Transformar um vagão de trem em escritório ? essa era a idéia inicial da arquiteta curitibana Karina Pimentel, que em 2001 adquiriu em um leilão um vagão de 37 toneladas, fabricado em Minas, em 1962. A proposta era fazer do local um ponto de captação de projetos para clientes diferenciados. Mas no início desse ano Karina resolveu que também iria morar no vagão, e trocou a casa de 300 m2 no bairro do Bom Retino pelo “corredor” de 18,75 metros de comprimento instalado em um terreno no Hugo Lange.
O projeto iniciou em 2001 com a aquisição do cobiçado terreno. “Eu sempre caminhava pela ciclovia e ficava namorando essa área. Até que um dia descobri quem era o proprietário, fiz a proposta e fechamos o negócio”, diz. Como ela já tinha tentado comprar uma litorina, um amigo avisou que em abril de 2002 aconteceria um leilão da Rede Ferroviária Federal, e Karina foi participar, arrematando a peça por R$ 2.950,00. “Quando dei o lance as pessoas até me perguntaram se eu sabia do que se tratava o lote, pois não entendiam o que eu queria com um vagão”, lembrou.
Depois da compra começou um dilema que durou quatro meses: como transportar o vagão da Rodoferroviária até o terreno. Depois de muito planejamento construiu uma engenhoca com o eixo de uma carreta, e, retirando os rodados do trem, conseguiu levar a peça até o novo endereço. O trajeto teve que ser cuidadosamente estudado, observando as curvas das ruas, altura de viadutos e fios de energia. “Tinha que ser em um dia sem movimento na cidade. Então escolhi o dia da final da Copa do Mundo de Futebol (30 de junho), durante a transmissão do jogo”, contou.
Antes de ser colocado na área, o vagão permaneceu dez dias na rua até que fosse estudada uma forma de colocá-lo na posição correta. Vários homens trabalharam para conseguir erguer a peça em cima de blocos de concreto. Depois disso, comenta Karina, iniciou o processo de restauração do vagão. “Tudo isso causou muita curiosidade nos vizinhos, e tinha até uma aposta para saber o que seria feito aqui. Estava ganhando a instalação de um bar. Hoje ele receberam muito bem a idéia e fui apelidada da arquiteta do vagão”, contou.
Adaptação
Além dos computadores e mesas do escritório, Karina adaptou, com as peças originais do vagão, os móveis necessários para viver no local. A mesa de jantar é ladeada pelos bancos de couro. Os banheiros receberam aquecimento a gás, e um deles foi transformado em uma espécie de lavabo. A cama e a sapateira ganharam rodinhas, e o guarda-roupas foi substituído por uma arara. Para ficar ainda mais confortável, a arquiteta pensa em instalar um ar condicionado no vagão. Todas as luminárias foram mantidas e hoje funcionam com instalação elétrica.
A arquiteta conta que o local é seguro, já que as janelas possuem travas e as portas ganharam novas fechaduras. Mas para garantir, Karina instalou alarmes, sensores de presença e câmeras. Ela estima que já investiu no projeto ? desde a compra do terreno até a instalação da “casa” ? cerca de US$ 44 mil. Com esse valor ela poderia construir um imóvel com 115 m2. “Algumas pessoas dizem que sou excêntrica, outras, que sou louca. Mas acho que de louca não tenho nada. Acho que sou determinada, pois sempre inicio e finalizo tudo que projeto”, disse. Karina divide o espaço com o companheiro Tibério, um cão da raça schnauzer, que também passou a ser a atração dos visitantes que fazem fila em frente à casa da arquiteta nos finais de semana.
Sucesso
A projeção que Karina ganhou foi além do que ela esperava. Conseguiu atrair uma série de clientes que buscam projetos ousados e fora do comum. Além disso, vem sendo convidada para participar de vários eventos para falar do seu trabalho, e claro, de como é morar em um vagão. Ela também já foi convidada para viajar para a Índia, e ganhou espaço em uma revista de arquitetura e decoração de circulação nacional. “Estou economizando em marketing”, brincou.
Mas os projetos de Karina Pimentel não pararam por aí. Ela pretende transformar uma das janelas em porta, e por uma passarela, ligar o vagão a um novo cômodo com banheiro, sala e quarto. O projeto vai ter a cara de uma estação ferroviária estilizada. A nova idéia é para 2004. Enquanto isso ela busca parceiros para tirar do papel projetos de construir uma bicicleta que anda com menos esforço, um novo sistema para mouse de computadores, uma mochila mais leve para aventureiros…