Hoje, quem pode afirmar que alguém tem aids apenas pela aparência? Ninguém. Ainda pode vir à cabeça a imagem do personagem Andrew Backett, interpretado por Tom Hanks, no filme Philadelphia (1993): uma pessoa com feridas pelo rosto e pelo corpo, muito magra e homossexual. Mas, além de não existir mais grupos de risco, as pessoas infectadas pelo vírus HIV e que desenvolveram a doença conseguem qualidade de vida e uma sobrevida muito maiores em relação à década de 1980, quando a aids foi descoberta. Tudo isso graças ao avanço tecnológico dos medicamentos e tratamentos.

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Assim, a aids não está visível e pode causar a sensação de distanciamento – quando a realidade é exatamente o contrário. “A aids não é a mesma da década de 1980. Com a terapia Haart (coquetel de medicamentos), passa a aparecer o portador sadio. As pessoas não percebem que a outra tem a doença e começam a esquecer do HIV. A sobrevida é grande hoje, mas isso não é um padrão 100%. E os índices de contaminação se mantêm”, comenta Ciane Mackert, médica infectologista e referência em genotipagem para HIV pelo Ministério da Saúde. Ela também atua no programa sobre aids em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

O Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids aponta que, de 1980 a junho de 2007, foram notificados 474.273 casos no Brasil. O País tem uma epidemia concentrada, conforme classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), com taxa de prevalência da infecção pelo HIV de 0,6% na população entre 15 a 49 anos. Estima-se que são 33 milhões de pessoas com HIV no mundo. No Paraná, são 20 mil casos de aids confirmados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Mas, para cada pessoa detectada, especula-se que outras cinco também estejam contaminadas. Ou seja, a população com HIV pode saltar para 100 mil. Dessas, 20 mil provavelmente não sabem que têm o vírus. “Além da contaminação entre as mulheres, tem aumentado também a infecção na terceira idade”, declara Francisco Carlos dos Santos, coordenador da Divisão de Controle de DST/Aids da Sesa.

“Eu tenho HIV”

“Quando eu descobri, achei que ia morrer no dia seguinte. Eu nunca achei que ia acontecer comigo.” Este foi o depoimento em comum feito por Eliane, José Aparecido e Duda, três pessoas que possuem o vírus HIV e moram na Casa de Apoio Solar do Girassol, da Instituição Solidária pela Vida -Sovida, em Curitiba. Eliane não desenvolveu aids, mas José Aparecido e Duda sim. Todos descobriram o vírus quando foram até o hospital para tratar outras doenças. Após a descoberta, veio a depressão e a incompreensão da família e da comunidade. “Eu sou de uma cidade pequena, onde tem muito preconceito. Vim para cá para fazer tratamento e recebi apoio psicológico. Você cria o hábito de tomar a medicação e se cuidar. Hoje, vivo bem”, conta Eliane. “Sofri muito preconceito da minha família no início. Eles separavam talheres, pratos. Um dia, cortei meu cabelo em casa e jogaram a tesoura no lixo. Hoje a relação é muito melhor”, comenta José Aparecido. “Tem que se cuidar mesmo. Tem que pensar ‘a minha vida é a coisa mais importante que eu tenho'”, alerta Duda. A Sovida cuida de pessoas carentes com aids, oferecendo moradia, alimentação, vestuário e atenção, baseado em um trabalho de resgate da auto-estima e da cidadania. A casa está passando por reformas e, quando as obras estiverem concluídas, vai oferecer 28 leitos.

Fique sabendo

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Qualquer pessoa que se expôs a uma situação de risco deve fazer o teste que detecta o HIV. Quanto mais cedo o diagnóstico, mais facilidade para o tratamento e menor a evolução do vírus e da doença. Recentemente, o ,Ministério da Saúde lançou a mobilização “Fique Sabendo”, com atuação no Paraná pela da Secretaria de Estado da Saúde, para incentivar a população a fazer o teste rápido e gratuito. Em três semanas de campanha foram feitos no Estado 11.700 testes e 70 deram positivo. O exame é simples: tira-se uma gota de sangue, que é colocada em reagentes. Em 30 minutos, sai o resultado, 100% seguro. “Quem faz o teste convencional, que é enviado para análise em laboratório, muitas vezes não pega o resultado. Com o teste rápido, já é possível dar o encaminhamento correto e quebrar a cadeia de transmissão”, afirma a médica infectologista Ciane Mackert. A mobilização do Ministério da Saúde foi prorrogada até o final do ano. Em Curitiba, o Centro de Orientação e Aconselhamento (COA), vinculado à Secretaria Municipal de Saúde, é um dos locais que disponibiliza o teste. O endereço é Rua do Rosário, 144, Centro.

Tire suas dúvidas!

O que é HIV?

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É o vírus da Imunodeficiência Humana, causador da aids. Quando uma pessoa é infectada com HIV, o vírus pode ficar no corpo dela sem se manifestar por anos, ou seja, a pessoa não apresenta qualquer sintoma.

Atenção!

Ter HIV não significa ter aids. Muitas pessoas convivem com o vírus durante anos sem desenvolver a doença, mas podem transmitir o HIV para outros.

Formas de contágio

As principais situações de risco são a relação sexual desprotegida (vaginal, anal e oral) e o uso compartilhado de seringas e agulhas não descartáveis. Também acontece a contaminação de mãe para filho e nos casos de transfusão de sangue infectado. Não existe mais grupo de risco. Qualquer pessoa que não se cuidar pode ser contaminada.

Atenção!

O HIV não é transmitido por beijo, toque, abraço, aperto de mão, toalhas, talheres, pratos, suor ou lágrima.

Como se prevenir?

Usando camisinha em todas as relações sexuais e seringas descartáveis. As grávidas devem passar pelo Pré-natal, quando são obrigadas a fazer o teste que detecta o vírus.

O que é aids?

É uma doença causada pelo HIV. O nome é a sigla, em inglês, para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. O HIV passa a atuar no interior das células do sistema imunológico e prejudica a defesa do organismo. Assim, a pessoa contaminada fica vulnerável a outras infecções e enfermidades, chamadas de doenças oportunistas. Ninguém morre de aids, e sim das complicações de doenças oportunistas instaladas.

Fonte: www.aids.gov.br