Agrotóxicos põem consumidor em risco

Mais da metade dos alimentos in natura disponíveis nos supermercados contém resíduos de agrotóxicos. Esse foi o resultado da análise feita pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) divulgado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última quinta-feira, durante o Seminário Nacional de Agrotóxicos, Saúde e Ambiente, em Recife (PE). Os produtos analisados foram alface, banana, batata, cenoura, laranja, maçã, mamão, morango e tomate.

Entre 2001 e 2004, o programa da Anvisa analisou 4.001 amostras de alimentos, coletadas em supermercados de 15 estados brasileiros, e encontrou resíduos de agrotóxicos em 2.032 amostras. Ao todo, foram identificadas 3.271 substâncias diferentes. De todos os resíduos encontrados, 71,5% estavam regulares, de acordo com a legislação vigente. Dos 931 resíduos irregulares, 83,4% eram de agrotóxicos não autorizados para a cultura analisada. O restante das irregularidades, 16,6%, era de resíduos encontrados em níveis acima do permitido pela legislação.

Numa análise ano a ano, o estudo revela uma redução no número de resíduos irregulares. No entanto, essa redução não deixou os especialistas satisfeitos, principalmente nos casos do alface, que apresentou aumento nas irregularidades, e do morango, que apesar de ter apresentado redução, ainda mostrou irregularidade em 39,07% das amostras.

Mas o gerente de avaliação de riscos da Anvisa, Ricardo Veloso, está otimista com relação aos próximos anos. "Ainda é cedo para saber até que ponto podemos chegar. Mas, como já conseguimos ver redução em quatro anos de programa, podemos esperar novas reduções daqui para frente." Veloso ainda destacou o Paraná como um exemplo para o programa. "Além de ser um dos pioneiros no Para, o Paraná possui laboratórios bem preparados e uma fiscalização constante, tanto nos supermercados quanto junto aos produtores."

Um dos representantes paranaenses no seminário, o sanitarista Alfredo Bonatto, da Secretaria de Estado da Saúde, destacou que o trabalho do Paraná no controle de agrotóxicos vem desde 1985, quando foi criada uma lei específica sobre o assunto. Ele ressaltou que, além da fiscalização, "o Paraná possui um plano de governo para controlar e educar o produtor paranaense quanto ao uso irregular de agrotóxicos". Desde o ano passado, mais de quatro mil agricultores já foram visitados.

Para o sanitarista, a principal missão do programa é expor os riscos ao consumidor. Ele lembra que as conseqüências de se consumir produtos com excesso de agrotóxicos não são imediatas. Por isso, gestantes e crianças formam o grupo de pessoas que precisa de maior cuidado com esses produtos. Já que se pode identificar, na prateleira do supermercado, o produto contaminado, Bonatto recomenda o consumo de produtos orgânicos. Devido à dificuldade de acesso aos orgânicos, seja por causa do preço ou pela pouca oferta, ele também indica uma variação na alimentação. "Se comer tomate hoje, só volte a comer na próxima semana." Práticas simples, como lavar o alimento em água corrente e, se for o caso, cozinhá-lo antes do consumo, também podem ajudar.

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