De janeiro a julho deste ano, a polícia apreendeu 45.924 armas de fogo no Brasil, quantidade 110% maior do que o total recolhido em 2004. Em todo o ano passado, foram apreendidas 21.906 armas provindas do tráfico.
Os dados são do Serviço Nacional de Armas (Senarm) da Polícia Federal e, segundo o chefe do setor, Fernando Queiroz Segóvia Oliveira, refletem um combate mais intensivo ao tráfico de armas no País. Para aumentar ainda mais essas apreensões e tentar acabar com o tráfico ilícito de armas, a PF dá início amanhã, em Foz do Iguaçu, ao 1.º Treinamento Básico de Prevenção e Combate ao Tráfico Ilícito de Armas de Fogo (Treinar).
De acordo com Vantuil Luis Cordeiro, chefe da divisão de repressão ao tráfico ilícito de armas e coordenador do Treinar, a idéia foi organizar o treinamento em Foz para poder levar representantes do departamento de PF de todo o País até um dos locais onde mais se fala da problemática do tráfico. "Foz do Iguaçu chama a atenção pela situação da tríplice fronteira, que acaba gerando diversos problemas e complicações. Queremos estender este conhecimento aos demais policiais que não conhecem esta realidade, para podermos juntos desenvolver uma nova política de combate ao tráfico de armas", afirma Cordeiro.
Participarão do treinamento policiais federais de todo o País, além de convidados do Exército, Receita Federal, Polícia Rodoviária Federal e Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Cordeiro disse ainda que representantes da União Européia e da ONU também observarão o treinamento, que vai até o próximo dia 19. Serão 65 participantes.
O curso contará com módulos teóricos e práticos. Policiais da Argentina, Paraguai e Uruguai também participarão do Treinar. A idéia é estender os conhecimentos sobre a legislação, as convenções e acordos internacionais que se referem ao tráfico de armas até os que trabalham no combate ao crime.
Na parte prática, os participantes farão exercícios com embarcações no Lago de Itaipu. Segundo Cordeiro, o que se pretende é diminuir o estoque de armas entre os marginais e impedir que novas armas entrem de forma tão fácil no País. Todo este material que abastece os centros urbanos vêm em ônibus, caminhões, carros, embarcações e aeronaves.
O Treinar acontece de amanhã até 19 de agosto, no auditório do Recanto Park Hotel, em Foz do Iguaçu. O curso é uma parceria entre a Polícia Federal, o Centro de Treinamento em Segurança Pública, ligado à Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), o Ministério da Justiça e o Centro das Nações Unidas para a Paz, Desarmamento e Desenvolvimento na América Latina e Caribe (UnliREC), ligado à ONU.
Paraná é o terceiro no ranking nacional
Das 45.964 armas apreendidas até agora pela polícia em todo o Brasil em 2005, cerca de 10% foram apreendidas no Paraná. De acordo com dados do Serviço Nacional de Armas (Senarm), da Polícia Federal, foram apreendidas 4.627 armas no Estado até a última sexta-feira. Os números do Paraná ficam apenas um pouco atrás dos registrados em São Paulo – onde foram realizadas 10,93% das apreensões – e do Rio, com 14,6% das armas apreendidas.
Os números altos registrados no Paraná são reflexo da porta de entrada que o Estado representa. Mesmo não tendo problemas tão graves, como a ação intensiva de megaquadrilhas de tráfico de drogas, que acontece no Rio de Janeiro, por exemplo, o Estado serve de corredor de passagem para o armamento e munição que entram no Brasil.
De acordo com Vantuil Luis Cordeiro, chefe da divisão de repressão ao tráfico ilícito de armas da PF, as apreensões que estão sendo realizadas pela polícia têm pegado armas de grosso calibre. E isso vem aumentando cada vez mais. Segundo ele, essas apreensões refletem o tipo de armamento utilizado em crimes contra o patrimônio e no tráfico de drogas. "As estatísticas de apreensão mostram um grande estoque de armas nas mãos dos bandidos. E para sustentarem este estoque, eles precisam de munição. E boa parte desta munição é fabricada no Brasil, sai de maneira irregular do País para voltar como contrabando. É este ciclo de alimentação do crime que precisamos quebrar", afirma.
Além do problema de fronteira – como é o caso de Foz do Iguaçu e se estende por toda a fronteira seca do Brasil até o Mato Grosso do Sul – a polícia ainda tem o desafio de conter a ação dos criminosos que agem também nas vias aérea e marítima. Segundo Cordeiro, os portos do País apresentam sérios problemas de segurança. "Temos uma costa muito extensa e ela é alvo não apenas do tráfico ilícito de armas como de drogas também. E este material não vem apenas em pequenas embarcações. Chega até em navios de grande porte", disse.