Alfaiate é uma profissão em extinção, assim como os profissionais que a exercem. Foi-se a época em que existia o curso técnico de alfaiate, ensinado na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Foi lá que Orestes José Pech, descendente de ucraniano nascido em Paulo Frontin, no sudeste do Estado, aprendeu a arte da alfaiataria enquanto era adolescente.

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Orestes iniciou a atividade com 17 anos. Hoje com 70 anos de idade ele, diz que pretende trabalhar até os 100 anos. “Não quero parar. O que vou fazer em casa?”, comenta o alfaiate, que trabalha na Rua Saldanha Marinho, perto do bar Bife Sujo desde 1962. Orestes se diz o mais antigo daquele trecho da rua e gosta muito do local. Não por acaso, o estabelecimento dele se chama Alfaiataria Saldanha.

Quanto à continuidade da profissão, Orestes entende que ela está acabando e que a falta de cursos profissionalizantes é um problema. “Não tem uma escola. Na Federação Espírita tem um curso de dois meses, mas é pouco”, conta o alfaiate, que acredita que as grandes confecções contribuem para a diminuição do movimento.

Enquanto nas lojas é possível encontrar um terno por R$ 100, Pech cobra em média R$ 700 para fazer casaco e calça. “É o preço do serviço bem feito”, avalia. O alfaiate da Saldanha também faz pequenos reparos, que são o carro-chefe do seu comércio atualmente. “O movimento em relação à produção de ternos caiu 90%”, relata. Mas ele não reclama, já que gosta de fazer reparos tanto quanto dos ternos.

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Orestes lembra da época de ouro que viveu no período pré-Collor, quando produto importado era incomum no mercado. “Chegava fim de ano, era lotado de serviço, até janeiro. No banco todo mundo usava terno e gravata, hoje vão de calça jeans e camiseta”, recorda o alfaiate, que também lembra que o jornalista de outros tempos andava mais alinhado.

Filhos não sabem nem pregar botão

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O perfil do cliente é variado. O conserto de roupas traz bastante mulher, já na produção de peças o público é predominantemente masculino. A idade também varia muito. “Não tem como dizer ao certo. Os mais novos vêm fazer mais conserto, mas o terno sempre tem alguém que vem pedir”, conta o alfaiate, que não tem nenhum funcionário e conta com a ajuda da esposa

Nenhum dos quatro filhos -três homens e uma moça – seguiu a carreira do pai. “Acho que nem pregar um botão não sabem”, brinca. Os seis netos fazem a alegria de Orestes, que alterna seu tempo entre trabalho e cuidar dos pequenos. Sobre o futuro dos alfaiates, ele pensa que a pessoa que se interessar tem que aprender junto com os mais experientes para vivenciar na prática a profissão. Sem um curso técnico, o jeito é aprender com os mais velhos.

Allan Costa Pinto
Orestes quer trabalhar até os 100 anos: “Não quero parar. O que vou fazer em casa?”.