À frente da empreitada, está o artista plástico Carlus Lisboa, 45 anos. Natural de Brasília, ele escolheu Curitiba como casa e decidiu dar aos jovens da cidade a mesma chance que ganhou ainda na infância e o levou para o mundo das artes.
“Quando eu tinha 12 anos, minha mãe me levou para um centro cultural. Como os cursos eram gratuitos, eu fazia de tudo: escultura em madeira, pintura em tela, desenho, teatro, música… Foi isso que me livrou de um caminho duvidoso, me dando a estrutura intelectual e moral que me levou a um mundo cheio de perspectivas”, conta Carlus, que ganhou seu primeiro prêmio três anos depois.
Em 1990, Carlus decidiu trocar Brasília pelo Paraná. “Eu fiz uma pesquisa para saber em qual cidade eu poderia me adaptar melhor. Culturalmente, Curitiba era bem desenvolvida e por isso vim pra cá. Eu nem conhecia a cidade, vim quase no escuro. Cheguei aqui no inverno, com dois graus, sem casaco, jaqueta, nenhuma roupa de frio…”
Marco Andre Lima |
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Carlus: curso na infância livrou de caminho duvidoso e abriu perspectivas. Veja na galeria de fotos os artistas. |
O embrião do projeto social surgiu em 2001, quando Carlus já era conhecido pelas pinturas em alumínio retratando políticos, empresários e paisagens da capital paranaense. “Participei de um projeto com a professora Cenira Nogueira, que tinha duração de um ano. Quando acabou, as pessoas começaram a cobrar, querendo voltar, e decidimos criar um espaço permanente.”
Histórias recompensadoras
A casa no Bairro Alto logo começou a receber dezenas de interessados nas aulas de arte. O crescimento fez Carlus institucionalizar o projeto e criar, em 2008, o Instituto Ciranda das Artes. Hoje, 50 alunos participam das aulas e o professor tem cada vez mais histórias recompensadoras para contar.
“Uma vez, recebemos um rapaz de 13 chamado Tomas, indicado pelo serviço de ação social da prefeitura. Ele era muito problemático. O pai estava preso, a mãe era envolvida com drogas e foi assassinada… Era uma situação de alto risco e eles consideravam um caso quase perdido. Mas para mim foi um achado. Ele mostrou um talento que nunca tínhamos visto. Hoje, ele tem 18 anos e trabalha em uma fábrica em Colombo, com os desenhos dele, no desenvolvimento de produtos. Quando o pai dele saiu da cadeia, veio aqui, se ajoelhou e abraçou minhas pernas, agradecendo por eu ter cuidado do filho. Então, se o projeto acabar, a minha missão já está cumprida. E esse é apenas um caso.”
O Ciranda das Artes tem apoio do Rotary Club Cristo Rei. Os interessados em participar das aulas devem ir até a sede do projeto, na Rua José de Oliveira Franco, 1570, perto do terminal do Bairro Alto.
Veja na galeria de fotos os artistas.