“#nãoénormal”. É com esse mote que a estudante do 5.º período do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Sofia Chudzik Bauer, tem ajudado colegas a manifestarem sua indignação sobre situações que ocorrem diariamente na sala de aula e nos corredores da instituição.

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A campanha começou há aproximadamente um mês com uma página na internet e um perfil nas redes sociais. A proposta é publicar frases recebidas anonimamente pelos próprios alunos e funcionários da instituição denunciando angústias da vida acadêmica e abusos sofridos dentro da entidade. E com a ressalva: “isso não é normal”.

As mais de 60 postagens vão desde o simples conflito “não comer para poder ter tempo para estudar” até denúncias mais graves, como “aguentar professor fazendo comentários racistas e preconceituosos”. A ideia, como conta Sofia, foi inspirada em um movimento de mesmo nome criado por um coletivo da Universidade Federal do Piauí e repercutido também por alunos da Universidade de São Paulo (leia mais abaixo).

“A ideia é expor esses problemas para haver visibilidade. Mostrar também que o problema não é só nosso, que a gente não está sozinho na universidade”, explica a aluna. “A gente tem a mania em entender as coisas como normais, entender que, na faculdade, a gente tem que se dar mal porque a vida é assim, mas não é isso, a gente está aqui para aprender”, completa.

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A aluna conta que é apenas uma “intermediadora” das mensagens, que são copiadas e coladas nos posts sem nem passar por correção de erros de português. A página no Facebook conta com 850 seguidores. Outros movimentos também aderiram à ideia, como o Coletivo Alzira, da Universidade Positivo, que fez uma ação específica na rede social para apoiar a mobilização iniciada na PUC e divulgar conflitos da instituição.

Sofia aponta ainda que, com a campanha, quer ver avanço nas mobilizações de caráter “público” nas instituições privadas. “Existe uma mitificação de que não se pode reclamar da instituição particular, porque você pagou. Existe também a ideia de que os cursos públicos são mais puxados. Não é verdade. Há um problema educacional no país, no serviço público e no particular, é preciso mudar o jeito que as universidades são levadas”, desabafa.

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Outro lado

PUC defende que as denúncias têm de ser formais./Foto: Antônio More

Por meio de sua assessoria, a PUCPR informou que está atenta às manifestações nas redes sociais, “mas considera que é necessária denúncia formal, com detalhamento de informações que possam auxiliar nas apurações”. A instituição afirma ainda que mantém canais, pelo telefone e internet, de recebimento de sugestões, denúncias e reclamações, que podem ser feitas anonimamente.

Afastamento de professores da PUCPR é uma das ‘brigas’

“Professores serem afastados por tempo indeterminado por críticas ao reitor”, diz uma das postagens da página do Facebook PUCPR#nãoénormal. A manifestação foi estimulada pela recente decisão da direção da instituição de afastar nove professores das suas funções por causa da publicação do jornal do Sindicato dos Professores do Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes) que questionava demissões e a redução de carga horária dos professores da instituição.

Na semana passada, houve paralisações de alu,nos em defesa dos docentes. Conforme a assessoria da Universidade, as aulas foram mantidas normalmente, já que a maioria dos estudantes optou por não participar dos protestos. A instituição nega que tenha ocorrido qualquer tipo de represália e diz que “permanece à disposição para o diálogo com os professores afastados”. A Universidade afirma que aguarda decisão da Justiça do Trabalho sobre o caso e que os professores permanecem com a remuneração salarial.

Manifestações de universitários têm se tornado rotina

Manifestações críticas de alunos sobre professores e instituições de ensino superior nas redes sociais e até nas paredes das faculdades têm se tornado frequentes. Em dezembro do ano passado, professores de comunicação da Universidade de Brasília foram alvos de recados anônimos críticos. As mensagens foram coladas nas portas das salas de aula. A atividade havia sido proposta por um professor da instituição, que reconheceu que a ideia “saiu do controle”.

Na Universidade Federal do Piauí (UFPI), o protesto simbólico iniciado no mês passado foi proposto por alunos do curso de Farmácia. Com a campanha “não é frescura”, os estudantes denunciam na internet problemas de saúde mental com os excessos do curso. A ideia é expor situações psicológicas, como crises de pânico em uma prova, decorrentes dos estudos.

Também no mês passado, um grupo de mulheres da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo criou uma página no Facebook para compartilhar denúncias de machismo relacionadas a professores e alunos da faculdade. A campanha “Politécnicas R.existem” tem cerca de 6 mil curtidores na rede social e relata histórias de alunas na escola de Engenharia.