O impasse entre agricultores e a Petrobras por uma área de São Mateus do Sul parece longe do fim. A discussão foi travada há mais de dois anos quando a estatal, na tentativa de ampliar a exploração de xisto na região, comprou uma propriedade de 234 alqueires, pertencente a um grupo de 72 agricultores. O problema é que três deles recusaram a proposta da empresa e se negam a deixar o local.

“Não concordamos com o valor que ficou acertado. Com a oferta deles não daria para comprar nem 20% da terra que temos hoje”, conta o agricultor Anísio Milcheski, 41 anos, que recusou a proposta da estatal. A Petrobras, segundo ele, ofereceu R$ 4.140,00 pelo alqueire ? valor bem abaixo do mercado, que, de acordo com o agricultor, seria de oitocentos sacas de soja por alqueire. Considerando que a saca está cotada a quase R$ 48, o valor de um alqueire pleiteado por Milcheski é de R$ 38.400. Ele alega também que a indenização deveria ser feita em forma de área agrícola e não em dinheiro. “Queremos terra e não dinheiro”, defende.

O agricultor aponta ainda outro problema: a Petrobras estaria desmatando araucárias e imbuias nativas da região. “Não sei se o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) autorizou, mas se foi autorizado, por que nós agricultores também não podemos derrubar as árvores?”, questiona. Segundo ele, cerca de seiscentos pinheiros foram derrubados.

Petrobras

O gerente de Manutenção Industrial da Petrobras na unidade de São Mateus do Sul, Élio de Jesus Paes, explica que o valor pago aos proprietários é o preço de mercado e, em alguns casos, chega a 50% acima do praticado. “Todos os processos que foram periciados confirmaram que o valor pago pela Petrobras era de mercado ou estavam até 50% acima do valor, dependendo a localização e as benfeitorias”, garante. Segundo ele, o montante chega a quase R$ 2 milhões. “Houve uma avaliação cuidadosa com cada parte.” Desde dezembro do ano passado, a Petrobras tem emissão de posse da área, mas ela tem preferido a negociação. “Grande parte da terra está conosco e já estamos construindo redes elétricas, abrindo caminhos. Nos próximos dias teremos que chegar a um acordo com os agricultores que restam.” Com relação ao desmatamento, Paes explica que a empresa tem autorização do IAP para derrubar uma área de 26,5 alqueires de mata nativa.

Para o secretário de governo de São Mateus do Sul, Oswaldo João Jasinski, a desapropriação de terras pela estatal é necessária para a economia local. “A Petrobras é a empresa mais importante da região e sempre foi muito correta na desapropriação”, aponta. Segundo ele, a briga foi travada porque os agricultores estariam superestimando a propriedade. “Nossa preocupação é que a Usina de Xisto não pare. Ela é vital para a nossa economia”, diz.

Contradições

Segundo levantamento feito pelo Paraná-Online, o impasse envolve uma série de contradições. A primeira é que, de acordo com o agricultor Anísio Milcheski, a área pertenceria a 46 pessoas e não 72, conforme informação da Petrobras. Já o número de proprietários que não concordaram com a oferta da estatal seria 26 e não três. Também o tamanho da área em questão é dúbio: enquanto o agricultor alega que são 160 alqueires, a Petrobras diz que são 234.

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