Anderson Tozato / GPP |
Wojcik aguarga um acordo para poder quitar valor pendente de R$ 138.318,00. continua após a publicidade |
Amanhã o agricultor Félix Wojcik terá sua propriedade de pouco mais de 12 hectares, situada na Lagoa do Pântano, em Contenda, leiloada pelo não pagamento de uma dívida junto ao Banco do Brasil. Como forma de protesto a esse e a outros casos que estão na Justiça, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Contenda, Miguel Treziak, disse que hoje pela manhã haverá uma manifestação contra a medida, em frente à agência do banco. Segundo ele, há aproximadamente 30 famílias em situação parecida na região.
?A crise começou em 1995, por causa de uma safra de batatas muito ruim e por causa da abertura econômica do Mercosul?, afirma. Para Treziak, a crise de meados da década de noventa, também conhecida na região de Contenda e Lapa como a ?crise da batata?, ainda afeta os agricultores. Segundo ele, problemas com dívidas podem atingir mais de cem famílias.
Por ter tido problemas com a safra de batatas, Félix não conseguiu pagar o financiamento, que de R$ 20 mil em 1995, passou a mais de R$ 52 mil em 1998, quando o caso foi parar na Justiça. Hoje, o total da dívida chega a R$ 138.318,90, sem contar as custas do processo. Contudo, o terreno rural e o trator Massey Ferguson juntos são avaliados em R$ 89.710, o que não paga a dívida. ?Eu não nego a dívida, só quero um acordo para poder pagá-la?, afirma ele.
Para João Batista de Toledo, assessor jurídico da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep) e que defende 22 agricultores da região de Contenda, o Banco do Brasil está sendo intransigente. ?Até o Banestado chegou a negociar a dívida?. O Banco do Brasil considera que a ação já foi julgada e por isso não vai se manifestar a respeito do leilão.
Toledo diz que é um absurdo um cidadão fazer financiamento de lavoura e ter de pagar a dívida com sua propriedade. Ele considera que casos como esse contribuem para êxodo rural. ?Se perderem a terra, vão fazer o quê? Podem ir para as cidades grandes, ampliando os bolsões de pobreza?, considera Toledo. A respeito do que vai fazer após o leilão, Félix respondeu que não sabe. ?Isso acaba com meu trabalho. Vou perder tudo?, afirmou o agricultor.
Treziak considera que a situação está difícil para muitos agricultores da região. A confirmação vem do agricultor Vicente Kosinshi, que diz ter contraído um financiamento de R$ 45 mil em meados da década de noventa, que acabaram se transformando numa dívida de R$ 202 mil. Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Contenda, há também o caso recente de 37 agricultores que foram notificados pela Fazenda Nacional e esperam por intimação judicial. Eles tinham os prazos para pagamento prorrogados e não conseguiram cumpri-los.
Outro motivo que gerou a crise, conforme ele, seria a entrada de produtos agrícolas mais baratos de parceiros comerciais do Mercosul, a partir de 1995. ?O milho, o feijão e a cebola provenientes da Argentina, contribuíram bastante para os problemas da região?, afirma ele.