Agricultores ocupam área de empresa de sementes

Cerca de mil agricultores dos movimentos que compõem a Via Campesina ocuparam, na manhã de ontem, o campo experimental da transnacional de sementes Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, próximo a Cascavel, no Oeste do Paraná. Os camponeses denunciam o experimento ilegal de transgênicos na área, localizado na zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu. Há uma lei federal que proíbe o plantio de sementes de soja transgênica nas áreas de unidade de conservação e respectivas zonas de amortecimento.

Os manifestantes reivindicam a interdição imediata, embargo e autuação das atividades da Syngenta na área, a responsabilização criminal, civil e administrativa da empresa e seus diretores, ressaltando a aplicação das multas cabíveis, a responsabilização criminal, civil e administrativa dos membros da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança que autorizaram estes experimentos em área proibida, e uma fiscalização rigorosa pelo Ibama em toda a zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu.

A irregularidade já havia sido detectada pelo Ibama, que, semana passada, realizou uma vistoria no campo experimental da empresa e constatou a existência ilegal de cerca de 12 hectares de cultivo de soja geneticamente modificada na área próxima ao parque. "A existência de soja transgênica na região foi, de fato, comprovada, e a área já foi embargada", revelou o superintendente do Ibama no Paraná, Marino Gonçalves, que lembrou que na fazenda também há plantações de milho, que serão testadas, pois o milho transgênico é proibido no Brasil. O Ibama também estudava a aplicação de multa por "possível ocorrência de crime contra a Lei de Biossegurança". A lei proíbe o plantio de transgênico num raio de até 10 quilômetros, entre outros ecossistemas, de unidades de conservação. O campo experimental estaria a cerca de 6 quilômetros do Parque Nacional do Iguaçu. "Provavelmente esse pessoal não tem licença para operar ali", concluiu o superintendente, dizendo-se surpreso com a ocupação.

Participando da Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biodiversidade, o governador Roberto Requião reconheceu que o estado é obrigado a fazer as reintegrações de posse, mas lembrou que tem uma boa relação com os movimentos sociais, principalmente o MST, ao qual a Via Campesina é ligada.

O governador pediu para que os camponeses não destruam as plantações para evitarem maiores transtornos, mas informou que irá pedir ao governo federal autorização para a Polícia Militar queimar as plantações irregulares. Assim, o governador acredita estar poupando os manifestantes, que, segundo ele, já fizeram muito ao identificar e denunciar a infração.

E essa parece ser a orientação aos manifestantes. A orientação da coordenação do movimento é para não destruir as plantações, uma vez que elas são as provas das irregularidades cometidas pela empresa. O coordenador regional da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Roberto Baggio, disse que a entidade está aguardando a interdição imediata dos trabalhos da Syngenta.

Manifestantes  não encontraram resistência

Londrina (AE) – A ação dos manifestantes, a maioria ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), começou por volta das 11h. Com carros, caminhonetes, motocicletas e caminhões, eles avançaram sobre o campo experimental da empresa, sem encontrar resistência. Os funcionários foram obrigados a ir para casa. Apenas uma equipe de pesquisadores permaneceu no local, para resguardar os laboratórios da empresa.

Os agricultores ocuparam o prédio da administração e se concentraram no portão principal, para controlar a entrada e saída das pessoas. A imprensa não teve acesso ao interior da empresa. Nilda Ramos Barbosa, uma das líderes do movimento, informou que a ação foi pacífica e é por tempo indeterminado. "A empresa está funcionando irregularmente por desenvolver atividades de transgenia numa área de preservação ambiental. A Via Campesina está pedindo a interdição da empresa pelo Ibama", explicou Nilda.

O campo experimental, de 40 hectares, fica dentro da faixa de 10 quilômetros da área de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

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