Aeroporto Afonso Pena opera no limite

Falta de investimentos, pistas antiquadas e temor de pilotos em pousar e decolar em dias de mau tempo. Apesar das semelhanças, não se trata de Congonhas, mas sim do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Instigada pela crise aérea brasileira, a reportagem de O Estado quis saber a quantas anda o aeródromo curitibano. E as informações obtidas com especialistas, pilotos e controladores não foram as mais animadoras.

?As duas pistas que possui o Afonso Pena não são das melhores, especialmente com pouca visibilidade?, confirma um piloto que não quis se identificar. A pista das cabeceiras 15 e 33 – a principal do Afonso Pena – tem 2.215 metros, porém conta com sistema de ILS categoria 2 – que permite pousos e decolagens com pouca visibilidade através de meios eletrônicos – apenas na cabeceira 15. ?Quando temos pouco teto, quando chove muito ou existe muita neblina, pousar em Curitiba pode ser bem trabalhoso?, diz o piloto ouvido por O Estado.

Isso porque, se não pode contar com o ILS, o piloto precisa utilizar um sistema de não-precisão chamado de NDB (radiofarol não direcionado), que apenas aponta, como se fosse uma bússola, em que direção a pista está. O NDB é utilizado na pista auxiliar do Afonso Pena, que tem 1.800 metros -, assim como na cabeceira 33 da pista principal. ?Pousar deste modo não chega a ser perigoso, pois o Afonso Pena não tem obstáculos por perto, mas certamente não é o jeito mais seguro e confortável que existe hoje?, afirma outro piloto, que também pediu anonimato. ?Talvez seja o aeroporto que mais sofre com a falta de teto no País?, completa.

Para o vice-diretor da faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Hildebrando Hoffmann, a instalação do ILS na outra cabeceira da pista principal do Afonso Pena e a elevação do sistema à categoria 3 resolveria m 90% dos fechamentos do aeroporto.

?E perto do que se gastou na reforma do terminal, este tipo de equipamento nem é tão caro. Custa cerca de U$ 5 milhões para cada uma das categorias do ILS?, atesta.

Falhas no asfalto

Outra reclamação dos pilotos é sobre ondulações e falhas no asfalto em ambas as pistas. ?Faz muito tempo que a pista do Afonso Pena não recebe recapeamento?, disse o diretor regional da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC), Walmor Weiss.

?Assim como na reforma do terminal de Congonhas, curiosamente foi investido muito em conforto na construção do novo terminal em Curitiba, mas quase nada foi direcionado à segurança?, acrescenta o professor Hildebrando.

A reportagem procurou a Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) para comentar as acusações, mas a assessoria do órgão em Curitiba informou que o superintendente Antônio Filipe Barcelos não está autorizado a dar entrevistas.

Convênio entre Infraero e governo não sai do papel

Outro problema enfrentado no Afonso Pena é a escassez de investimentos. Em 1996, foi assinado um convênio entre a Infraero e o governo estadual para a ampliação da pista principal ou até mesmo a construção de uma terceira pista. Mas foi somente em 2006 que se cogitou de fato a possibilidade de início de obras de recapeamento e de aumentar a pista, porém, até agora, nada saiu do papel.

O Estado publicou em fevereiro uma reportagem sobre o Afonso Pena, onde o superintendente do aeroporto, Antônio Filipe Barcelos, dizia que a ampliação da pista em 375 metros, além de fazer um reforço com obras complementares, como um pátio novo, não tinham prazo para começar, uma vez que ainda estavam sendo feitos estudos de impacto ambiental para licenciamento e, só então, seria feita a abertura de licitação de projeto e execução.

Segundo Walmor Weiss, do NTC, com 2.590 metros de pista poderia-se exportar para o sul da Europa e dos EUA sem precisar passar pelos aeroportos de São Paulo ou do Rio. ?Do tamanho que está a pista, um grande avião, como os Boeings 747 ou 777, precisam ou decolar com menos carga ou com menos combustível, o que obriga uma parada extra antes destes destinos?, ensina o professor da faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS, Hildebrando Hoffmann.

Já o projeto para construir uma terceira pista no aeroporto, com 3,3 mil metros, já tem um terreno desapropriado, mas o custo estimado ficaria, segundo empresários, entre R$ 120 e R$ 130 milhões.

Segundo a Infraero, a capacidade do Afonso Pena é de 3,5 milhões de passageiros por ano. Em 2006, chegou a 3,3 milhões. ?Já estamos chegando no limite aqui. Se não forem feitos investimentos em infra-estrutura logo, estaremos afogados igual Congonhas. Isso sem falar na segurança?, diz Walmor Weiss.

Registro de falhas no controle de tráfego

E não são só de pista os problemas no Afonso Pena. Logo após o acidente com o Boeing da Gol, em 29 de setembro do ano passado, os problemas no controle de tráfego aéreo brasileiro ganharam repercussão. Desde então, controladores têm sido culpados e, ao mesmo tempo, têm apontado falhas na infra-estrutura e nas condições de trabalho. Em dezembro, houve falhas de equipamentos no sistema de rádio do Cindacta II, em Curitiba, que monitora os vôos na Região Sul, o que levou a atrasos em cascata.

?Ainda hoje, registramos falhas sucessivas nos sistemas de comunicação, responsáveis pelo contato entre a torre de controle e as aeronaves?, admite um controlador que não quis se identificar. Segundo ele, por causa desses problemas, o Afonso Pena é obrigado a diminuir o fluxo de aeronaves. ?E além das falhas nos sistemas de operação, o Cindacta II sofre com a falta de mão-de-obra?, afirma.

O Estado procurou a assessoria da Força Aérea Brasileira para comentar as acusações, mas até o fechamento desta edição não teve os pedidos atendidos.

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