Depois de 46 anos de estudos, a Bíblia foi traduzida para a língua Guarani Mbyá em 1.408 páginas. Existem atualmente cerca de 18 mil indígenas que falam o dialeto, sendo oito mil no Brasil e 10 mil divididos entre Argentina e Paraguai. A obra vai ser lançada no dia 20 de março em Nova Laranjeira, Centro-sul do Paraná. Na cidade vive a maior comunidade que fala o dialeto no Brasil.
Segundo o gerente de projetos e publicações da Sociedade Bíblica do Brasil, Paulo Teixeira, o lançamento de um livro reconhecido internacionalmente vai ajudar na preservação da língua indígena. Mas o desafio foi grande. Começou em 1958 com a produção da escrita do Guarani Mbyá. Foram produzidos dicionários e criados símbolos que representavam o som das palavras indígenas. “Muitas não tinham sons correspondentes aos da Língua Portuguesa, exigindo uma grafia diferente”, comenta Teixeira. Segundo ele, esse é o tempo normal de trabalho quando se traduz um livro para dialetos minoritários.
Paulo destaca vários pontos que a Bíblia tem em comum com a cultura indígena. “A Bíblia não é um livro apenas de religião, mas trata de valores éticos comuns. Como não matar e respeitar o próximo”, fala Paulo. Dos 10 mil exemplares editados, cerca de três mil vão ser distribuídos na comunidade de Nova Laranjeira. Os textos poderão ser usados até na alfabetização de crianças e adultos. Hoje só 15% dos guaranis mbyá são alfabetizados.
O mbyá é um dialeto de um dos três subgrupos da população Guarani – os outros são Nhandeva e os Kaiowá. O tronco lingüístico é o tupi e a família é o tupi-guarani. Das 6.800 línguas e dialetos existentes no mundo, a Bíblia já foi traduzida para 2.303.
O consultor da Sociedade Internacional de Lingüística (SIL), Roberty Dooley, integrou a equipe de tradução e mais quatro indígenas. A Sociedade Bíblica do Brasil já participou de projetos para traduzir textos bíblicos para outras tribos no Brasil e de outros países. Mas é a primeira vez que a Bíblia é traduzida por inteiro.