Foto: Arquivo/O Estado |
A estação de Almirante Tamandaré, quase destruída pelo tempo… continua após a publicidade |
Partida: Rodoferroviária de Curitiba. Destino: Rio Branco do Sul. Esse trajeto, de 42 quilômetros, poderia ser feito de diversas formas. Mas Gerson Klaina, Marcos Rodinei Becher e Valtinei Gomes de Souza acharam uma maneira inusitada – e também muito cansativa – para chegar aonde pretendiam. Eles saíram de Curitiba rumo à Região Metropolitana seguindo a linha do trem a pé. A caminhada ?Apépelotrilho?, um verdadeiro desafio, foi cumprida depois de dez horas.
A linha do trem até Rio Branco do Sul antigamente era usada para o transporte de passageiros. Hoje, o uso é das empresas de cimento e cal, importantes negócios da região. Os trilhos saem da Rodoferroviária e passam por diversos bairros de Curitiba: Cristo Rei, Alto da XV, Hugo Lange, Cabral, Bacacheri, Boa Vista, São Lourenço, Santa Efigênia, Barreirinha e Cachoeira. Depois, a estrada de ferro corta Almirante Tamandaré e Itaperuçu, até chegar a Rio Branco do Sul.
A Estação do Estribo Ahu: uma marca da história do bairro. |
Ao longo dos exatos 41.800 metros de caminhada, foi possível acompanhar os contrastes dentro de Curitiba e dos municípios da Região Metropolitana. É uma maneira de conferir a distribuição de renda e a evolução das cidades. Segundo Klaina, a partir do Hugo Lange, a paisagem vai mudando. Quanto mais se anda, mais o nível social vai abaixando. Quando o limite entre Curitiba e Almirante Tamandaré é alcançado, aparecem as chácaras, o que aumenta o nível social. Mas logo em seguida ele vai caindo novamente. ?Dá para ver a divisão clara da cidade. É uma coisa muito interessante ver o nível social, partindo da população rica até chegar na mais carente?, comenta.
Durante o trajeto, o grupo também observou áreas de mata nativa, que formavam uma bela paisagem. Em alguns pontos, a estrada de ferro está bem cuidada. Mas, em outros, a situação é bem diferente. Ainda mais quando se fala sobre o lixo. Os trilhos viraram um verdadeiro depósito de resíduos. E isso é mais acentuado nas áreas onde circulam muitas pessoas. Mas há trechos em que a beleza natural se sobressai.
Quando não há morador ao lado, tudo bem limpo. |
O grupo se deparou com diversas situações do cotidiano dessa região, mas que ao mesmo tempo são inusitadas. ?Em um trecho, o trem passa praticamente no meio de duas casas. As pessoas convivem com o trem normalmente. Faz parte do dia-a-dia deles. As crianças brincam perto dos trilhos. Já estão acostumadas com o trem?, relata Klaina. Durante todo o trajeto, ele e seus companheiros encontraram moradores da região. A receptividade foi tão grande que os três aventureiros conseguiram água com facilidade e ainda receberam convite para almoçar. Essa é uma das partes mais gratificantes da ?viagem?, segundo Souza. E o grupo teve a sua parcela de contribuição para isso. Cumprimentou todos que viam, sem exceção. Até mesmo o maquinista do trem.
A circulação de pessoas nas margens dos trilhos é muito intensa em algumas partes do trajeto. De Cachoeira até Almirante Tamandaré, o caminho é muito usado pelos moradores por sua facilidade de acesso. Eles cortam caminho quando seguem os trilhos. Klaina garante que os maquinistas buzinaram com antecedência para alertar as pessoas que circulavam pelas margens da estrada de ferro. A velocidade dos trens não é alta nesse trecho.
O encontro com o trem: um breve apito de bom-dia. |
A experiência foi gratificante, mas teve um ônus: o esforço físico. O grupo planejava cumprir o trajeto em oito horas. Mas o cansaço foi grande e o tempo aumentou para dez horas. ?Foi muito puxado. Fomos em um ritmo forte até a Cachoeira, mas depois não teve jeito. A partir de Itaperuçu, então, não teve como seguir em um ritmo bom. Foi muito difícil cumprir a etapa final?, relembra Souza. Apesar disso, a aventura valeu a pena. ?Ficou o sentimento de dever cumprido. De que é difícil, mas você vê que é capaz. Além disso, não tem foto, não tem imagem, que registre tudo o que nós passamos?, garante Klaina.
A única frustração foi não conseguir chegar até a entrada de Rio Branco do Sul, onde existe um portal com o final da linha do trem. Antes disso, a estrada de ferro pára em uma empresa de cimento, que utiliza os trilhos para transportar a carga. Mas isso não foi nada perante as lembranças que vão ficar do ?Apépelotrilho?.