No Brasil, a cada ano, são produzidos entre 300 e 320 milhões de exemplares de livros, o que corresponde a cerca de 1,4 livro por habitante. Entretanto, apenas um terço da população brasileira alfabetizada possui o hábito de ler e aprecia a leitura. As informações são da Câmara Brasileira do Livro, que tem sede em São Paulo e representa todo o setor editorial e livreiro do País.
Para o vice-presidente da entidade, Bernardo Gurbanov, a falta de hábito de leitura é um problema grave no Brasil, que está bastante ligado a falhas educacionais e ao baixo poder aquisitivo da população. E ele não considera totalmente verdadeira a alegação de algumas pessoas que dizem que não lêem porque no País os livros são muito caros: “O fato de os livros serem caros em relação ao poder aquisitivo da população brasileira é uma realidade. Entretanto, dizer que as pessoas não lêem pelo preço dos livros é uma verdade apenas relativa, que pode servir como desculpa”, comenta. “No Brasil, o número de bibliotecas é considerado insuficiente, e algumas estão com seus acervos defasados e deteriorados, mas elas existem e mesmo assim são muito pouco utilizadas”.
Segundo Bernardo, ler e compreender o que se lê é uma capacidade que deve ser desenvolvida. Para se formar um leitor que saiba apreciar a leitura até como uma forma de lazer, são necessários, no mínimo, dez anos. “Quem não lê e não compreende o que lê está excluído socialmente. Torna-se uma pessoa com pobreza no uso do vocabulário e dificuldades de expressão, que se refletem tanto na vida social quanto profissional”, explica.
Uma criança que não lê geralmente torna-se um adulto que não lê. Por isso, o escritor mineiro Sérgio Klein, autor de cinco livros infantis, acredita que o hábito da leitura deve ser semeado desde muito cedo, logo nos primeiros anos de vida. “Há diversas formas de se incentivar uma criança a ler. Eu era um menino que só lia os livros adotados na escola. Na primeira série do ensino médio, uma professora começou a propor leituras seguidas de atividades motivadoras, como discussões e encenações”, lembra. “No início, eu apreciava essas atividades, mas com o tempo descobri que o gostoso mesmo eram os livros e não o que vinha depois”.
Liberdade
Na opinião do escritor, a leitura nunca deve ser imposta ou vista como obrigação. A criança deve ter a liberdade de escolher o que ler, mesmo que sejam apenas gibis. “Os livros devem estar de acordo com a idade das crianças. Não adianta querer impor livros clássicos a crianças pequenas. O melhor é deixar elas lerem o que quiserem, pois se elas aprenderem a apreciar a leitura vão, por si só, buscar outros autores e estilos”. Outro fator considerado essencial para que a criança leia é o exemplo dos pais. De acordo com Sérgio, não adianta os pais ficarem dizendo aos filhos que eles devem ler se eles mesmos não pegam em livros, revistas e jornais.