Apesar de parecer mais perigosa para os ciclistas, a região central de Curitiba não é a que apresenta mais riscos para quem utiliza a bicicleta como meio de transporte. De acordo com informações do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), a maioria dos acidentes envolvendo bicicletas acontece nos bairros mais afastados do centro. Boqueirão, Cidade Industrial, Sítio Cercado, Cajuru, Uberaba, Portão e Bairro Alto são alguns dos bairros citados pelo comandante do BPTran, o coronel Loemir Matos de Souza, como locais de incidências desse tipo de ocorrência.
Para ele, a explicação para os acidentes acontecerem em maior quantidade nos bairros afastados seria a inexistência de ciclovias ou ciclofaixas nesses locais. “‘Muitas ocorrências com ciclistas acontecem em esquinas, mas nessas regiões é por falta de ciclovias mesmo”, comenta. Ele ainda admite que outros fatores, como falta de iluminação ou de sinalização, podem contribuir para que ainda mais acidentes ocorram.
Segundo o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o município tem apenas 120 quilômetros de ciclovias, enquanto o Plano Diretor Cicloviário, documento elaborado no ano de 2009, prevê que número ideal para atender os ciclistas curitibanos seria uma malha de 400 quilômetros. Apesar da necessidade de aumentar o número de ciclovias e ciclofaixas em mais de três vezes, o órgão não tem previsão de quando a cidade deve atingir o total previsto, pois a implantação de vias exclusivas para ciclistas depende da execução de obras de revitalização de ruas e avenidas da capital paranaense.
Ciclofaixas
Neste ano, a malha deve ser ampliada somente em 18 quilômetros, com as obras das ruas Fredolin Wolf, Toaldo Túlio, Eduardo Pinto da Rocha e Marechal Floriano – somente nesta última haverá implantação de ciclofaixas, as outras terão ciclovias. Com essas intervenções, os bairros contemplados serão Pilarzinho, São João, Santa Felicidade, Orleans, São Brás, Umbará, Alto Boqueirão, Boqueirão e Xaxim. Para 2012, a principal obra prevista é a de implantação de dez quilômetros de ciclofaixas na Avenida Comendador Franco (das Torres).Site indica rotas mais seguras
Site indica rotas mais seguras
A preocupação com sua segurança e dos demais ciclistas da capital serviu de inspiração para o analista de sistemas Ezias Vieira, que utiliza quase diariamente sua bicicleta como meio de transporte para ir de sua casa, no Fazendinha, ao trabalho, no Padro Velho. Desde o ano passado, ele administra o site Ciclovias de Curitiba (www.cicloviasdecuritiba.com.br), que serve para consultar o mapeamento das ciclovias da cidade. “A ideia é oferecer um serviço a quem utiliza a bicicleta como meio de transporte para que cada ciclista possa indicar seu ponto de partida e seu destino, traçando uma rota segura”, explica.
Para ele, além da pequena malha cicloviária, outro problema que os ciclistas enfrentam diariamente é o preconceito dos motoristas. “Muita gente ainda acha que bicicleta não é meio de transporte. A maior prova disso é que não existem ciclovias em vias principais, apenas em vias secundárias, ligando os parques uns aos outros. Então, o ciclista tem que se arriscar e trafegar no meio dos outros veículos, correndo riscos”, comenta.
Conceito
Já o secretário da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (Cicloiguaçu) e integrante do movimento Bicicletada, Luis Claudio Brito Patrício, acredita que as ciclovias não são a solução definitiva para o problema. “O ideal seria adotarmos o conceito de ‘traffic calming’, pensando em alternativas para que todas as vias permitam a utilização da bicicleta, com planejamento a longo prazo. Seria ótimo termos vias com velocidade reduzida ou com volume menor de carros, mas em Curitiba, com a criação dos binários, acontece o processo inverso”, opina. Para ele, a cidade tem que ser “mai,s amigável com as bicicletas”, apesar de apenas 5% da população usar esse meio de transporte. (ACB)
Redução dos acidentes é contestada
Apesar da constante preocupação dos ciclistas, o número de acidentes envolvendo bicicletas tem diminuído em Curitiba. Dados do BPTran apontam que, houve uma redução de 56% no primeiro semestre de 2011, em comparação com o mesmo período de 2010. No ano passado, foram registrados 148 acidentes nos primeiros seis meses do ano, número que caiu para 64 neste ano. Nos períodos analisados, também houve diminuição na quantidade de feridos – de 138 para 63 – e óbitos no local – de sete para zero.
No entanto, Patrício contesta os dados do BPTran. Segundo o secretário do Cicloiguaçu, “quaisquer balanços seriam imprecisos, pois menos de 10% dos ciclistas registram as ocorrências”. Para ele, isso acontece porque motoristas envolvidos nesse tipo de acidente “não têm necessidade de ligar para a polícia porque não há danos e, portanto, não recebem benefício de seguro”.
Além disso, ele aponta outro fator que influencia as estatísticas. “O próprio ciclista fica muito abalado com o acidente e, como as pessoas normalmente têm uma postura de ajudar ou consertar a bicicleta, eles não registram. Mas é preciso que eles tenham consciência de que precisam fazer o registro para entrar nas estatísticas, pois só assim podemos cobrar políticas públicas”.
Para evitar que os acidentes com ciclistas aconteçam, Matos de Souza dá algumas dicas. “É preciso usar os equipamentos de proteção, andar pelo lado direito da via e obedecer às normas de circulação, como o respeito aos semáforos e às preferenciais. Além disso, utilizar aquela velha regra que diz que deve-se ver e ser visto, ainda mais porque a bicicleta é um veículo pequeno, que pode acabar ficando em pontos cegos”, sugere.