A partir de agora, crianças de até catorze anos de idade, pertencentes à aldeia indígena Karuguá (arco-íris), da comunidade guarani, na região dos mananciais da serra, às margens da barragem da Sanepar em Piraquara, na Grande Curitiba, poderão estudar sem deixar de lado suas crenças e costumes.
Ontem de manhã, o arcebispo de Curitiba, dom Pedro Fedalto, esteve na aldeia para inaugurar a primeira escola indígena construída pelo Núcleo de Ação Comunitária da Associação Franciscana Senhor Bom Jesus, mantenedora do Colégio Bom Jesus e da Faculdade de Administração e Economia (FAE), em Curitiba. Há cerca de três anos a associação mantém um projeto de apoio à cultura indígena, através da doação de roupas, alimentos, materiais escolares e outros utilitários.
O professor do núcleo, Francisco Carlos Lopes da Silva, conta que as crianças serão alfabetizadas, por integrantes da própria aldeia, em duas línguas: português e guarani, falada entre eles. ?A maioria dos índios da aldeia Karuguá fala o guarani. Muitos entendem o português, mas não sabem falar nem escrever?, comenta. Segundo o professor, as aulas em guarani permitem preservar a cultura dos índios. Já as em português facilitarão o convívio e o contato deles com os brancos, ?combatendo o preconceito e estreitando os laços de amizade?.
Segundo Fedalto, o principal objetivo da escola, além da preservação da cultura indígena, é proporcionar uma vida mais digna aos índios. ?A escola contribuirá para que eles não sejam marginalizados devido a suas diferenças, mas sim respeitados?, afirma.
Para comemorar, os índios dançaram e cantaram, apresentando um pouco de sua cultura aos visitantes presentes. ?Ter uma escola dentro da aldeia vai facilitar bastante a vida das famílias indígenas?, afirma o cacique Marcolino da Silva. ?As outras escolas ficam longe da aldeia, o que dificulta nosso acesso. Porém, o melhor de tudo é que nossas tradições poderão ser respeitadas.?
A escola, que recebeu o nome de Mbyá Arandu (sabedoria guarani), teve investimento de R$ 8 mil da Associação Bom Jesus, que também gastou R$ 3 mil com a produção de mil cópias de um CD cantado por integrantes da aldeia. Segundo Francisco Carlos, a venda do CD ajuda a cobrir as despesas com necessidades básicas de alimentação dos índios. O governo do Estado também vai contribuir com o funcionamento da instituição doando materiais escolares.
Aldeia
A aldeia Karuguá abriga treze famílias, compostas por cerca de sessenta pessoas, sendo cerca de trinta crianças. Seus integrantes chegaram a Piraquara no dia 14 de dezembro de 1999, vindos da aldeia de Palmeirinha, em Chopinzinho, no Sudoeste do Estado.
A aldeia é composta por algumas casas feitas de madeira e outras de taquara, cobertas com folhas de palmeira e paredes de barro batido com chão de terra. Para manter suas origens, os índios não deixam de falar o guarani e realizam rituais de cantos e danças todos os dias ao anoitecer. Eles vivem da venda do CD, do comércio de artesanato, do plantio principalmente de milho e mandioca e de doações feitas por visitantes e pessoas amigas.