Alunos do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e da Faculdade Evangélica participaram ontem de um evento de telepatologia inédito na América Latina: uma discussão anátomo-clínica a partir da realização de uma autópsia ao vivo. A videoconferência, centralizada no Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, foi transmitida em tempo real para Curitiba, além de universidades de Recife, Fortaleza e a própria USP. No Paraná, o evento reuniu uma dezena de alunos na Associação Médica do Paraná: um número baixo, mas que não desanimou o médico Gerson Zafalon Martins, re-presentante do Conselho Federal de Medicina no Paraná, que participou da videoconferência.
“A gente tem que ver como atrair os alunos, talvez através dos diretórios acadêmicos. Mas o debate que aconteceu logo depois da demonstração da autópsia foi muito positivo”, avaliou, acrescentando que a interação entre quem está produzindo e quem está assistindo é o mais importante em uma videoconferência. “A discussão acontece em tempo real, e os alunos têm a oportunidade de fazer perguntas”, explicou. Para ele, a telemedicina é uma tendência a médio prazo. “É uma oportunidade de ajudar um colega médico do interior, de regiões mais distantes, que não têm acesso a tantas informações.”
Autópsia
A videoconferência, que durou aproximadamente três horas, teve início com a apresentação real de caso: um senhor de 68 anos, negro, casado, foi internado no pronto-socorro atendido pela Faculdade de Medicina da USP no último dia 24, com baixo nível de consciência. Morreu na noite de domingo. Antes do início da autópsia, a questão levantada foi: qual seria a suposta causa da morte do paciente? Segundo o professor Paulo Hilário Nascimento Saldiva, da USP, o paciente apresentava hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, fibrilação arterial, fumava pelo menos um maço de cigarro há mais de dez anos, tinha úlcera péptica e havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral (AVC ou derrame) há cerca de um ano. Foram levantadas algumas hipóteses pelos participantes, como novo AVC, neoplasia gástrica ou alguma neoplasia oculta.
Depois de verificadas alguns exames, como a radiografia do pulmão, deu-se início à autópsia, com a abertura do crânio, retirada do cérebro e análise do mesmo. Tudo em tempo real. Foram retirados órgãos vitais como o coração, pulmões, fígado, onde foram verificadas algumas alterações de tamanhos, formas e superfície. Os pulmões eram os mais prejudicados, com bolhas de ar, manchas – decorrentes da nicotina contida no cigarro -, trombose. A causa da morte foi doença pulmonar obstrutiva crônica, concluíram os médicos.
“A telepatologia permite que se veja se o diagnóstico foi correto, os exames, o tratamento. No caso do paciente em questão, foram tomadas todas as medidas cabíveis; ele ia morrer mesmo”, comentou o médico Gerson Zafalon. Segundo ele, nova videoconferência deve acontecer no dia 12 de agosto.