Atores humanizam hospital infantil

A alegria cura. A afirmação pode não ter embasamento científico, mas é uma constatação que traz excelentes resultados na recuperação de pacientes, principalmente se esses forem crianças. E é com esse princípio que trabalham atores dentro do programa Doutores da Alegria, que visa levar alegria a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de saúde.

A idéia dos Doutores da Alegria foi baseada em uma experiência dos EUA que o ator e “besteirologista” Wellington Nogueira trouxe há onze anos. Ela visa o uso de recursos como a mágica, malabarismo e música na recuperação dos pacientes. A iniciativa deu tão certo que hoje o projeto faz parte da rotina de vários hospitais no Brasil. O diretor executivo do Instituto da Criança do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Paulo Roberto Pereira afirmou que desde 96 os palhaços já fazem parte da equipe multidisciplinar do hospital.

“Temos os médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, auxiliares e os palhaços, que além de trabalhar com as crianças internadas, provocaram uma mudança comportamental no profissionais que atuam no hospital”, revelou. O ambiente que antes era sério, segundo Pereira, agora ficou mais leve por iniciativas dos próprios funcionários, que resolveram pintar as paredes ou se relacionar melhor com os colegas. “Os palhaços fazem o trabalho com as crianças, mas os efeitos colaterais se estenderam a outros setores”, avaliou o diretor.

Trabalho

A equipe dos Doutores da Alegria é formada hoje por 29 artistas que atuam em nove hospitais de São Paulo e do Rio, mas a idéia é ampliar o trabalho. Só neste ano 240 mil crianças foram visitadas pelos palhaços. Wellington acrescenta que existem 251 grupos no País que fazem um trabalho semelhante, “e o objetivo é criar uma rede de cooperação para repassar os conhecimentos, principalmente da ética e qualidade do trabalho para o público para que se destina”.

Os atores dos projeto tem suporte técnico de uma psicóloga, já que o trabalho é diferente para cada situação. “Leva no mínimo um ano para o artista entender o papel dele no hospital”, explica Wellington, acrescentando que a maior dificuldade do trabalho é resgatar a cultura do palhaço. A proposta é difundir a atividade como uma profissão que tem um papel muito importante na sociedade. Sobre os resultados desse trabalho o diretor do Instituto da Criança e o ator concordam em dizer que não é possível fazer uma análise quantitativa, “pois em uma combinação de internação, dosagem de medicamentos e dor não é possível conseguir números, pois são situações e pessoas diferentes”, afirma Nogueira.

Já em uma análise qualitativa, concordam os profissionais, os resultados são visíveis no comportamento e resgate de forças das crianças internadas, bem como de seus familiares. “Mas nós não queremos ser incluídos nos planos de saúde”, brinca o ator. Ele acrescenta que os resultados da iniciativa também estão ligados à transformação do ator, e comenta que aprendeu com as crianças a valorizar mais a vida, acreditar mais nas pessoas e não criar obstáculos, “pois a alegria é uma forma de comunicação entre as pessoas”.

Instituições trocam experiências

Rosângela Oliveira

As experiências dos Doutores da Alegria, bem como os trabalhos de atendimento humanizado no Instituto da Criança de São Paulo, foram apresentadas ontem aos funcionários do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. O objetivo era despertar a reflexão dos colaboradores sobre a contribuição que podem dar ao programa de humanização no atendimento dentro do hospital.

A coordenadora de relações institucionais do Pequeno Príncipe, Etty Forte Carneiro, disse que a iniciativa era a troca de experiências entre os profissionais para melhorar o atendimento na instituição. Segundo ela, vários programas são destaque dentro do hospital, como o Família Participante, que ganhou o Prêmio Criança 2002, da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança. Além dele, existem a Casa de Apoio e Biblioteca Ativa, no qual funcionários do hospital se transformam em mediadores de leitura.

O hospital atende cerca de 750 crianças por dia, com cerca de 21 mil internamentos e 11 mil cirurgias por ano. Ele é referência no tratamento pediátrico de alta complexidade, sendo que 75% dos atendimentos são realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo