A privatização do Banestado em 2000 foi mais uma vez lembrada pelos bancários. Ontem, a categoria se reuniu em frente à primeira agência do banco no Paraná, no centro de Curitiba, e distribuiu uma carta à população, com uma série de denúncias sobre a extinção do banco. Entre elas a demissão de oito mil trabalhadores e as remessas ilegais de dinheiro feita por políticos e empresários ao exterior, crime que está sendo investigado pelo Ministério Publico Federal (MPF), Receita Federal (RF) e Polícia Federal (PF).
A carta distribuída à população lembra que o Banestado foi entregue ao Banco Itaú por R$ 1,6 bilhão, sob a administração do ex-governador Jaime Lerner. O presidente da Federação dos Bancários da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Adilson Stuzata, afirma que, devido a transação, o Itaú deixou de pagar R$ 1,7 bilhão de créditos tributáveis e levou uma estrutura com 346 agências e 552 mil correntistas.
Mas os benefícios não pararam por aí, e o banco ainda pôde operar por cinco anos as contas do governo estadual. Segundo Stuzata, se o governador Roberto Requião não tivesse anulado o aditivo que prorrogava o prazo por mais cinco anos, o Itaú estaria operando as contas até 2010. Além disso, com a privatização do Banestado, uma pequena parcela de trabalhadores foi aproveitada pelo banco. Toda a parte administrativa foi extinta, uma vez que o trabalho é concentrado em São Paulo. No total, oito mil pessoas ficaram desempregadas no Paraná.
Com a extinção do banco, também acabaram as linhas de crédito para os pequenos empresários e agricultores. "O banco funcionava como uma agência de fomento", diz o sindicalista.
O caso Banestado ainda vai mais longe. O banco foi utilizado para a remessa ilegal de dinheiro ao exterior pelas contas CC-5, por empresários e políticos. A CPI que apurou as denúncias não apresentou resultados, mas o MP, a Receita e a PF continuam atuando nas investigações. A força-tarefa criada em 2003 identificou até o momento 10,3 mil nomes de pessoas que possuem contas no exterior e que receberam créditos de contas de doleiros, através de várias instituições financeiras como o Banestado e o MTB Bank. Estima-se que US$ 74 bilhões tenham deixado o País.
Para o sindicalista, a privatização do banco pode ter vindo para tentar esconder todas as irregularidades cometidas dentro do Banestado. "Uma tentativa de colocar uma pedra em cima do assunto", fala.
A manifestação contou com a participação de militantes da Central dos Movimentos Sociais (CMS) e Sindicato dos Petroleiros.
Em Londrina, a data da privatização do Banestado também foi lembrada. Lá os bancários representaram um enterro, simbolizando a extinção do Banco do Estado. Porquinhos, que eram o símbolo do banco, também marcaram presença.
A reportagem de O Estado entrou em contato com o Banco Itaú para saber sua posição sobre os protestos, mas a instituição não quis comentar o assunto.