A espera de seis anos por uma casa nova foi longa demais para Clemente Gaudino de Oliveira. Morador da bacia do Rio Formosa, no Novo Mundo, o ex-agricultor e pedreiro faleceu na última terça-feira, aos 73 anos, aguardando a mudança para um lar seguro. A residência onde ele vivia foi considerada área de risco pela prefeitura, que determinou a relocação. Mas um câncer nos ossos e na próstata foi mais rápido que as obras e a burocracia e não permitiu que ele realizasse seu sonho, que ficou de herança para a esposa e os filhos.

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A história da família de Clemente é a repetição de um drama vivido por milhões de brasileiros. “A gente trabalhava na roça, para fazendeiros em Guaraniaçu (Oeste do Paraná). Tudo o que a gente plantava e colhia, dividia em 50% com o dono da terra. Mas quando ele comprou máquinas para a lavoura, nós ficamos sem emprego e viemos para Curitiba, com 11 filhos”, conta Maria Madalena de Oliveira, esposa do antigo agricultor por 51 anos.

Felipe Rosa
Lucimara e Maria Madalena: seis anos na fila de espera e a obra está parada.

Com o dinheiro que juntou no interior, Clemente comprou de um posseiro o terreno na Vila Formosa. A área de invasão foi o lar da família durante três décadas, mas há seis anos ele recebeu a notícia de que precisaria se mudar. “Desde então estamos aguardando, mas a Cohab vai sempre adiando”, diz Lucimara Gaudino de Oliveira, filha de Clemente e Maria.

A família será transferida para o conjunto Moradias Arroio, na Cidade Industrial. Enquanto a nova casa não fica pronta, dona Maria, quatro filhos, quatro netos e um bisneto vão vivendo em situação cada vez mais precária. “O telhado está todo quebrado, uma parede tem perigo de desabar, mas a Cohab diz para não mexermos, porque será dinheiro jogado fora”, afirma Luiz Antônio Gaudino de Oliveira, que mora nos fundos da casa dos pais.

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O velório de seu Clemente aconteceu na própria casa, entre segunda e terça-feira. “Cobrimos o telhado com uma lona, para que não chovesse aqui dentro. Quando chega a época de chuva, eu não consigo nem dormir direito, com medo das inundações. Já ficamos algumas vezes com água pelos joelhos”, diz dona Maria Madalena, que sobrevive com o auxílio-doença que recebe do INSS.

Segundo informações da Cohab, não há prazo para que a família possa se mudar. As obras no conjunto Moradias Arroio estão paradas há cerca de dois anos, quando a empresa responsável abandonou o empreendimento. Uma nova licitação foi realizada, mas não apareceram interessados. Outra tentativa de licitar o empreendimento está prevista para os próximos meses e, se não houver propostas, será feita a contratação direta de uma construtora. A Cohab também afirma que a restrição a reformas no imóvel é apenas uma orientação e reparos devem ser feitos em casos de emergência.

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