?Senhor presidente, sugiro alterar a palavra ?regulamentar? pela ?normatizar? no segundo parágrafo da página três do documento UNEP/CBD/COP/8/ WG.2/CRP.4?. É dessa maneira que se conduzem a maioria das discussões que estão ocorrendo durante a 8.ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8).
Quem esperava grandes decisões e algumas surpresas durante a conferência, já apresenta um ar de frustração nos corredores do ExpoTrade. Até agora, a decisão mais comentada e comemorada foi a de manter uma determinação da COP6, de quatro anos atrás, quando se optou pela moratória às sementes terminator. ?Para nós, qualquer vírgula que se avance no texto já é uma grande conquista?, havia alertado Cristina Azevedo, uma das delegadas brasileiras na COP8, em palestra proferida aos jornalistas, em fevereiro.
Para Cristina Mittermeier, diretora da liga e conselheira da Conservação Internacional (CI), é preciso ?menos palestra e mais participação?. ?A discussão é importante, mas acredito que não só o debate, mas também meios práticos de conservação já deveriam estar mais difundidos entre a sociedade?.
Para discutir essa ?inércia? da conferência, bem como os interesses econômicos e as relações de poder por trás das negociações, o Instituto Socioambiental (ISA) está promovendo, desde ontem, um evento paralelo, o Coptrix. Em alusão ao filme de ficção Matrix, o evento tenta mostrar que as discussões da Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB) estão fora da realidade.
Até a noite de hoje, pesquisadores, representantes de organizações da sociedade civil e de populações tradicionais (como os índios) de diversos países reúnem-se em mesas-redondas para discutir a real importância da CDB em meio a tantos outros tratados e convenções comerciais ou sobre propriedade intelectual. ?Não adianta a CDB tentar avançar nas discussões sobre acesso a recursos genéticos ou repartição de benefícios, se isso vai contra ao interesse do capitalismo. Quem vai querer dividir seus lucros? Vive-se um impasse entre os países detentores da megadiversidade e dos conhecimentos tradicionais e os detentores das patentes e das tecnologias?, argumentou o advogado do ISA, Fernando Mathias, um dos idealizadores do Coptrix. ?As plenárias daqui não passam de um teatro, em que os delegados dos países tentam vender a idéia de que há avanços. É um jogo de cena, com pouca eficácia?, acrescentou.
Para o advogado, o fato de a COP trabalhar apenas com o consenso é um dos fatores determinantes para os poucos avanços. ?Isso deixa os países em posição confortável. Eles sabem que é só um deles se posicionar contra alguma medida que ela é bloqueada. Além disso, há países que sofrem pressões, que muitas vezes exploram questões comerciais, para manterem ou mudarem suas posições?, concluiu.