O corpo do trabalhador rural Francisco Nascimento de Souza, o Zebu, de 27 anos, pai de quatro filhos, morador do assentamento Nossa Senhora Aparecida, em Mariluz, a 80 km de Campo Mourão, foi encontrado por volta das 8h de ontem pelo vereador Cícero Luís dos Santos.

Segundo líderes locais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o trabalhador foi morto com um tiro na parte de trás da cabeça e o corpo apresentava sinais de tortura.

Francisco voltava de uma confraternização, anteontem à noite, na sede do município, pilotando uma moto pela estrada que liga o assentamento à cidade. A polícia levou o corpo para o Instituto Médico-Legal de Cruzeiro do Oeste e o sepultamento está sendo preparado para hoje.

O assentamento Nossa Senhora Aparecida, além de abrigar as famílias assentadas, abriga ainda outras 550 famílias acampadas que já estão cadastradas pelo Incra.

Tensão

O assassinato agrava o clima de tensão que toma conta do Paraná, apontado como um dos principais focos de conflito no campo. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a região é caracterizada historicamente pela ação de milícias privadas organizadas pelos fazendeiros. A entidade afirma que, em 134 ações de despejo durante o governo Jaime Lerner, dezesseis pessoas foram assassinadas, outras 31 sofreram atentados, 47 receberam ameaças de morte, sete foram vítimas de tortura, 324 ficaram feridas e 488 foram presas.

UDR renasce na Lapa

Os proprietários rurais da Lapa estão reestruturando a União Democrática Ruralista (UDR) no município e pretendem realizar um protesto, em Curitiba, ainda esta semana, contra a possibilidade de novas ocupações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O presidente do Sindicato Rural Patronal da Lapa, Pedro Cordeiro Mendes, contou que há quatro anos a Fazenda Contestado foi desapropriada e criado um assentamento no local. Há quatro meses aconteceu nova ocupação, desta vez na Fazenda Serrito.

“Existe um grupo indo para São Mateus do Sul que está acampado na localidade de Bonito, na BR-476”, revelou o ruralista. “Tememos que eles estejam se organizando para fazer novas ocupações.”

Araupel

As cerca de 3 mil famílias que ocupam a Fazenda Araupel, em Quedas do Iguaçu, há cerca de um mês, continuam no local. A promessa de que elas se deslocariam para outra área da fazenda ainda não foi cumprida. Os acampados aguardam o envio de lonas e alimentos ? acordo firmado com a ouvidora agrária nacional, Maria de Oliveira ?, para fazerem novo acampamento em outra região da fazenda, longe dos silos da Araupel.

“Hoje estamos devolvendo o milho e a soja que está nos silos para a Araupel”, disse um dos líderes locais do MST, Adélson Schwalemberg. “São cerca de 20 mil sacas, mas não queremos. Nossa luta é pela terra.” (Lawrence Manoel)

Petroleiros abrigam sem-teto

As quarenta famílias que ocupavam o prédio do antigo Banestado, no centro de Curitiba, deixaram o local no sábado e seguiram para a sede do Sindicato dos Petroleiros, no bairro do Uberaba. Os líderes do movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) esperam ser recebidos hoje pelo vice-governador do estado, Orlando Pessuti. Eles querem um local provisório para morar e um plano habitacional que caiba no orçamento das famílias. Novas ocupações não estão descartadas.

O prazo dado pelo governador para o movimento desocupar o local venceu às 18h de sábado, mas o grupo só conseguiu terminar o embarque da mudança às 22h, seguindo em sete caminhões e três ônibus para a Fazendinha. Lá ficariam alojados em uma casa cedida pela Paróquia Santa Amélia. Mas, segundo uma das líderes do MNLM, Carla Costa, o local era pequeno e a comunidade ficou com medo de ajudar devido ao aparato policial que acompanhava a mudança. Só à 1h de domingo é que as famílias encontraram abrigo, cedido pelo sindicato.

Como os móveis e eletrodomésticos não cabiam no local eles ficaram lacrados dentro dos caminhões no pátio da PM. Só puderam ser retirados colchões, panelas e mantimentos. No local há apenas dois banheiros e nenhum chuveiro. A mulher grávida que acompanhava o grupo deu à luz na madrugada de domingo.

Anselmo Schwertner, um dos líderes, diz que os sem-teto precisam achar logo outro local porque o sindicato emprestou a área por pouco tempo. (Elizangela Wroniski)

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