A construção de uma barragem na Colônia Muricy, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, está preocupando os agricultores do local, um dos maiores produtores de hortaliças e frutas da região. O medo dos moradores da colônia é que, com a construção da barragem, muitas propriedades sejam inundadas e pessoas desapropriadas. Sem falar que a área que não seria inundada também poderia ser afetada indiretamente, pois no entorno da barragem não poderia ser feita a utilização de agrotóxicos e os trabalhadores teriam que optar pela agricultura orgânica, o que também não os está agradando.
Pessoas que moram há mais de 50 anos na região contam a apreensão diante da possibilidade de perder suas terras. ?Para onde vamos? Não temos estudo e vivemos disso. Vão querer indenizar o quanto quiserem, mas nós não temos terra para dar de graça?, lamenta a dona de casa Alódia Schulis. Seu filho, Alceu Shulis, até mesmo organizou uma associação de moradores insatisfeitos com o projeto da barragem. Segundo ele, o uso da agricultura orgânica não seria viável para quem trabalha na região. ?Há vários tipos de verduras e legumes que não temos como produzir desta forma. A produção cairia cerca de 95%?, reclama.
O secretário de Agricultura e Abastecimento de São José dos Pinhais, Osmar Fuggiatto, também se mostra preocupado. Para ele, é essencial para o município manter a agricultura familiar e não prejudicá-la. ?Não somos contra a construção, mas queremos saber qual seria o impacto econômico e social dessa obra. O trabalhador do campo ficaria desempregado se tivesse que ir para a cidade?. Ele afirma que a prefeitura já solicitou à Sanepar um detalhamento do impacto, que ainda não teria sido entregue.
De acordo com o coordenador do projeto da barragem na Sanepar, José Roberto Zen, está sendo feita uma complementação ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima), já entregue ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP), justamente para atender à solicitação do município. Zen explica que, de acordo com o documento, os agricultores não seriam prejudicados, pois apenas 10% de área de agricultura seria alagada. ?Captamos água do Rio Miringuava há cerca de 20 anos e nunca tivemos problemas com a agricultura, seja com os trabalhadores, seja com a utilização de agrotóxicos. A construção da barragem é necessária para atender o crescimento da população?, explica. Segundo ele, hoje o Rio Miringuava atende a cerca de 450 mil moradores da região de São José dos Pinhais. Com a construção da barragem, o número dobraria.
De acordo com o IAP, o projeto da barragem ainda está em fase inicial, ou seja, ainda não foi autorizado qualquer tipo de obra no local da Colônia Muricy. Ainda, segundo o órgão, a complementação do EIA-Rima não foi entregue pela Sanepar. Segundo Zen, a previsão para início da construção da barragem é em 2009.