enquanto mostra os livros rabiscados, grifados, com rasuras e opiniões.

Quando não há condições de reparo, o exemplar sai de circulação, o que acontece com muitos livros de primeira edição e de único exemplar na biblioteca. É o caso da primeira edição brasileira (1957) de Memórias de Casanova, de Casanova de Seingalt, que estava esta semana na divisão de preservação. Anotações em caneta vermelha permeavam todas as páginas, junto com desenhos e rabiscos.

O roubo dos 180 volumes (109 títulos) da coleção de obras raras, no ano passado, teve prejuízo de quase R$ 500 mil e continua sem solução. Entre as obras perdidas estavam exemplares de autores como Érico Veríssimo, Graça Aranha, Lima Barreto, Machado de Assis e Victor Hugo. A investigação está sob responsabilidade do Centro de Operações Especiais (Cope). Quem tiver informações sobre as obras podem contatar a biblioteca pelo (41) 3221-4951.

Negligência

O descuido do leitor com as obras que manuseia, deixando-as com manchas ou molhadas, deteriora as páginas, causando fungos e bolor. ?O medo da punição faz com que as pessoas não comuniquem o problema na hora da devolução, ficando com o livro molhado 15 dias. O ideal é que o incidente seja alertado tão logo ocorra, para facilitar o reparo?, explica Bety.

Usuários que emprestam um livro que está com folhas soltas ou que acabam rasgando páginas, tentam consertar, colocando fitas adesivas, que prejudicam ainda mais a conservação da obra. ?Colocados de qualquer jeito e em excessiva quantidade, de nada contribuem na restauração?, esclarece Bety.

Para tentar recuperar as obras, a restauração exige um trabalho apurado e cuidadoso, como a desmontagem e o refilamento do livro. Em casos de recorte de figura apenas, a seção de preservação preenche os espaços faltantes com papel. ?Assim, outros leitores podem tomar consciência. Preservamos o livro, mas o aspecto visual foi perdido?, lamenta. Quando há outros exemplares de um livro que teve páginas destacadas, um xerox ocupa o espaço.

Sebos, bons locais para ?garimpagens?

Na contramão do vandalismo, estão os amantes de livros e da garimpagem de obras raras e edições esgotadas em sebos. O dono do sebo Osório, Alejandro Rubio, diz que a maior procura é por livros que marcaram a juventude dos leitores, assim como livros polêmicos e os que foram proibidos durante a ditadura militar.

Rubio conta que alguns freqüentadores acabam tendo surpresas na procura de um livro. ?São muitas as histórias de alguém que chega aqui e encontra um livro com a sua dedicatória que deu de presente. Quando percebe que a pessoa que o vendeu sequer leu o exemplar, a irritação é ainda maior?.

Ao longo dos 23 anos em que mantém o sebo, Rubio percebeu uma mudança no perfil do público. ?Com a vida mais agitada, hoje as pessoas não têm mais tempo de parar e pesquisar as obras. Agora elas chegam com o nome do livro desejado na mão, compram e vão embora?, afirma. Com cerca de 50 mil livros à disposição dos clientes, o sebo possui como seus livros mais antigos obras de leis em latim, dos séculos XVI e XVII, que estão em exibição.

Para garantir a qualidade dos livros, o sebo Osório também faz um trabalho de restauração. ?O cuidado principal está em preservar as características originais da obra. A nova costura dos cadernos que compõem o livro é a tarefa mais difícil?, explica o funcionário Edevaldo Marcos.

Fantasia

A criação de um mundo de fantasia, aliada à afetividade dos pais enquanto contam uma história de dormir para os filhos, pode ser o primeiro passo para despertar o interesse pela leitura. É o que acredita a bibliotecária e chefe do setor infantil da BPP, Neide Mutti.

Estímulo esse que deve ter continuidade na escola. Porém, a inadequação das bibliotecas e de pessoal adequado para atender os pequenos contribui para o desinteresse pela prática, segundo a bibliotecária. ?Muito mais que alguém para recolocar o livro na estante, o bibliotecário responsável deve conhecer um pouco de didática e participar na elaboração da proposta pedagógica, interagindo com os professores?, defende Neide, para quem sempre é tempo de começar a ler. (LC)

Mutirão – Biblioteca 150 anos

Usuários fizeram fila para tirar foto pra identidade.

Dando continuidade às comemorações dos 150 anos da Biblioteca Pública do Paraná e da Semana Nacional do Livro, a biblioteca promoveu ontem, juntamente com a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), um mutirão para encerrar as festividades. Vários serviços gratuitos foram oferecidos à população, como a oportunidade de fazer a carteira de identidade e a carteira de trabalho.

Durante o mutirão de ontem, quem passava pela biblioteca podia também aderir às tarifas sociais da Sanepar e da Copel, ter atendimento jurídico gratuito, além de fazer a carteirinha da biblioteca e ganhar prêmios. Uma exposição com poemas de poetas paranaenses também está fazendo parte das comemorações dos 150 anos da biblioteca. 

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