A saga das obras de mobilidade na Avenida das Torres e na Avenida das Américas, em São José dos Pinhais, não atinge apenas quem trafega por lá, mas principalmente quem vive e trabalha no município. Para eles, o descumprimento de prazos não representa apenas mais um item a envergonhar toda a história da preparação da Grande Curitiba para a Copa do Mundo. Impacta desde o sustento da família até a preservação de espaço sagrados para a comunidade que vive no entorno.

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A comerciante Maria Kátia Pereira Simão, que herdou do pai a oficina MS Auto Center, desde agosto está vivendo de “bicos” porque os clientes não conseguem chegar à oficina, devido à buraqueira aberta pelas obras da trincheira. “Meu filho mais velho, de 15 anos, começou a trabalhar em uma lanchonete, porque estamos sem condições de suprir as necessidades básicas da família. Tentei manter aberta a oficina por um mês, e fiquei devendo para os funcionários que, por sorte, entenderam a situação”, relata.

Gerson Klaina
Rua Arlindo Costa, sob a Av. das Torres: bastante trabalho pela frente.

Maria tem duas crianças pequenas e, para garantir alguma renda, está trabalhando como costureira no bairro Boqueirão. Ela conta que a história se repete entre os vizinhos. “Tem gente que dependia do aluguel das lojas para tratar da saúde e precisou fazer empréstimo no banco”. Quanto a uma eventual indenização, ela explica que nem a prefeitura nem a empresa responsável pela obra se prontificaram a auxiliar em nada. “Além de prejudicar os ganhos de todos, ainda tivemos outros prejuízos. Em dezembro, a máquina perfurou o esgoto, e o cimentou estragou tudo. O muro da minha loja veio abaixo com a movimentação, e também não recebi nada até agora”, relata.

Paróquia

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Em uma das trincheiras da Avenida das Torres, na rua Arapongas, a Tribuna noticiou algumas vezes a mobilização da comunidades devido ao impacto da obra, principalmente, na Paróquia São Cristóvão. “Infelizmente tudo que apontamos está acontecendo. Começou com os prejuízos para a estrutura da nossa igreja, onde o forro cedeu”, conta a moradora Elzi Aparecida Teixeira, que em junho do ano passado apontou os problemas para o Caçadores de Notícias.

Gerson Klaina
Na Rua Arapongas, obra deve continuar após o início do Mundial.

Segundo ela, as missas estão sendo realizadas no salão paroquial e não há quem responda pelo prejuízo. “A nossa paróquia existe antes da Avenida das Torres”, ressalta. Ela reclama que além da falta de perspectiva de arranjar um novo lugar para a igreja, que dá sinais de comprometimento na estrutura, ainda os moradores terão que conviver com uma obra inacabada. “Em dois quilômetros de avenida, abriram quatro trincheiras, mas o foco foi apenas começar as obras, sem a preocupação de acabar. A nossa rua, ao que tudo indica, vai ficar assim (sem a abertura da parte de baixo) por um bom tempo”, lamenta.

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Prazo mantido

Procurada pela reportagem, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) informou que até amanhã deve anunciar quais obras de mobilidade serão concluídas até a Copa e as que ficarão pendentes. Segundo a assessoria de imprensa do governo do estado, o prazo para conclusão de todas as obras está mantido para o dia 31 de março.

Gerson Klaina
Elzi: “Prejuízos pra igreja”.

A prefeitura de São José dos Pinhais reconhece que algumas trincheiras podem não estar concluídas até o início da Copa do Mundo, no mês que vem. A situação mais crítica está justamente na trincheira da Rua Arapongas, onde fica a Paróquia São Cristóvão.Também avisa que não será possível pagar qualquer indenização aos comerciantes que se dizem prejudicados pelas obras.