A concessionária América Latina Logística (ALL), responsável pela Malha Sul da Rede Ferroviária Federal (RFFSA, em extinção), está transformando vagões graneleiros em plataforma adaptada para o transporte de contêineres. A empresa alega que essas modificações visam ao melhor aproveitamento dos equipamentos. Mas a medida adotada pela ALL não convenceu alguns setores. O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge) promete apresentar, na segunda-feira, uma denúncia ao Ministério Público contra a ALL pela depredação do patrimônio. Já a Federação da Agricultura do Estado (Faep) do Paraná teme que a medida provoque um colapso na próxima safra.
A modificação de 160 vagões foi feita na oficina da empresa em Ponta Grossa, no bairro de Oficinas. O trabalho iniciou em agosto, e muitos desses vagões já estão sendo utilizados pela empresa. Alguns deles se encontram parados no pátio da ALL no bairro de Uvaranas, também em Ponta Grossa. Depois de transformados, os vagões têm sua identificação alterada. A sigla FHD, que identifica o modelo graneleiro, é substituída por PED.
Segundo Nilson Camargo, técnico do departamento técnico-econômico da Faep, a entidade denunciou, há mais de dez dias, a ação da ALL à Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), mas até agora não obteve resposta por parte do órgão. Ele comenta que 30% da safra de grãos do Paraná são transportados pelas ferrovias. “Achamos essa medida muito irresponsável, pois no período de safra já existe falta de vagões, o que acarreta no congestionamento nas rodovias, e exploração do frete”, disse Camargo.
Para o técnico a medida só favorece o setor rodoviário, no qual a ALL também tem participação. No ano passado, a ALL se integrou à Delara Caminhões, com objetivo principal de aumentar o market-share. Segundo relatório anual da ALL de 2001, a empresa conta com uma frota de 3 mil veículos, entre próprios e agregados.
Para o presidente do Senge, Raska Rodrigues, com a transformação dos graneleiros a ALL também afetará as exportações do Paraná, pois haverá congestionamento no Porto de Paranaguá. “Além disso, as filas de caminhões que vem sendo registradas todos os anos no período da safra ficarão ainda maiores”, afirma. Mas a maior implicação está na depredação do patrimônio. “Eles são concessionários de 6 mil vagões, e não podem tomar uma medida dessas sem permissão do Ministério dos Transporte”, disse.
Vagões particulares
A ALL informou que enviou uma carta solicitando à Rede Ferroviária permissão para transformação de 192 vagões. Entre eles, estão vagões que anteriormente eram utilizados para o transporte de produtos ensacados, e que se tornaram inadequados para o transporte de grãos.
Também foram modificados os vagões que apresentavam muitas avarias, e o custo da reforma seria muito alto. A ALL admitiu que não tem condições de atender todo o setor, e apresenta como alternativa que as empresas comprem vagões particulares, e indica o fabricante. No mês que vem, a empresa Maxion ? que fabrica vagões ? estará sendo inaugurada dentro do complexo da ALL, em Curitiba. Cada vagão com capacidade para 50 mil toneladas custa em média R$ 120 mil.