Foz do Iguaçu – Nem mesmo a intensa fiscalização da "Operação Cataratas" na fronteira entre Brasil e Paraguai, em Foz do Iguaçu, reduziu a quantidade de mercadorias contrabandeadas que atravessam a Ponte Internacional da Amizade. Em relação ao ano passado, quando o total de produtos apreendidos foi avaliado em US$ 120 milhões, houve um crescimento de 25% nas apreensões, chegando até agora a US$ 150 milhões. Em 2002, esse número foi ainda menor. As mercadorias barradas na fiscalização somaram US$ 90 milhões.
Mas o que mais surpreende a Polícia Federal (PF) é a quantidade de drogas apreendidas durante a operação coordenada pela Receita Federal (RF), PF, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Ministério Público Federal (MPF) e Promotoria de Investigação Criminal do Paraná. Grandes quantidades de entorpecentes são encontradas em meio às mercadorias contrabandeadas que passam pelo Posto São José de fiscalização da RF, em Medianeira.
De acordo com Geraldo Pereira, delegado da PF em Foz, o principal destino da maconha, crack e cocaína são as cidades de Cascavel, Rio de Janeiro e São Paulo. "O crescimento das apreensões dos entorpecentes está enorme. O tráfico está desenfreado e durante as operações especiais é que é possível conter o avanço desses produtos", destacou Pereira.
Como medida para acuar o crescimento do tráfico e, conseqüentemente, o contrabando de mercadorias, a PF deve ter o reforço de mais 120 agentes que serão deslocados para a fronteira. Policiais de todo o País devem chegar a Foz do Iguaçu até o início do ano que vem, quando também entra em funcionamento a nova sede da PF na cidade. Com relação ao apoio do Exército, o delegado da PF informou que o Congresso Nacional já foi contatado sobre essa possibilidade, mas que até agora não existe qualquer ação concreta para a realização de um trabalho conjunto na Ponte da Amizade.
O movimento na Ponte da Amizade triplicou ontem. |
"Até o final do ano, as ações vão continuar intensas a fim de evitar a passagem de mais mercadoria contrabandeada. O aumento da cota de US$ 150 para US$ 500 por pessoa, que é um dos pedidos mais fervorosos dos comerciantes e dos sacoleiros, não vai resolver essa situação. Para quem está envolvido no tráfico de drogas, isso também não vai influenciar em nada", afirmou Pereira.
Receita
De acordo com a Receita, a "Operação Cataratas" propiciou uma redução de ônibus transportando contrabando, gerando uma redução de 95% nas vendas do comércio de Ciudad del Este. Com isso, foi impedido de entrar em território nacional R$ 200 milhões em mercadorias contrabandeadas.
Operação prende 13 "laranjas"
Três "laranjas" foram presos ontem pela Polícia Federal, em Foz. A ação faz parte da "Operação Mascate", que está investigando o contrabando de mercadorias do Paraguai para Goiânia. Outras treze pessoas envolvidas no esquema também foram detidas na capital goiana. Também foram cumpridos 29 mandados de busca e apreensão em Goiânia, Foz do Iguaçu e Brasília.
Segundo a PF, as pessoas detidas na fronteira facilitavam o envio das mercadorias de informática para a capital de Goiás. A investigação na tríplice fronteira vai prosseguir até o final do ano. Os envolvidos já confirmados pela polícia e que foram presos em Foz são Iracema Gomes Mardina, João Camargo Alves e Vanildina Quirino, conhecida pelos comparsas como "Vani".
Além de Foz do Iguaçu e Goiânia, a organização tem desmembramento nas cidades de Brasília e Anápolis (GO). O delegado da PF em Foz, Geraldo Pereira, informou que há possibilidade de outras pessoas estarem envolvidas no caso. "O trabalho principal está a cargo da superintendência da PF em Goiânia. No entanto, as investigações prosseguem na fronteira", disse. (RCJ)
Movimento na ponte triplicou ontem
O movimento na Ponte Internacional da Amizade na tarde de ontem foi intenso. Com a proximidade do final do ano, o número de veículos e de pedestres que passaram pelo local foi três vezes maior do que o normal. O congestionamento se estendeu por toda a ponte. Toda a comitiva que participou da divulgação dos dados da ABCF passou pela região para acompanhar os trabalhos dos agentes da PF e dos fiscais da RF na aduana.
Outro local visitado pelos representantes foi a sede da RF, onde ficam os galpões que guardam todos os produtos apreendidos. De acordo com o superintendente da Receita no Paraná, Luiz Bernardi, um período de 70 dias é necessário para que todos os produtos no galpão principal sejam retirados, dando espaço para outra leva. Com 4.590 metros quadrados, o local tem capacidade para armazenar seis mil metros cúbicos de material. Durante a operação, 80% da capacidade do local está sendo usada.
Vários ônibus apreendidos também ficam no pátio da Receita, aguardando a liberação das mercadorias. A comitiva visitou o local e também verificou como ficam armazenadas as mercadorias em um dos ônibus. "Todo o material recolhido é trazido para cá. No caso dos cigarros, tudo o que é apreendido é triturado em uma máquina. Os demais produtos ou são doados, ou vão a leilão", explicou o superintendente. (RCJ)
Políticos discutem propostas para região
O deputado federal do PL Luiz Antônio Medeiros, ex-presidente da CPI da Pirataria, se encontrou ontem com o prefeito eleito de Foz, Paulo McDonald. Em pauta, a elaboração de um planejamento para desenvolver novas frentes de trabalho para o crescimento da cidade, evitando que a economia da região se restrinja ao contrabando de mercadorias feito pelos sacoleiros.
Ele afirmou que, a partir do encontro de ontem, novas reuniões sobre a economia da região deverão acontecer. "Anteriormente a questão era somente com as mercadorias leves, mas agora trata-se de um corredor utilizado freqüentemente pelo crime organizado. Não se pode ignorar que a tríplice fronteira é um ponto estratégico e deve ser melhor analisada pelo governo federal", argumentou Medeiros.
Ele destacou que o Congresso Nacional está a par do assunto e que o envio de tropas para colaborar com a "Operação Cataratas" é essencial. No entanto, essa decisão cabe ao presidente da República. "O Paraguai é o maior fornecedor de maconha para o Brasil. E, com o cerco feito durante a operação, deu para perceber que reduziu a oferta da droga nos grandes centros. O valor da droga aumentou, porque a passagem do produto até o consumidor foi barrado com essas iniciativas. O essencial seria que houvesse essa fiscalização mais rígida durante todo o ano", afirmou.
O turismo seria uma das principais frentes de criação de emprego na região. De acordo com o deputado, o investimento nesse setor pode ser a saída para apostar num novo panorama. "A situação atual é complicada, mas o que está sendo feito mostra resultados. As apreensões do contrabando estão crescendo. Temos que achar um jeito de reforçar ainda mais a fiscalização, principalmente quando se formam os comboios, que impedem que a fiscalização seja totalmente completada." (RCJ)
Resultados da Operação Cataratas após vinte dias de fiscalização:
Foram fiscalizados 25.516 veículos (ônibus, caminhões, utilitários, carros de passeio)
Apreensão de 64 veículos
Retenção de 13 veículos
Apreensão de US$ 2.165.209,00 em mercadorias contrabandeadas
Apreensão de 640,37kg de maconha
Apreensão de 20,825kg de cocaína
Apreensão de 9,653kg de crack
Apreensão de 50g de haxixe
Apreensão de 200 comprimidos de Pramil (Viagra)
Apreensão de 40 comprimidos de Citotec (abortivo)
Apreensão de 400 comprimidos de Rheumazin
Apreensão de 10 frascos de Lipostabil (anabolizante bovino)
Apreensão de 30 comprimidos de Sideralmilcitrato (anabolizante)
Apreensão de 50 unidades de munição para revólver calibre 22
Apreensão de 3.985 charutos cubanos
Apreensão de 8 volumes de anabolizantes
Apreensão de 29 litros e 29 gramas de herbicida
Apreensão de 264 frascos de veneno para insetos
Apreensão de 300 caixas de cigarro em um hotel e uma pousada em Foz
Apreensão de US$ 70 mil em espécie
Retidos 61 volumes de mercadorias estrangeiras transportadas em ônibus de linha regular sem comprovação de sua regularidade fiscal
Apreensão de uma motocicleta estrangeira sem a devida documentação em território brasileiro
Apreensão de um veículo, avaliado em R$ 44 mil, carregando US$ 11 mil em materiais de informática
Apreensão em um hotel de Foz de aproximadamente US$ 30 mil em informática
Estima-se que US$ 340 mil das mercadorias apreendidas correspondem a cigarros, US$ 300 mil são referentes a equipamentos de informática e US$ 260 mil a eletrônicos.
Valores totais: total apreendido avaliado em mais de R$ 6 milhões
Fonte: Receita Federal em Foz.
Falsificação de cigarros caiu, mas ainda preocupa
Segundo dados da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF), a concorrência desleal no mercado de cigarros caiu 4% nos últimos três anos, mas ainda ocupa 29% do que é comercializado no Brasil. Esse número continua sendo maior do que o mercado total da Argentina. O que ainda alavanca as vendas dos cigarros contrabandeados é o preço muito inferior ao produto legal.
De acordo com a ABCF, o preço de um cigarro contrabandeado é 50% menor que o de um vendido legalmente. Outro dado que surpreende é que 50% dos cigarros falsificados que entram no País chegam por meio de ônibus de turismo. Cerca de 30% do varejo formal brasileiro está contaminado pela venda de cigarro ilegal.
O presidente da ABCF, Fernando Ramazzini, explica que uma das iniciativas de combate à falsificação foi determinada na semana passada. Na última sexta-feira, ele retornou de um encontro com representantes de empresas de tabaco legalmente representadas e com os representantes da Interpol no Brasil, Argentina e Paraguai. Eles vão desenvolver um trabalho conjunto de investigação para coibir o contrabando de cigarros falsificados. Os trabalhos serão intensificados principalmente nas tabacarias clandestinas no Paraguai. "A economia nacional perde muito com esses casos. Num país onde a carga tributária é enorme, quem sonega já está com mercado assegurado, e isso tem que deixar de acontecer", afirmou.
Segundo Ramazzini, o governo paraguaio trata com delicadeza o assunto porque as indústrias de tabaco, mesmo as irregulares, garantem grande parte dos empregos no país. O presidente da ABCF destaca que falsificadores do Uruguai aproveitam a rota já existente no Paraguai para também ingressarem no mercado brasileiro. "Para eles é um mercado enorme e é um alvo de desejo desses contrabandistas. Para evitar isso, essas iniciativas tem que dar certo e ser seguidas a risca", concluiu. (RCJ)
Apreensões em bilhões de unidades de cigarros:
Paraná: 1,4 bilhão
Minas Gerais: 167,3 milhões
Rio de Janeiro: 11,7 milhões
São Paulo: 97,4 milhões
Rio Grande do Sul: 36,2 milhões
Goiás: 46,4 milhões
Santa Catarina: 17,3 milhões
Fonte: Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF)
Mercado total de cigarros movimenta R$ 11,3 bilhões por ano, dos quais R$ 1,8 bilhão vão para o mercado ilegal. Este valor alimenta o crime organizado e gera uma evasão fiscal de R$ 1,4 bilhão. Se recolhida aos cofres públicos, essa receita possibilitaria tais iniciativas:
Construção de salas de aula para trinta alunos (R$ 5.000,00) – 280 mil
Casa populares (R$ 20.000,00) – 70 mil
Afabetização (10 mil alunos – R$ 1.000,00) – 14 milhões de alunos
Creches para trinta crianças (R$ 30.000,00) – 46.700 sedes
Ambulatórios médicos (R$ 10.000,00) – 140 mil
Fonte: ABCF