Foto: Aliocha Maurício/O Estado |
Esgoto vai direto para o mar, prejudicando os banhistas. continua após a publicidade |
A temporada de 2006 nas praias paranaenses foi conturbada por um novo item que tomou conta dos noticiários: os relatórios de balneabiliade. A cada nova divulgação que o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) fazia sobre a monitoração de alguns pontos do litoral sobre a qualidade da água para banho, uma avalanche de críticas se seguiam. De um lado ficavam os comerciantes dos municípios, que sentiram na pele a queda de movimento. Do outro, ficou o governo estadual, que curiosamente, mesmo sendo o responsável pela divulgação, criticava alguns meios de comunicação pela cobertura das áreas que estavam impróprias para os banhistas devido à poluição feita pelo esgoto.
A quarta reportagem da série Raio-X do Litoral mostra os esforços para melhorar as áreas e a divulgação dos pontos próprios e impróprios para banho, assunto que dificilmente sairá de cena no próximo verão. O objetivo da série é retratar a situação em que se encontra o litoral, trazendo ao leitor um retrato de pontos cruciais que devem estar na agenda do próximo governo estadual. A escolha dos temas abordados foi baseada nos depoimentos das pessoas ouvidas pela reportagem. No próximo domingo (24), a série será encerrada com as propostas dos candidatos ao governo do Paraná para sanar os problemas da região.
?Tivemos uma grande diminuição nas reservas dos imóveis quando o IAP começou a divulgar os relatórios?, diz Maurício Lense, presidente da Associação Comercial de Guaratuba. ?O problema é que a maneira com que as informações foram divulgadas comprometeram a temporada?, analisa. Segundo Lense e a maioria dos ouvidos pela reportagem, quando o órgão divulgava a porcentagem de pontos impróprios parecia que aquilo correspondia à porcentagem do litoral que não estava própria para banho. ?Por exemplo, em uma das medições, 85% dos pontos estavam impróprios. Mas ninguém dizia que a cem metros antes e depois a água estava boa?, reclama.
Por causa da medição, o Paraná acabou ganhando a fama de ter praias sujas entre os turistas. Mas o próprio IAP admite que a maneira como as informações eram divulgadas estava equivocada. ?Realmente dava a impressão que não havia locais próprios para banho no litoral. E isso não é verdade. Mesmo nas praias mais poluídas, a medição era feita em pontos com probabilidade de medições negativas, como próximas a saídas de canais?, diz o diretor-geral da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), Allan Jones.
?E essa fama de que era o litoral mais poluído também não era verdade. Nos outros estados, como em Santa Catarina, havia muito menos pontos de fiscalização e quase nenhuma divulgação do resultado?, reclama Maurício Lense. De fato, o Paraná é o Estado mais monitorado do País. Durante a temporada existiam 52 locais de coleta nas praias e quatro em rios da região. Dos pontos de monitoração, quatro ficam em Pontal do Paraná, um na Ilha do Mel, cinco em Matinhos e cinco em Guaratuba. ?Não é possível que coletando amostras em apenas esses pontos alguém diga que toda a extensão das praias está comprometida?, questiona Jaime Luiz Cousseau, presidente da Associação Comercial e Industrial de Pontal do Paraná. ?É preciso que se faça mais medições, em zonas que não tenham saída de esgoto, para que estas sejam divulgadas para o banhista?, diz Lense.
Obras das redes de esgoto estão paralisadas
Foto: Fábio Alexandre/O Estado |
Partes de isopor no esgoto. |
Apesar da poluição, a costa paranaense tem a melhor sinalização para banhistas. O Paraná é o único que, além da sinalização por placas, mantém técnicos do IAP na areia durante a temporada para orientar a população. Em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, placas ou bandeiras indicam se o local é próprio ou não para banho. No Rio de Janeiro, os dados são divulgados apenas no site da Secretaria do Meio Ambiente do estado.
O empresário João D?Aviz, de Matinhos, explica que associações de comerciantes da região realizaram durante 2006 cinco encontros com a Sema e com o IAP para mudar a maneira com que os dados serão divulgados nesse verão e também estudar maneiras eficazes para enfrentar o problema. ?Não queremos que se omita os pontos que estão poluídos. Mas também é preciso dizer onde está próprio para banho?, diz.
Saneamento
Para tentar minimizar o problema com a balneabilidade, o governo estadual juntamente com prefeituras prometeram, em fevereiro, que até o fim de julho novas estações de tratamento de esgoto da Sanepar, dentro do programa de saneamento ambiental do órgão, o Paranasan, em Matinhos e Pontal do Paraná, seriam inauguradas. Isso possibilitaria que 41% da população de Matinhos e 16% em Pontal fossem atendidas pela rede coletora. Na época, Pontal não tinha rede de esgoto e Matinhos atendia apenas 33% das residências. Em Guaratuba, que recebeu uma estação de tratamento em dezembro, 46% das casas são atendidas pela coleta do esgoto.
Mas quando cerca de 90% das obras estavam concluídas, um impasse na Justiça entre a empreiteira que realizava o serviço e a Sanepar adiou a expectativa da melhora na qualidade da água para os banhistas. As obras de ampliação da rede de tratamento e coleta de esgoto estão paralisadas há sete meses em Guaraqueçaba, Matinhos, Morretes e Pontal do Paraná, onde eram realizadas desde 2002. Apenas em Guaratuba os serviços foram completados. Mas por lá, o problema é outro. O presidente da Associação Comercial da cidade revela que das 1.710 ligações de esgoto disponibilizadas à população, apenas 901 dos proprietários fizeram a obra.
?Mas mesmo que todas as pessoas que possuem a rede à disposição realizem a adesão, o número de não-atendidos permanecerá alto?, diz o diretor do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Eduardo Marone. ?Enquanto não houver 100% de esgoto, a poluição continuará grande onde este esgoto é despejado.? Para tentar solucionar o problema representado por quem não tem acesso à rede, as prefeituras prometem rigor na fiscalização e adequação de cada residência ao modelo correto de fossa séptica.