Denis Ferreira Netto |
Sueli Vidigal protestou contra a inauguração da rodovia. |
Os 45 km de pista dupla do Contorno Leste de Curitiba estão, desde ontem, liberados ao tráfego. Com a obra, que iniciou em 1995, todo volume de veículos pesados da BR-116 será transferido para o novo traçado, desafogando o trecho urbano de Curitiba, e resolvendo problemas de congestionamentos.
Para o ministro dos Transportes, João Henrique de Almeida Sousa, o Contorno Leste é uma das importantes obras de engenharia do País, comparado com a anel rodoviário de São Paulo. “Com o Contorno Sul, somam-se 60 km de rodovia que os paranaenses estão ganhando, que com o anel rodoviário de São Paulo, representam as maiores obras de engenharia de tráfego do Brasil que o governo federal entrega agora no final dessa administração”, afirmou.
O governador Jaime Lerner disse que a inauguração da obra foi um presente de aniversário para ele ? Lerner completou 65 anos na terça-feira ?, e para o Paraná, que comemorou ontem 149 anos de Emancipação Política. Segundo ele, o Contorno Leste fortalecerá o Paraná dentro do Mercosul.
Com a conclusão do Contorno Leste, a Prefeitura de Curitiba ficará responsável pela revitalização de 22 km do trecho urbano que pertencia à BR-116, desde a entrada de Araucária até o bairro do Atuba (saída para São Paulo), e que foi transferido para a BR-476. O prefeito Cássio Taniguchi adiantou que serão investidos no projeto US$ 40 bilhões, com recursos do Banco Interamericando de Desenvolvimento (BID) ? e US$ 15 bilhões de contrapartida do município ? para, entre outras ações, a implantação de veículos biarticulados que farão o transporte urbano metropolitano.
Protesto
Durante a inauguração, membros da União das Entidades Ambientais do Paraná, usando nariz de palhaço e carregando faixas, fizeram um protesto contra a liberação da estrada. Eles reclamam que não existe um projeto de segurança ambiental para a rodovia, e que a situação mais preocupante é a exposição do Rio Iraí a acidentes com cargas perigosas.
“Mais de quinhentas carretas com lixo tóxico vão passar por esse trecho, e não existe nenhuma ação que possa prevenir ou reduzir os riscos desses acidentes”, disse o ambientalista José Álvaro Carneiro. Ele destacou ainda que uma das medidas compensatórias para a construção da estrada seria a criação do Parque Estadual da Serra da Baitaca, que envolve não só a questão ambiental, mas a segurança dos que freqüentam a região do Anhangava.
O prefeito de Quatro Barras, Roberto Adamoski também protestou contra a inauguração da rodovia, e se recusou a subir no palanque das autoridades. O município chegou a entrar com uma ação na Justiça para que a via não fosse liberada antes da construção de algumas obras que visama diminuir os impactos que o Contorno Leste trouxe para a população de Quatro Barras.
Entre os principais problemas está o isolamento do bairro da Borda do Campo, que concentra dois mil habitantes, do restante do município. “O único acesso dessa população é atravessando a rodovia, e antes mesmo da inauguração cinco acidentes já foram registrados”, disse Adamoski. Ele cobra a construção de uma passarela e vias de acesso entre o município e o bairro. Durante a solenidade o Ministro João Henrique de Almeida Sousa divulgou que foi assinado, na quarta-feira, um documento que autoriza a licitação para executar a complementação de obras especiais do corredor rodoviário São Paulo?Curitiba?Joinville?Florianópolis. Nele estão incluídos a construção de um viaduto e passagens inferiores em Piraquara e finalização de acessos em Quatro Barras. O ministro disse que as obras iniciaram imediatamente, e embora não cite no documento as questões ambientais, ele disse que a autorização envolve “todas as obras que forem necessárias”.
Devolução depende de acordo
Rosângela Oliveira
A proposta do governo federal de que os estados devolvam as estradas federais estadualizadas à União não deverá atingir o Paraná, pelo menos neste momento. A idéia do governo é que os estados repassem à União 18 mil quilômetros de rodovias pedagiadas, que teriam os trabalhos coordenados pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT).
No Paraná seriam cerca de mil quilômetros de estradas, porém apenas 400 km poderiam ser absorvidos por esse projeto em função dos contratos que o Estado mantém com as concessionárias do Anel de Integração.
O governador Jaime Lerner afirmou que o Paraná não vai tomar nenhuma decisão nesse momento sobre o assunto, em função da transição de governo. “Muitas questões devem ser consideradas, e não podemos antecipar nada”, disse Lerner.
Sobre as tabelas de reajustes dos valores dos pedágios divulgadas ontem pelas concessionárias, o governador reforçou que elas não têm validade porque não foram autorizadas pelo DER. Ele afirmou que o governo publicará uma nota oficial esclarecendo a população sobre o assunto. Lerner garantiu que até o fim da semana a situação deverá ser resolvida, e entende que não será necessária nenhuma medida judicial, como haviam anunciado as concessionárias.