Álcool é o maior vilão da saúde no Brasil, diz OMS

O consumo de bebidas alcoólicas é o principal fator de redução da expectativa de vida saudável do brasileiro. A informação está no Relatório Mundial de Saúde 2002  divulgado hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Excesso de peso, pressão alta e fumo também estão na lista dos dez principais fatores que ameaçam a qualidade de vida das pessoas.

Especialistas brasileiros ressaltam que além dos itens relacionados ao estilo de vida, a saúde no Brasil é ameaçada por fatores de origem social, econômica e política.

“Desemprego, trânsito e violência também são fatores de risco importantes no País, principalmente nas grandes cidades”, diz Márcia Faria Westphal, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. “Não é só estilo de vida que interfere no processo de saúde e doença.”

Na origem do consumo de álcool, por exemplo, pode estar a falta de emprego. E, como conseqüência do uso da bebida, os destaques são acidentes de trânsito e atos de violência. “A cada ano no País, cerca de 29 mil mortes no trânsito estão relacionadas ao álcool”, ressalta Maurício Gattaz, coordenador do Serviço de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas. Os jovens são os mais atingidos.

O segundo lugar da lista dos dez principais fatores de risco para o Brasil é ocupado pelo excesso de peso. Mas a professora Eleonora Meneccuti, relatora de saúde da Plataforma de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais da Organização das Nações Unidas no Brasil, considera a falta de alimento problema maior do que a obesidade. “O baixo consumo de alimentos atinge mais de 40% dos brasileiros.”

Outro fator de risco que preocupa os especialistas é a exposição ao chumbo. O problema afeta trabalhadores de minas de carvão, da indústria metalúrgica e de componentes eletrônicos. Eleonora explica ser obrigatório que essas empresas forneçam equipamentos de proteção (máscara e roupas) a seus funcionários, mas nem todas cumprem a norma.

De acordo com a OMS, a expectativa de vida no Brasil é de 68,7 anos. Mas entre 15% e 20% dos anos de vida de um brasileiro são desperdiçados por causa das condições precárias de sua saúde. Segundo o relatório, a maior parte da América Latina, incluindo o Brasil, pode aumentar a expectativa de vida saudável em quase sete anos se adotar medidas preventivas dos fatores de risco.

“O relatório mostra um panorama mundial das causas das doenças, um mapa de como preveni-las”, disse o principal cientista do relatório da OMS, Majid Ezzati. “Os sistemas de saúde têm tendência de curar doenças. Mas podemos preveni-las, atuando sobre os fatores de risco.”

Para Eleonora, o relatório da OMS reforça a denúncia de falta de políticas preventivas de saúde no País e deve servir para fundamentar futuras ações. “Temos de prevenir doenças e promover saúde.”

Divergências

Por pressão do Brasil, o relatório de saúde da OMS não estabelece mais um ranking dos países segundo indicadores de saúde e qualidade de vida. A mudança ocorreu depois de o relatório de 2000 ter colocado o Brasil na 125.ª posição entre 191 países. O Brasil acusou a OMS de adotar “padrões nórdicos” para avaliar o sistema de saúde pública.

Além da eliminação do ranking, o Brasil e outros países reivindicaram que a OMS enviasse os resultados de seus estudos antes de publicar o relatório para que os governos dessem seu parecer. Mesmo sem o ranking, o governo brasileiro ficou insatisfeito com a nova metodologia. A OMS foi obrigada a mencionar que os dados divulgados hoje não foram reconhecidos pelo Brasil. Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Holanda também não reconheceram os dados do novo relatório.

“Há erros de dados e de metodologia”, afirma José Marcos Nogueira Viana, assessor especial do ministro da Saúde para assuntos internacionais. O País não questiona os fatores de risco apontados, mas dados numéricos.

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