Avanço da cultura pode acabar
com matas primárias do Estado.

O alto preço da soja no mercado internacional agrada os produtores, mas ao mesmo tempo é uma ameaça às áreas verdes do Paraná. Hoje, o Estado possui cerca de 17% de cobertura de mata primária. Essas poderiam se transformar em floresta plenamente constituída, mas é só o preço da soja mostrar sinais de lucros exorbitantes para que se transformem em campos de produção.

O técnico da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Paulo Roberto Castella, comenta que a situação é preocupante no Estado. Segundo dados de 2002, há apenas 3,4% de florestas em bom estado de conservação. Elas estão na Serra do Mar, no Parque Nacional do Iguaçu e parte na região Centro-Oeste.

O pior disso é que 98% estão nas mãos de particulares. Castella afirma que todos os anos, o Paraná perde novas áreas. Não se sabe bem a quantidade, mas apenas que são significativas. O último desmatamento foi descoberto há 60 dias em Candói, onde foram derrubados 160 hectares.

O restante das áreas verdes são as chamadas matas primárias, compostas principalmente por bracatingas. “Elas preparam o ambiente para o povoamento de novas espécies, que formam a flora paranaense”, explica. No entanto, essas matas não vão muito longe. A expansão agrícola interrompe esse processo de regeneração. O principal vilão é a soja, basta alcançar um preço atrativo para que as árvores sejam substituídas pelo cereal. Os agricultores cortam a mata sem qualquer problema, já que a legislação não abrange esse tipo de formação vegetal. Exceto se estiverem próximas a rios e lagoas.

Passos importantes

Mesmo assim, Castella fala que o Estado tem dado passos importantes para conter o desmatamento e aumentar as áreas verdes do Estado. Em junho deste ano, o governo baixou um decreto com base em uma lei federal que obriga os agricultores a terem 20% de suas terras com mata nativa. A medida atinge pequenos, médios e grandes produtores. Eles vão ter um prazo de 16 anos para se enquadrarem na legislação estadual. Segundo Castella, os municípios estão começando a discutir a melhor forma de respeitar a lei.

Com o desmatamento, o Paraná perdeu importantes reservas de mata de araucária, que ironicamente é o símbolo do Estado. Hoje existe apenas 0,8% de floresta em bom estado de conservação. Com as árvores, sumiram também os animais. O maior pássaro paranaense, a harpia, está extinta. É vista apenas em outras regiões do País. O lobo-guará também está desaparecendo dos Campos Gerais, ameaçado pela plantação de pinus. Mas algumas espécies ainda resistem e encontram abrigos nas reservas como o macaco bugio e o papagaio-de-cara-roxa.

Ações para reverter situação

Segundo o secretário de Estado do Meio Ambiente, Luiz Eduardo Cheida, além do decreto promulgado este ano, o Estado criou a Força Verde, integrando as ações da Polícia Florestal e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Foram comprados equipamentos: rádios que operam em freqüência exclusiva, barcos e dois aviões, além da contratação de 180 homens.

Para começar a reverter os últimos 100 anos de degradação, vão ser plantadas 160 milhões de árvores para recuperar a mata ciliar e estão sendo criados corredores verdes, que vão integrar cerca de 20 mil propriedades com mata nativa. Neste último programa vão ser investidos R$ 96 milhões. Com a criação do Pró-Atlântica todos os 11 mil quilômetros quadrados da mata estão sendo monitorados. No entanto, o secretário explica que as multas para crimes ambientais são pequenas e precisam ser revistas. Em Candói o proprietário teve que pagar R$ 40 mil. “Com a venda de apenas duas imbúias, ele consegue isso”, fala. (EW)

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