Funcionários temporários que prestam serviços ao Banco do Brasil estão com salários e benefícios (vale-refeição e vale-transporte) atrasados. Alguns não recebem nada desde janeiro, quando foram transferidos de empresa terceirizada – da Trevizzano para a Adventure Tecnologia e Soluções Corporativas Ltda. Os trabalhadores relatam dificuldades financeiras e não conseguem respostas sobre a remuneração que lhes é de direito.

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Uma funcionária que não quis se identificar contou que na empresa antiga não houve problemas, mas neste ano recebeu apenas o salário de fevereiro, no dia 19 de março. “Estou com as contas de luz atrasadas, com aviso de corte, e perdi a bonificação de R$ 100 do aluguel”, relata. A bancária disse que não recebeu vale-transporte e o vale-refeição foi depositado em 28 de fevereiro, mas no dia 22 de março o saldo estava bloqueado. “Fui almoçar num restaurante com uma amiga e quando fui pagar a conta, o saldo do cartão estava zerado. Tive que deixar o celular e ir ao banco retirar dinheiro.”

Ela tentou vários contatos com a Adventure, e nas poucas vezes que conseguiu, o discurso foi que não podem fazer nada ou houve problema na documentação. Em uma das vezes a atendente chegou a rir da situação dela.

Sem informações

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Alice, que não quis divulgar o sobrenome, não recebe nada desde janeiro. O marido teve que assumir todas as despesas dela, dos dois filhos e da casa. “Tentei várias vezes falar com a empresa, mandei 15 e-mails seguidos. Numa das vezes, uma pessoa me retornou dizendo que o dinheiro tinha sido depositado, mas voltou.”

Sem salários de fevereiro e março, Ana Paula Chaves saiu do emprego. Atrasou o pagamento da fatura do cartão de crédito e o nome foi para o Serasa. Por pouco não perde a bolsa na faculdade. “Ainda bem que consegui regularizar rápido.” Outra temporária recebeu todos os salários, mas os benefícios não foram pagos. Ela reclamou da dificuldade de conseguir informações. “Não tem pessoa certa para dizer se a gente vai ou não receber, ninguém se responsabiliza pelo nosso salário”, contou.

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Representante não sabe nada

A matriz da Adventure fica em Brasília e com filial em Salvador. Assim como os funcionários, o Paraná Online não conseguiu contato pelos telefones. Em Curitiba há uma única representante da empresa, sem qualquer poder legal. Ela não tem nem ao menos escritório físico, e recebe várias ligações em sua residência de trabalhadores indignados com a falta de pagamento, mas não sabe informar o motivo dos atrasos e quando o problema será solucionado.

O Banco do Brasil prometeu enviar nota sobre a situação, que não chegou até o fechamento da edição.

Denúncia levada a Dilma

Os profissionais temporários com pagamentos atrasados trabalham com o Microcrédito Produtivo Orientado (MPO), programa nacional que tem como público-alvo empreendedores individuais formais e informais e pequenas empresas com faturamento de até R$ 120 mil por ano.

O secretário de Comunicação do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, André Machado, afirma que a entidade é contra a terceirização de mão de obra do serviço bancário, pois facilita esse tipo de fraudes, em que os bancos repassam o dinheiro e as empresas atrasam os salários dos funcionários. Segundo o sindicalista, a entidade defende a contratação de bancários apenas através de concurso público. “Mas estamos cobrando que os bancos regularizem a situação dos trabalhadores. Contratou mal, tem que pagar. Os trabalhadores não podem ficar sem receber”, ressalta.

Denúncia

Machado disse que o sindicato enviou carta à presidente Dilma Rousseff fazendo a den,úncia dessa situação, alegando que os serviços prestados por esses temporários são essenciais. “Achamos que os bancos estão terceirizando porque não dão a devida importância, contratando gente sem especialização e preparo”, aponta.

Nota

A assessoria de imprensa do Banco do Brasil emitiu uma nota em que “esclarece que a responsabilidade dos pagamentos aos funcionários temporários é da empresa Adventure, que foi contratada pelo BB. O Banco informa que está adotando as medidas cabíveis, junto à empresa, no sentido de regularizar os pagamentos, no menor prazo possível.”