Os 45 km de pista dupla do Contorno Leste de Curitiba (BR-116) serão liberados para o tráfego a partir de hoje. O ato de inauguração da via acontece às 11h, com solenidade ao lado do viaduto de interseção da BR-277 (trecho Curitiba?Paranaguá), no quilômetro 72, em São José dos Pinhais. Participarão da solenidade o ministro dos Transportes, João Henrique de Almeida Sousa, e o governador do Paraná, Jaime Lerner.
As obras do Contorno Leste absorveram recursos na ordem de R$ 173 milhões. Cerca de 30% desses valores são do governo federal, e o restante foram financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Banco Internacional de Cooperação do Japão (JBIC), dentro do programa da Rodovia Mercosul, cujo trecho inclui o Contorno.
Com a entrada do Contorno em operação, o tráfego de veículos pesados passa a ser transferido do antigo trecho urbano da BR-116 (que hoje pertence à BR-476), para o novo traçado, afastado da cidade. Segundo o coordenador da 9ª Unidade de Infra-Estrutura Terrestre – Paraná (Unit) do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), João Alberto Sautchuk, a obra deverá solucionar os problemas de congestionamentos no trecho urbano de Curitiba.
Além de reduzir o número de veículos pesados nesse trecho, ressalta Sautchuk, a obra traz opções mais rápidas e seguras para quem circula de norte a sul do País. Durante a temporada de verão, comenta, os turistas não precisarão enfrentar os freqüentes congestionamentos no perímetro urbano de Curitiba para chegar ao litoral paranaense ou de Santa Catarina. Ele explica que os veículos que seguem para Santa Catarina tem acesso ao Controle Leste entrando à direita na alça um pouco antes do viaduto da BR-376, em São José dos Pinhais. “Desta forma ficam livres dos congestionamentos daquele trajeto até a avenida das Torres, para chegar à BR-116”, ressalta.
476
Ainda de acordo com Sautchuk, estão adiantados os entendimentos entre a União e a prefeitura de Curitiba para a transferência ao município de um trecho da BR-476 localizado entre os bairros do Atuba (zona norte) e Pinheirinho (zona sul). Pelo trecho, que tem 22 km de extensão, trafegavam diariamente 62 mil veículos até a abertura da primeira parte do Contorno Leste (entre a BR-116/sul e a BR-277) no último dia 3 de outubro.
O Contorno Leste vai facilitar a movimentação dos veículos provenientes do Norte e do Oeste do Estado do Paraná pelas BRs 277 e 376, das regiões Sul e Sudoeste pelas BRs 476 (Rodovia do Xisto) e 116 sul, de Santa Catarina pelas BRs 101 e 376. O Contorno também vai conectar o tráfego oriundo do Porto de Paranaguá pela BR 277, e, de São Paulo e outros Estados brasileiros, pela Régis Bittencourt (BR-116 norte). Com a nova pista dupla, os motoristas que vêm do norte e oeste do Estado do Paraná e do sudoeste pela BR 476 vão utilizar do Contorno Sul para a chegar ao Contorno Leste.
Atraso
A obra de construção do Contorno Leste iniciou em 1997 e tinha previsão de três anos para conclusão. De acordo com coordenador do DNIT, João Alberto Sautchuk alguns fatores que não estavam previstos acabaram retardando a entrega em dois anos. Ele comenta que na época da execução da terraplanagem, e feito El Ñino trouxe muitas chuvas, que corresponderam a dezoito meses de precipitações acima da média.
O projeto também sofreu duas modificações. Uma delas foi a necessidade de mudar o traçado para evitar atingir a Floresta Metropolitana. A outra, foi a construção de um desvio para que será utilizado futuramente para uma nova pista de acesso ao Aeroporto Internacional Afonso Pena. “Aliado a isso, tivemos problemas de recursos financeiros que repercutiu diretamente no cronograma”, comentou Sautchuk.
Obra
As últimas obras do Contorno Leste concluídas agora são a conexão de pistas do Contorno com a Régis Bittencourt (Curitiba-São Paulo) e o viaduto que canaliza o tráfego de quem se dirige de Curitiba para São Paulo. No viaduto da BR-376, em São José dos Pinhais, está o principal acesso ao Contorno para quem chega de Santa Catarina pela BR-376 e se desloca para o norte ou para a BR-277, Paranaguá ou mesmo Curitiba.
A pista dupla tem 45,1 km de extensão, coma uma média de 7,30 metros de largura. Possui acostamentos externos com três metros de largura, e faixa de segurança interna com um metro de largura em toda a extensão. O canteiro central, que separa as duas pistas, tem 8,60 metros e a faixa de domínio, 100 metros. Ao longo do trecho foram construídos doze viadutos, nove passagens inferiores e quatro pontes. A segurança foi reforçada com a 33 km de barreiras, e sinalização conta com placas verticais com películas refletivas.
O primeiro trecho do Contorno Leste já havia sido liberado ao tráfego no dia 3 de outubro, na extensão que vai do viaduto da BR-277 ao viaduto da BR-116 sul, no Pinheirinho. Com a conclusão de toda a obra, comenta o coordenador do DNIT, e mais a ligação com os 15 quilômetros do Contorno Sul, forma-se um anel rodoviário com 65 km de extensão de pista dupla “que estabelece uma interconexão do tráfego de seis troncos de estradas federais que passam por Curitiba, e absorvem uma demanda de mais de 100 mil veículos/dia”.
Prefeituras e ecologistas
Rosângela Oliveira
Durante a solenidade de entrega da obra, na manhã de hoje, deverão acontecer manifestações da comunidade e órgão ambientalistas. As prefeituras de Piraquara e Quatro Barros ingressaram na Justiça com ações para que o DNIT execute obras para evitar o isolamento de algumas localidades. Já os ambientalistas cobram medidas de proteção ambiental e criação de um parque estadual.
A prefeitura de Piraquara queria impedir a abertura do Contorno Leste alegando que parte da população rural ficou isolada com a rodovia, e pedem a construção de um trevo de acesso entre Curitiba e Piraquara, além de uma trincheira no bairro Jardim dos Estados. Quatro Barras também luta na Justiça para que a obra não seja entregue antes da ligação com o distrito de Borda do Campo, isolado com o Contorno. A prefeitura informa que as trincheiras de acesso prometidas pelo DNIT não foram construídas
João Alberto Sautchuk admitiu que existem deficiências que não foram previstas no projeto, e agora merecem adequações. Ele garantiu que essa semana serão assinados contratos para a realização de obras para contemplar o sistema urbano nas localidades atingidas. Sautchuk disse ainda, que outras obras já foram construídas para adequar o sistema. Em Borda do Campo três ruas próximas ao Contorno Leste, que ainda deverão ser asfaltadas; e em Piraquara, um viaduto na área rural.
Ambiental
O integrante da ONG Amigos das Águas, José Álvaro Carneiro, reclama que a obra será entregue sem a recomendação de um estudo de impacto ambiental. “Não existem placas ou áreas para parada de veículos com carga perigosa, tão pouco planejamento específico no combate a possíveis acidentes”, disse Carneiro.
Outro problema é a construção do Parque Estadual da Serra da Baitaca, uma medida compensatória pela instalação da rodovia. Para o ambientalista, a criação do parque não só é uma questão ambiental, como de segurança, já que muitos incidentes ocorrem na região. O coordenador do DNIT afirmou que já existem recursos na ordem de R$ 1,5 milhão para a criação do parque, mas falta entendimento entre os governos estadual e federal sobre a responsabilidade quanto as desapropriações.