A última aquisição de locomotivas pela América Latina Logística (ALL) vem gerando polêmica. As máquinas – trinta no total – foram compradas nos EUA e custaram cerca de R$ 1 milhão cada uma, já incluídos os custos de adaptação e transporte das máquinas, segundo informações da própria concessionária. Com idade entre 20 e 25 anos, as locomotivas devem passar por adaptações para andar pelos trilhos brasileiros.
Enquanto a ALL garante que as máquinas são robustas e que o negócio fechado foi bom, a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) lista uma série de desvantagens e questiona a política adotada pela ALL, que venceu a licitação no processo de privatização da malha ferroviária sul no final de 1996.
“A Rede nunca comprou locomotivas usadas. O que estão fazendo é um retrocesso”, critica o engenheiro mecânico Saulo de Tarso Pereira, fiscal de arrendamentos ferroviários na Malha Sul. Além do tempo de uso, Saulo aponta ainda a série de adaptações que deverão ser feitas. “O truck (que dá sustentação à locomotiva) vai ter que sofrer estreitamento, porque a bitola americana é tipo standard (1,43m), enquanto a brasileira é métrica (1m), ou vão ter que comprar outros”, explica Saulo. “Mas o problema não está só na adaptação, mas no peso, que deve aumentar em quase 50%. Com isso, as linhas vão ter que sofrer revisão. Pergunta-se: isso é vantajoso?”, questiona. Segundo ele, um maior peso nas linhas poderia acarretar acidentes. “As pontes terão que ser revistas, e as linhas por onde trafegarem terão de ser limitadas”, diz
Outro problema, de acordo com Saulo, é o fato de não se investir na frota da Rede. “Existe uma frota imobilizada da Rede. Por que não colocá-la em circulação? Por que trazer de fora uma tecnologia de vinte anos atrás?”, pergunta.
ALL
Para o gerente de engenharia de manutenção da ALL, Luiz Torelli, o fato de as locomotivas serem usadas não implica problema. “Nos EUA, à medida que acabam os contratos de leasing, as locomotivas são trocadas e assim se cria certo excedente dessas máquinas, mas o fato de terem 20 a 25 anos não significa prejuízo algum”, garante, acrescentando que, assim como os aviões, as locomotivas têm teoricamente vida infinita. “A tecnologia do produto mudou muito pouco, e o conceito de projeto é bem resistente. As locomotivas são extremamente testadas, seguras e há mais de mil desse modelo rodando no Brasil.”
As locomotivas são de modelo C30, com cerca de 3 mil cavalos. “Só para se ter uma idéia, as nossas maiores hoje estão na faixa de 2.600 cv”, explica. Segundo a empresa, graças à maior potência, elas poderão puxar maior quantidade de vagões, reduzindo os custos do transporte. As locomotivas recém-adquiridas devem chegar ao Brasil a partir do mês que vem. A expectativa é que elas estejam circulando entre dezembro a janeiro. De acordo com Torelli, as locomotivas devem passar por adaptações, desde da bitola, parte inferior, tração, além de ajustes eletrônicos -como sistema de navegação via satélite (GPS), controle de temperatura e pressão eletrônico, entre outros.
Torelli conta que há um protótipo rodando no Brasil há cerca de um mês, com todas as adaptações já realizadas. “Os resultados são maiores do que os esperados”, garante, acrescentando que outra vantagem é a possibilidade de carregar 25% a mais de carga. Quanto ao desgaste dos trilhos, ele afirmou que a manutenção já está incluída no pacote de investimentos.
Para financiar o investimento, a ALL buscou recursos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que concedeu empréstimo de R$ 30 milhões. Segundo ele, uma locomotiva nova custa cerca de US$ 2 milhões (quase R$ 6 milhões) e ele afirmou não ter conhecimento sobre a frota imobilizada disponível pela Rede. Hoje, a ALL usa 350 locomotivas no Brasil e cerca de 11.500 vagões.
