Ciladas financeiras

Aposentados são atacados com ofertas de empréstimos

Os economistas não cansam de repetir que “um dos piores negócios do mundo é não poupar nada e viver muito”. E essa máxima ganha contornos ainda mais dramáticos quando o aposentado se deixa levar pelas ofertas relacionadas ao mercado de empréstimos consignados que invadem as esquinas da cidade, à caça desse público. Muitos desviam, como o aposentado Rui Lacerda, de 84 anos, que se orgulha de nunca ter caído em tentação. “Toda vez que eu venho ao Centro, alguém me aborda. Como é quase todo dia, calculo que recuso cerca de 10 ofertas por semana. Estou tão acostumado a dizer não, que se enfiarem uma nota de dinheiro, vou recusar também”, afirma.

Só que nem todo mundo enxerga outra saída na hora em que o salário não dá conta de cobrir as despesas extras. Foi o caso do químico aposentado Manoel Pedro do Rosário, 81. A doença da esposa em 2004 o levou a contratar o primeiro empréstimo consignado no valor de R$ 5.853,66, que pagou em 36 parcelas mensais de R$ 279,48. Ou seja, o “juro baixo” do empréstimo consignado custou no final da operação o desembolso efetivo de R$ 10.068,88. O problema é que o comprometimento de três anos com a parcela do empréstimo, em pouco mais de 12 meses, começou a competir com o restante das despesas do aposentado e o jeito foi contrair novos empréstimos, renegociar antigos e, desde então, seguir a vida em meio a dívidas.

Justiça

E a frustração de não conseguir pagar as contas vem acompanhada da revolta contra as ciladas financeiras que vêm de “brinde” nas contratações de empréstimos. “Uma das instituições financeiras me enviou cartão de crédito sem eu pedir, que foi vinculado aos empréstimos que fiz. Mesmo sem usar, só consegui cancelar o desconto indevido após 22 meses e entrando na Justiça”, relata.

Vulneráveis a golpes

O presidente da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Paraná (Apospar), advogado Tiago dos Santos Vieira, explica que muitos funcionários inativos procuram a entidade por causa de cobranças indevidas. “A maioria não sabe o que está assinando e, muitas vezes, contrata outros produtos bancários que algumas instituições empurram sem o cliente se dar conta. Além disso, eles ficam vulneráveis a golpes e fraudes quando dispõem seus dados e documentos para qualquer um no momento de desespero para conseguir dinheiro”. Para se proteger contra golpes, o aposentado pode verificar as instituições conveniadas à Previdência Social no site www.previdenciasocial.com.br ou pela Central 135.

Dos 800 associados da Apospar, pelo menos 80% têm pelo menos um empréstimo consignado contratado.

A faixa de aposentados e pensionistas que mais contrata empréstimos é a que recebe entre um e três salários mínimos. Os principais motivos que levam o aposentado a se endividar são as despesas com remédios e medicamentos e para ajudar filhos e parentes. O presidente conta que a entidade tenta conscientizar os associados para buscar esse recurso somente em caso de extrema necessidade. “Mesmo que se faça em instituição séria e o juro seja baixo em relação a outras linhas de crédito, ainda pagamos valor alto pelo dinheiro emprestado no Brasil”, orienta.

Caminho é a suspensão

Reprodução
Cancelamento de desconto impede novo empréstimo.

O aposentado ou pensionista que percebe alguma cobrança indevida pode procurar a Agência da Previdência Social, onde preencherá requerimento com reclamação à Ouvidoria Geral, para apuração da situação. Segundo o INSS, a suspensão da cobrança é imediata, até a conclus&atilde,;o do caso. Atualmente, quando o beneficiário pede a suspensão do desconto ele não consegue contrair novo empréstimo até o fim da investigação.

Conforme o INSS, essa medida foi adotada porque muitos aposentados e pensionistas lançavam mão dessa manobra para pegar novos empréstimos no período, gerando endividamento excessivo. Pelas regras do crédito consignado, o aposentado ou pensionista pode comprometer até 30% do benefício e parcelar o empréstimo em até 60 meses. A taxa de juros não pode ultrapassar 2,34% ao mês, para empréstimo pessoal, nem ser superior a 3,36% ao mês para cartão de crédito.

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