A história de lutas em torno da causa ambiental do geólogo João José Bigarella pode ser evidenciada sob a perspectiva de ativistas que o acompanharam no DVD Professor Bigarella, uma luta ambiental, que será lançado amanhã, no Museu Paranaense, em Curitiba. Em seu currículo, este estudioso de 83 anos, que continua se dedicando ao ensino e à produção de livros, guarda estudos importantes para o Paraná e para o mundo, como o desenvolvimento de pesquisas que ajudaram a provar a divisa dos continentes americano e africano e a luta para evitar o desmatamento na Serra do Mar e a depredação das formações geológicas de Vila Velha.
O professor se emociona com a escolha do diretor e roteirista Glaucon Horrocks para ser tema de seu trabalho e por eleger o museu para o lançamento local, onde Bigarella deu início a sua carreira, há 63 anos. ?Não foi no curso superior que aprendi os traquejos de mexer com a ciência; o museu era mais que uma casa de exposição, era um local de pesquisa?, relembra. Lá, ele teve contato com grandes pesquisadores, entre eles Reinhardt Maack, com quem deu os primeiros passos nos estudos sobre Vila Velha. ?Com ele surgiu em mim a preocupação com a natureza; foi um dos pioneiros a combater o desmatamento?.
A partir de então, Bigarella iniciava uma carreira voltada para o estudo da ciência geológica. Passou a lecionar na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e, com suas viagens aos Estados Unidos, descobriu técnicas de pesquisa que dariam origem à possibilidade de provar a divisa dos continentes. ?A metodologia utilizada para prospecção de urânio no Colorado usei para criar um aparelho que medisse as direções das paleocorrentes marinhas, fluviais, galaciais e eólicas daqui e da África. Todas fluíam de uma área única central, em Angola. Era a maior prova da união pretérita dos continentes?. Confirmava-se, já na década de 60, a teoria de Wiggert, tão refutada à época.
Nos anos 70s, foi a vez de o professor Bigarella promover a primeira ação popular contra um governo de Estado para garantir a preservação dos arenitos milenares de Vila Velha, onde se iniciavam obras de infra-estrutura turística prestes a depredar o patrimônio. Na mesma época, ele mais uma vez se voltou ao governo paranaense, dessa vez para alertá-lo sobre o desmatamento da Serra do Mar. ?Quando vi o problema dos depósitos ocasionados pelos desmoronamentos, percebi que o desmatamento ia contribuir para entulhar a Baía de Paranaguá.? Sob a justificativa de grandes impactos econômicos, a degradação passou a ser combatida.
No entanto, o professor lamenta que os tempos passados não tenham deixado lições suficientes para o presente. ?Hoje a invasão da Serra do Mar é alarmante, com colocação de moradias em áreas de risco.? Em todo o Estado, aliás, Bigarella teme pelo desmatamento desenfreado e pela agricultura malpraticada, que coloca em risco o homem e a natureza. ?Não existe planejamento de uso e ocupação do solo, apesar de termos a tecnologia para isso. Assim, perdemos um centímetro de solo por ano com a erosão e corremos o risco de entulhar Itaipu, perder o solo fértil e, conseqüentemente, encarecer a produção, poluir ainda mais o lençol freático e perder nossas florestas.?
A solução, aponta, é educar todas as instâncias sociais, nas escolas e na administração pública. ?A não-preservação dos recursos naturais implica em sérios problemas sociais?, alerta.