Água, fonte da vida, não é inesgotável

O corpo de um adulto, assim como o nosso planeta, é formado por 70% de água. Podemos ficar várias semanas sem comer, mas se não ingerirmos água, em dois dias, começa o processo de falência múltipla dos órgãos, que pode levar uma criança à morte após cinco dias e em dez um adulto. Não há dúvidas de que a água é um patrimônio não só da humanidade como de todos os seres vivos. Por essa razão, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou durante a semana a Campanha da Fraternidade com o tema “Água, fonte de vida”. O objetivo principal é chamar a atenção para o valor vital da água, sua importância social e a necessidade da participação popular no gerenciamento dela no Brasil.

O aumento excessivo nos últimos séculos no índice de poluição e desperdício da água, além de preocupar especialistas, vem causando problemas cada vez mais visíveis. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas não tem água de qualidade para beber e 2,4 bilhões não têm serviços sanitários adequados. A cada ano morrem dois milhões de crianças devido a doenças causadas por água contaminada. No Brasil, segundo dados da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), 20% da população brasileira não tem acesso a água potável, 40% da água das torneiras não tem confiabilidade, 50% das casas não têm coleta de esgoto e 80% do esgoto coletado é lançado diretamente nos rios, sem qualquer tratamento.

O conhecimento de que o planeta possui cerca de 1,35 bilhão de quilômetros cúbicos de água dá uma ilusória idéia de que a água é um elemento inesgotável, abundante e renovável. Mas a verdade é que 97,2% deste valor é formado por água salgada, 2,1% é encontrado em geleiras e calotas polares e apenas 0,7% constitui a água útil para o consumo e disponível nos rios, lagos, lençóis subterrâneos, umidade do solo e umidade da atmosfera, por meio do vapor d?água. Além de ser um recurso natural de valor econômico, estratégico e social, a água é uma substância fundamental para os ecossistemas na natureza, ela é o solvente universal que propicia a higiene e limpeza dos seres vivos. Além disso, os seres humanos utilizam tal líquido para outras funções como lavar louça, roupa, alimentos, cozinhar, entre outros. Em nível mundial, esse uso corresponde a 10% da utilização da água. No Brasil, o consumo humano é responsável por 18% da utilização de nossa água. Segundo a ONU, uma pessoa precisa de 40 litros por dia para manter sua saúde.

Crise

Hoje a destruição de mananciais, devido à devastação das matas ciliares, a contaminação por agroquímicos, resíduos industriais, metais pesados pelos garimpos, esgotos urbanos e hospitalares, e o aumento do uso deste líquido na agricultura, pecuária, indústria e consumo humano, vem provocando a crise da água. Para a ONU, em 2050 faltará água para 40% da população. Especialistas antecipam esse prazo para 2025.

A técnica de Educação Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, Cyntia Leitão, afirma que a população ainda não tem idéia do que a água representa. Entretanto, ela ressalta a necessidade da população de preservar esse elemento vital, antes. Ela acredita que são necessárias medidas extremas e custosas, como utilizar as águas dos icebergs ou dessalinizar a água do mar. “Uma atitude de cada pessoa pode contribuir muito para o futuro de todas”, acrescenta ela.

Dicas

Imagine que, ao invés de simplesmente abrirmos uma torneira, precisássemos andar quilômetros todos os dias para buscar água e, quando chegássemos no local, o rio estivesse poluído e a única água que se poderia usar é aquela para fazer comida, tomar banho e matar a sede. Imaginou? Essa é a realidade de um bilhão e meio de pessoas no mundo e, segundo José Galizia Tundisi, escritor, biólogo e liminólogo, esse índice pode aumentar ainda mais no decorrer dos anos.

Cada pessoa gasta cerca de 250 litros de água por dia de uma forma generalizada. Entretanto ações como fechar a torneira quando for escovar os dentes ou fazer a barba, tomar banho de cinco minutos, deixar talhares e pratos de molho dentro da pia antes de lavar, usar baldes ou em vez de mangueira para lavar o carro ou a calçada, são algumas atitudes que fazem e diferença com relação ao cuidado na qualidade da água e ainda economizam na conta.

Aqüífero Guarani

 

A maior reserva subterrânea de água doce do mundo está sob o solo paranaense. O Aqüífero Guarani, localizado na região centro-leste da América do Sul, ocupa uma área de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, estendendo-se pelo Brasil (840.000 quilômetros quadrados), Paraguai (58.500 quilômetros quadrados), Uruguai (58.500 quilômetros quadrados) e Argentina (255.000 quilômetros quadrados). Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total), abrangendo os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Esse reservatório de proporções gigantescas de água subterrânea é formado por derrames de basalto ocorridos nos períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo Inferior (entre 200 e 132 milhões de anos). É constituído pelos sedimentos arenosos da Formação Pirambóia na base (Formação Buena Vista na Argentina e Uruguai) e arenitos Botucatu no topo (Misiones no Paraguai, Tacuarembó no Uruguai e na Argentina).

A espessura total do aqüífero varia de valores superiores a 800 metros até a ausência completa de espessura em áreas internas da bacia. Considerando uma espessura média aqüífera de 250 metros e porosidade efetiva de 15%, estima-se que as reservas permanentes do aqüífero (água acumulada ao longo do tempo) sejam da ordem de 45.000 quilômetros quadrados.

O Aquífero Guarani é uma importante reserva estratégica para o abastecimento da população, o desenvolvimento das atividades econômicas e do lazer. As águas em geral são de boa qualidade para o abastecimento público e outros usos. Sua porção confinada (os poços) tem cerca de 1.500 metros de profundidade e pode produzir vazões superiores a 700 metros cúbicos por hora.

O Estado do Paraná é a região que mais explora a água do aqüífero para o consumo humano. Hoje, cerca de 30 poços espalhados pelo Estado extraem água do reservatório e a vazão media é de 40 metros cúbicos por hora, taxa considerada baixa diante da potencialidade da reserva, ainda pouco utilizada.

Sanepar atende 342 municípios do Estado

 

A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), criada dia 23 de janeiro de 1963 para cuidar das ações de saneamento básico em todo o Estado, é uma empresa estatal, de economia mista, cujo maior acionista é o governo do Estado, com 60% das ações. O Paraná, quando a Sanepar foi criada, tinha um baixo índice de atendimento da população com água tratada e esgoto. Apenas 8,3% da população recebia água tratada e 4,1% tinha rede de esgoto. Das 221 sedes municipais existentes na época, 19 possuíam os serviços de água e esgoto e 37 recebiam somente água tratada. Hoje, segundo o diretor de operação Pierre-Yves Mourgue, a Sanepar está presente em 342 municípios dos 399 que o Estado possui. Desses, cerca de 98,7% da população são atendidas com água tratada e 40% com esgotamento sanitário.

O sistema de tratamento é feito por meio de captação da água de rios e poços e o transporte delas para as estações de tratamento por adutoras. O primeiro passo para o tratamento da água é a adição do sulfato de alumínio para a coagulação das impurezas em suspensão. Esses flocos, mais pesados que a água, se depositam no fundo dos tanques, processo conhecido como decantação. Depois a água passa por um filtro com areia e carvão antracito. Em seguida, é adicionado o cloro, que garante a desinfeção da água. Já o procedimento do tratamento da água coletada em esgoto recebe dois tipos de tratamento. Um deles é o processo aeróbio, que é feito em estações de tratamento que promovem a decomposição do esgoto. Ao final, 98% da matéria orgânica é removida. O outro sistema é o Reator Anaeróbico de Lodo Fluidizado, uma tecnologia desenvolvida pela Sanepar. O processo não necessita de energia complementar e ainda gera gás metano. Seu grau de eficiência varia em torno de 80%. O lodo resultante dos processos de tratamento do esgoto, depois de desinfetado, pode ser utilizado como insumo agrícola. De acordo com Mourgue, a água que a população recebe em casa segue rigorosamente os padrões determinados pela Organização Mundial da Saúde.

“Preservando Nascentes” quer manter a qualidade

 

Para continuar mantendo a qualidade da água no planeta, a Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba lançou o programa Preservando Nascentes. O objetivo principal, como o próprio nome sugere, é preservar as nascentes dos rios e córregos de Curitiba, por meio de ações de educação ambiental, aliada a propostas de conservação e paisagismo num processo de co-responsabilidade entre a comunidade e o poder público.

Desde que foi lançado em 1999, o programa possui duas vertentes: uma é o levantamento da quantidade de nascentes e o diagnóstico da situação ambiental. A outra é a participação da população na gestão dos recursos hídricos.

O projeto já localizou mais de 260 nascentes, das quais 63% não constavam em mapa oficial, demostrando o seu pioneirismo. Desse total, o maior número cadastrado foi na bacia do Rio Belém (136), que foi rastreado desde as suas principais nascentes até o sul da cidade, quando o rio desemboca no Iguaçu.

Como parte do programa, no dia 24 de novembro de 2001, foi implantado um parque de 11.178,24 metros quadrados no bairro Cachoeirinha. No local estão localizadas as principais nascentes do Rio Belém, com a finalidade de também preservar as nascentes do rio, que é considerado patrimônio natural da cidade.

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