Bendita água que gera a luta do povo por terra! Este é o lema da 18.º Romaria da Terra do Paraná, que este ano acontecerá na cidade de Guaíra, no próximo domingo, e deve reunir cerca de 30 mil pessoas. O bispo auxiliar da Arquidiocese de Curitiba, dom Ladislau Biernaski, explica que o objetivo é denunciar projetos hidrelétricos que trazem danos para o meio ambiente e para as famílias desapropriadas. Eles também defendem o uso racional da água e criticam a intenção de grandes empresas em comprar mananciais.

Guaíra é a cidade das extintas Sete Quedas, que foram submersas em 1982 para formar o lago de Iaipu. Na época, várias famílias foram desalojadas e algumas não receberam indenização ou os valores eram muito baixos, impossibilitando a aquisição de outro pedaço de terra. Parte deles foi tentar a vida nos grandes centros e outros integram o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). A situação se repetiu pelo resto do País e dados do Movimento Atingidos por Barragem (MAB) apontam que 30 mil famílias brasileiras ainda não foram indenizadas.

Hoje e amanhã vai haver o encontro “Atingidos de Itaipu, 25 anos depois”, no município de Santa Helena, na região Oeste. Quando se formou o lago de 1.350 quilômetros quadrados houve várias manifestações e, aos poucos, as injustiças começaram a ser reparadas. O encontro quer lembrar e prevenir que situações parecidas continuem a ocorrer. Além disso, eles também vão falar sobre o uso racional da água e o interesse de grandes empresas em adquirir mananciais. “A água é patrimônio do povo”, afirma dom Ladislau.

O coordenador da Pastoral da Terra, padre Jaime Schnitz, fala que a partir de Itaipu os movimentos sociais se organizaram. Da luta das famílias atingidas pela criação do lago surgiu o Movimento Justiça e Terra, que posteriormente transformou-se no embrião do MST nacional. Ele lembra que a primeira invasão de terra no Estado foi em 1983 e eram famílias expulsas de suas terras devido à construção da barragem.

O movimento conseguiu impedir a construção de outras hidrelétricas e a população começou a ser consultada na hora de realizar as desapropriações. Dom Ladislau comenta que os maiores prejudicados com a construção das barragens são os agricultores, no entanto, no Brasil, 60% das casas da zona rural continuam não possuindo luz elétrica. “São contradições muito grandes”, critica. Hoje vão ser lançadas três obras sobre a desapropriação de Itaipu. O livro do jornalista Juvêncio Mazzarollo, A taipa da injustiça, em sua 2.ª edição ampliada; a tese de mestrado da professora Guiomar Inez Germani (UFBA): Expropriado. Terra e água: o conflito de Itaipu, e a tese de mestrado da professora Maria de Fátima B. Ribeiro (Unioeste): Memórias do concreto – Vozes na construção de Itaipu.

No dia 31 de agosto, a romaria começa às 7 horas da manhã e vários eventos ocorrem durante o dia. Entre eles, uma homenagem ao sem-terra Antônio Tavares, morto em 2000 em confronto com a polícia. Ele teve suas terras desapropriadas para a construção de Itaipu. A romaria é organizada pela CPT com apoio da Igreja Católica e Igreja Evangélica.

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