Mais de mil policiais militares de diversos batalhões cercaram na manhã de ontem o terreno de manancial que fica à margem da Rodovia João Leopoldo Jacomel, no Jardim Guarituba, em Piraquara, invadido em outubro por cerca de 300 famílias.
Eles prestaram apoio aos oficiais de justiça que cumpriram o mandado de reintegração de posse, expedido em 20 de outubro pela juíza de direito de Piraquara Diocélia da Graça Mesquita Fávaro.
O mandado demorou para ser cumprido porque a Secretaria Estadual de Segurança Pública tentou realizar um trabalho de mediação. “Foram feitas rodadas de negociação para que os moradores saíssem antes do emprego da força policial. Como eles não acataram a orientação, aguardamos até o último dia e então empregamos todo esse efetivo”, explica o porta-voz da operação, tenente Periguary Dias Fortes.
De acordo com ele, a operação persistirá até que o último barraco seja desmontado. Os trabalhos de retirada dos moradores tiveram atrasos devido à chuva.
“Cercamos toda a área para que pudéssemos ter sob nossa tutela os moradores, para que eles saíssem da área em segurança. As famílias foram notificadas da decisão judicial e foram saindo pacificamente”, ressalta o tenente.
Prisões
Dois homens foram presos pela equipe policial. Um deles, conhecido por “Lulinha”, era o líder da invasão e foi acusado de desacatar um oficial de justiça e resistir à ordem judicial de desocupação. O outro preso era foragido da Delegacia de Colombo e foi flagrado nas imediações do Jardim Holandês.
A área invadida faz parte do aquífero do Irai, que corresponde a 70% da área potável consumida em Curitiba. Por este motivo, “Lulinha” recebeu da Força Verde uma autuação administrativa por dificultar a regeneração de vegetação nativa em área de preservação permanente, mediante a construção dos 143 barracos na área de 8,3 hectares. Foi lavrado um termo circunstanciado de crime ambiental contra o manifestante, que poderá ser condenado a pagar R$ 5 mil por hectare de área obstruída.
De acordo com o secretário do meio ambiente de Piraquara, Gilmar Clavisso, já existem projetos para que a área não fique desocupada. “Lá não pode ter nenhuma edificação, mas há possibilidade de instalação de chácaras para agricultura. Outra solução é criarmos parques, mas o município não tem esse recurso agora. Podemos buscar isso com mineradores”, afirma.
A prefeitura cedeu caminhões para ajudar as famílias a carregar as mudanças para seus locais de origem. Todos foram cadastrados nos programas sociais de moradia da cidade. Haverá uma reunião na segunda-feira com representantes do movimento de invasão para buscar uma solução para o impasse.
Projetos
Aproximadamente 300 famílias tiveram que deixar área de preservação. |
Famílias ainda esperam solução
Em entrevista ontem à rádio CBN, Douglas Eugênio de Oliveira revelou que ficou com as mãos machucadas por ser obrigado a desmontar sozinho a casa de madeira construída na área de preservação.
“Eles alegaram que o trecho é de manancial, mas dos dois lados da invasão tem barracões que não vão sair. Vamos pedir explicações para o prefeito, porque ainda que ele não possa nos dar moradia, tem que nos dar subsídio para a moradia”, ressalta.
A situação mais crítica foi a da dona de casa Solange Martins Ferreira, de 28 anos. O marido veio, a Curitiba logo cedo para fazer um “bico” e ela, que não tem familiares na região, não tinha condições de desmontar a casa sozinha e ir para outro lugar com o filho de colo. “A gente só quer um canto para morar. Para onde vamos agora? Viver embaixo do viaduto?”, questiona.