Apesar das mudanças na configuração da família e na forma de educar os filhos, não adianta: pai é pai e seu papel continua sendo de fundamental importância para o desenvolvimento de certas habilidades. Embora ainda sejam vistos como provedores, eles estão cada vez mais atuantes no crescimento das crianças, executando papéis que antes estavam restritos à mãe – além da tradicional tarefa de passar a elas a habilidade de resolver os problemas práticos da vida. Mesmo assim, nunca é tarde para colher conselhos, experiências e aprender um pouco mais sobre a arte – e a responsabilidade – de ser o homem da vida dos seus filhos.

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A figura do pai demorou a ser foco da psicologia e os estudos sobre suas influências sobre os filhos começaram apenas na década de 60. ?Com isso, houve sempre supervalorização da figura da mãe: ser bom pai é ser apenas um bom pai; ser boa mãe sempre implica em outras características, como ser boa esposa, ou boa dona- de-casa?, explica a psicóloga e coordenadora do Núcleo de Análise do Comportamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber. No entanto, hoje sabe-se que muitas coisas estão agregadas nesse título. ?Ainda hoje o pai tem a função mais lúdica. Mesmo quando os dois trabalham, a mãe chega em casa e passa a arrumar a cozinha, fazer a janta, e o pai pode divertir-se jogando as crianças para o alto, brincando de desarrumar a casa, dizendo aos filhos: ?Cuidado, a mãe vem vindo?, ou levando os meninos ao futebol. Mas hoje já tem o papel de trocador de fraldas também, de levantar de madrugada para dar mamadeira ou ver se o bebê está com cólica, de fazer a janta enquanto a mãe ajuda na lição de geografia?, complementa.

Autora do livro Eduque com carinho: equilíbrio entre amor e limites, Lídia afirma que é natural, quase esperado que o pai coloque menos limites e regras que as mães; ao mesmo tempo, apontam suas pesquisas, eles também são um pouco mais ausentes no que se refere ao afeto – situações que devem ser equilibradas para não gerar controvérsias. ?Isso significa envolvimento, participação e interesse permeados de regras e limites. Trata-se de ser um pai participativo, diferente do autoritário ou, no outro extremo, do negligente.?

O psicólogo Mauro Godoy alia o papel do pai a seus estudos na área da antropologia. ?Nesses termos, o pai é aquele que ensina o filho a ter limites práticos e carrega a figura de ser o mais bravo, aquele a quem respeitamos mais?, define. Por outro lado, a fusão dos papéis tem causado algo positivo – uma vez que a mãe seria a detentora dos limites emocionais. ?As coisas não são mais resolvidas só com a emoção ou com a razão. Os filhos tendem a pesar os dois lados na hora de tomar decisões ou resolver problemas, diminuindo o risco de se arrependerem?, avalia.

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Nesse sentido, ele indica: pais devem aproveitar o espelho que têm sido para os filhos de forma a torná-los ativos. ?Pai não é só aquele que resolve, mas o que deve ensinar a resolver. O objetivo é que o filho aprenda a ser seu próprio pai, afinal, ele é o herdeiro, aquele que vai continuar os projetos. O filho entra como motivação, entusiasmo, perspectiva e é o fato de mudar todos os dias que projeta o pai para o futuro, dando combustível para viver?, finaliza.

Ligação especial para o resto da vida

Foto: Ciciro Back/O Estado

Custódio Martins: ?Pai de um portador tem que redobrar em todos os sentidos?.

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Ser pai de um portador de necessidades especiais não é tarefa fácil, mas eles garantem: amam se dedicar aos filhos. Custódio Martins de Oliveira foi pai três vezes. O primeiro filho, Uriel, nasceu anencéfalo e faleceu; a segunda, Sâmela, tem saúde perfeita; e a terceira, Egla, possui a síndrome do cromossomo 15, um caso raro que alia características autistas e psicoses. ?Tem 22 anos, mas o desenvolvimento mental de uma menina de três anos?, conta o pai, que, a partir da necessidade da filha, pautou a vida de sua família.

?Viemos para Curitiba porque era a capital que dava melhores condições de atendimento ao portador de necessidades desconhecidas?, lembra Custódio. Passou, então, a se especializar na área da Educação Especial e transformou a deficiência de Egla em motivação para sua eficiência profissional. Hoje, além de pai e cuidador, ele é coordenador de Planejamento da Apae. ?O pai de um portador tem que se redobrar em todos os sentidos e até assumir posturas maternas. À noite, sou eu quem dou banho nela?, relata.

Ele acredita ter achado respostas para os porquês que se fazia ao perceber que a filha possuía uma síndrome rara.

?Hoje entendo o motivo pelo qual ela é assim e me considero um perseguidor da pílula para a dor da alma. Mas buscamos crescer nas circunstâncias, ainda que extremamente adversas, e encontramos essa oportunidade na presença daquele que é o criador de todas as coisas?, enfatiza o pai, que afirma encontrar em Deus a força para lutar pela filha.

Adelmar e a filha: ?A gente abdica
do trabalho, mas aprende a ser solidário?.

Assim como a vida dele, a de Adelmar Elias Babinski, pai de portador de necessidade física, também mudou. O filho, Júnior, passou a depender de cadeira de rodas após ter tido paralisação de parte do corpo, aos nove anos.

?A gente abdica de trabalho, horários, mas também aprende a ser solidário, a se emocionar e ver o mundo de outra forma?, afirma.

Júnior hoje tem 22 anos e, graças ao cuidado de Adelmar, pratica atletismo. A irmã, Ana Carla, é quem dá os louros ao pai. ?Nós o temos como exemplo. É dedicado, tem paciência e abdica de muitas coisas pela família. Nos ensinou que tínhamos que nos adaptar ao Júnior e, se ele não pudesse fazer, nós também não faríamos?. Neste domingo, farão o tradicional almoço de Dia dos Pais. ?Hoje o dia é só dele?, garante a filha.

Filhos adotivos e dedicação em dobro

Foto: Fábio Alexandre/O Estado

Dante Zanetti e a família: ?Teus objetivos passam a ser as crianças?.

Dante Zanetti, funcionário público, é o típico paizão. Apaixonado pelos filhos, se dedica a eles com trabalho e executando as tarefas da casa, as quais divide com a esposa, Miriã. À noite, é ele quem vai para a cozinha, além de lavar a roupa e ajudar na lição de casa. Tudo isso sem falar na parte das brincadeiras, que não faltam no dia-a-dia das crianças, assim como as broncas e limites que devem ser impostos no momento certo. O motivo para tudo isso? Quem responde é Beatriz, a filha de 9 anos. ?Ele sempre diz para a gente que, se não tivesse nos adotado, não poderia ser pai.?

É exatamente isso que ela e o irmão, Alisson, deram a Dante: a oportunidade de ser pai. Filhos adotivos, Beatriz veio para o casal logo que nasceu; já com Alisson foi diferente.

Escolheu os pais, como eles mesmos dizem, aos quatro anos. E hoje, com sete, tem neles seu porto seguro.

?Meu pai é muito ?gente boa?, resume o garoto, que passa hoje o terceiro Dia dos Pais de sua vida. Antes, não sabia sequer que a data existia, já que na instituição onde morava nem mesmo as comemorações de Natal aconteciam.

?Não existe diferença entre filho biológico e adotivo, acho apenas que Deus acaba colocando no teu caminho de outra forma?, diz o pai. Amor, para ele, é sempre igual, em qualquer condição – e como todo sentimento, deve ser aos poucos construído. Mas o que muda mesmo com relação a ter filhos é a satisfação.

Transformação

?É o sentimento de ajudar na construção de um ser humano, de sua personalidade. Você é responsável por tudo no começo, deixa suas prioridades de lado e seu egocentrismo. Tudo se transforma, você passa a pensar exclusivamente no bem-estar deles e no futuro de cada um. É incrível, maravilhoso. Ao mesmo tempo é um aprendizado a cada dia. Os teus objetivos passam a ser as crianças?, descreve.

Miriã e as crianças estão preparando uma surpresa para hoje: um cartão e uma música, especialmente cantada e encenada para o pai.

?Ficamos escondidos na casinha de bonecas preparando o presente?, conta Alisson. Quando o revelarem, Beatriz sabe exatamente o que vai acontecer. ?Ele vai chorar!? Eles sabem que, para toda a família, o fato de terem se encontrado vai permitir que hoje, mais uma vez, o Dia dos Pais seja comemorado como manda a tradição.

Pais separados: o que e quanto muda?

Foto: Arquivo/O Estado

Lídia: ?Sem medo de regras?.

As pesquisas da psicóloga Lídia Weber atestam: famílias com pais presentes têm menos freqüência de crianças com sintomas anti-sociais e melhores indicadores de ?status? socioeconômico do que famílias cujo pai saiu de casa. ?Assim, há maior probabilidade de a criança desenvolver comportamento anti-social quando o pai saiu de casa e ainda mais quando não participa em nada da vida familiar?, conclui.

No entanto, apesar de a criança sentir diferença no fato de os pais serem separados, isso pode se diluir dependendo da relação que pai e filhos mantiverem após a separação. ?Não se pode ter medo de disciplinar e colocar regras. Tem de ser pai como se estivesse junto, e participar de fato. Papel de pai é de pai, e não de amigo?, indica.

A psicóloga cita ainda que estudos sobre pais ausentes e presentes mostram que o divórcio em si, e a freqüência de contato entre pai e criança não têm relação com o fracasso ou sucesso escolar, mas, sim, que existe uma correlação positiva entre o sucesso acadêmico e o tipo de apoio dado pelo pai, o vínculo emocional entre pai e filhos e o estilo parental mais exigente -características que podem reinar sob qualquer circunstância. ?É preciso lembrar que não existe divórcio entre pais e filhos.?

Quem comprova é a estudante Evelyn Cristini da Silva, de 12 anos. Os pais se separaram quando ela era ainda bebê, fato que a fez crescer sob os cuidados da mãe e dos avós. Apesar de se considerar um pouco diferente por isso, o relacionamento pai e filha não deixou de ser construído. ?Todo final de semana fico com ele. A gente anda de bicicleta, vai ao parque. Mas ele também é rígido, fiscaliza as notas e vai às reuniões com professores?, conta.

Ela acredita que, se vivesse com o pai, as coisas seriam um pouco diferentes. ?Não é como todos os pais, que estão sempre presentes. Nem sempre ele pode sair comigo e, se estivéssemos na mesma casa, eu saberia a hora que ele acorda ou vai dormir.? Mesmo assim, ela sabe a alegria que é o fato de ter um pai para comemorar o dia especial. ?Quando reclamo, minha avó me faz lembrar de quantas crianças gostariam de estar em meu lugar.?