Segundo dados do Ministério da Saúde (MS) o câncer é a terceira causa de morte entre as crianças brasileiras com menos de 15 anos. Por outro lado, o índice de cura da doença atinge 70%, se o diagnóstico for feito precocemente. E como forma de sensibilizar a sociedade para a identificação do câncer nestes pacientes, uma série de atividades serão desenvolvidas hoje, em todo o país, para marcar o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infanto-Juvenil.
A data, que foi criada no Paraná em 2005, a partir deste ano se torna nacional, aumentando a possibilidade de conscientizar uma parcela maior da sociedade para o problema tão grave. De acordo com o oncologista pediátrico, Lisandro Lima Ribeiro, em países em desenvolvimento o câncer já é a segunda principal causa de mortes entre crianças. Segundo ele, existem vários tipos de câncer infantil. Os casos mais freqüentes são as leucemias.
O câncer diagnosticado nas crianças tem um comportamento biológico diferente, assim como também são diferenciadas a evolução clínica e a resposta ao tratamento. ?O câncer no adulto tem um desenvolvimento mais lento, ao contrário do que acontece nas crianças, que é mais rápido. Por isso a necessidade do diagnóstico precoce, para melhores resultados no tratamento?, comentou.
No caso das crianças não existe prevenção e, muitas vezes, os sinais são inexpressivos. Em apenas 10% dos casos, o câncer tem fundo genético ou causas estabelecidas. Por isso, destaca o oncologista, os pediatras têm uma papel importante no processo de identificação da doença.
O médico destacou ainda que os pais também precisam ficar atentos ao desenvolvimento e crescimento geral da criança. Entre os sintomas de alerta do câncer estão febre que não cessa, palidez cutânea, presença de glânglios aumentados na região cervical, aparecimento de tumores palpáveis na região do abdômen, aumento do volume das pernas e dores ósseas.
O oncologista comentou que um dos tipos de câncer, a retinoblastona – tumor que atinge os olhos das crianças – pode ser diagnosticado antes mesmo da criança completar um ano de idade. Para isso, basta tirar uma foto dos olhos da criança, e se ao invés de vermelho com o reflexo do flash do equipamento o olho ficar esbranquiçado, é necessário investigar mais detalhadamente. ?Se o diagnóstico for precoce, as chances de cura chegam a 95%. Por isso é muito importante a conscientização de todos sobre a doença?, afirmou.
Apacn realiza muitos tratamentos
Fotos: Lucimar do Carmo/O Estado |
Loirini Maria Rubert e a filha, de Quedas do Iguaçu, vieram realizar o tratamento em Curitiba. |
Apesar dos altos índices de cura do câncer infantil, muitas crianças acabam não tendo acesso ao tratamento por falta de condições financeiras. Para atender a essa parcela da população foi criada há 23 anos, em Curitiba, a Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia (Apacn). Além de dar abrigo às crianças e familiares durante o tempo necessário para o tratamento, a entidade também mantém o Centro de Genética e Pesquisa do Câncer em Crianças e o Ambulatório Menino Jesus de Praga, que atende diariamente pacientes em tratamento. Todos esses serviços são feitos de forma gratuita.
Uma média de 30 a 40 crianças ficam na casa de apoio mensalmente, juntamente com os pais ou responsáveis. A permanência na casa é de pelo menos dois anos para o tratamento, mas muitos voltam ao longo dos anos para acompanhamento da doença. Já no ambulatório, a média de atendimento diário é de 70 pacientes.
Mariza Claro: ?Voluntários?. |
De acordo com a presidente da associação, Mariza Del Claro, a instituição recebe pessoas de todo o Brasil e oferece, além do tratamento, hospedagem, alimentação, assistência psicológica e pedagógica. ?Cerca de 250 voluntários das mais diferentes áreas profissionais, como psicólogos, dentistas, musicoterapeutas, assistentes sociais, além de pessoas da comunidade, trabalham conosco?, disse Mariza.
Uma das voluntárias mais antigas da Apacn, Leonor Gaspar, conta que há 18 anos resolveu ajudar a casa e hoje garante que ela é quem recebe ajuda. ?No começo vim porque fiquei sabendo que precisavam de voluntários. Hoje, com a minha idade, sou eu que mais recebo ajuda e apoio, pois não tem o que pague a satisfação de estar aqui?, disse.
Leonor: ?Satisfação em ajudar?. |
Na casa de apoio, as crianças realizam uma série de atividades quando não estão no tratamento. Já os pais também trabalham para a manutenção do local. É uma forma de integrar a rotina. É o caso de Loirini Maria Rubert, de Quedas do Iguaçu, e que está há mais de dois anos em Curitiba acompanhando o tratamento da filha que tem leucemia. ?Eu deixei tudo para trás para cuidar dela. Se não tivesse a casa, não teria condições?, falou. Situação semelhante vive Gregório Constante, que desde agosto de 2002 veio de Navegantes (SC) para tratar os três filhos que têm câncer.
Gregório é de Navegantes (SC). |
E o convívio com outros pais também ajuda a enfrentar o problema. É o que conta Maria Antonia Conceição Alves, que veio do Maranhão há dois anos para acompanhar a neta Andreza, hoje com 11 anos. ?É muito difícil estar longe de casa, e a gente só pede a Deus que apareça um doador logo para ela poder se curar do câncer?, comentou.
Para manter todo o trabalho, a Apacn necessita mensalmente de R$ 75 mil, sendo que a totalidade desses recursos vem através de doações, bingos e outros eventos sociais. Parte do dinheiro a associação consegue com a venda de roupas e móveis doados pela comunidade.
Segundo Mariza, além dos recursos, eles precisam de muitos voluntários. Quem quiser conhecer o trabalho da Associação Paranaense de Apoio à Criança com Neoplasia (Apacn) pode visitar a entidade, que fica na Rua Oscar Scharapp Sênior, 250, a três quadras do Detran, no bairro Tarumã. O telefone é (41) 3024-7475.