Foto: Chuniti Kawamura/O Estado |
Dalledone durante entrevista. continua após a publicidade |
O advogado Cláudio Dalledone Júnior – que defende o também advogado e ex-conselheiro da Itaipu Binacional, Roberto Bertholdo, preso no início do mês pela Polícia Federal – negou ontem que seu cliente tenha acusado em juízo o líder do PP na Câmara dos Deputados, José Janene, de autoria de grampos telefônicos ilegais. De acordo com a Justiça Federal, Bertholdo teria feito essa afirmação ao ser ouvido pelo juiz da 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, Gueverson Rogério Farias, na última segunda-feira.
Bertholdo foi preso sob acusação de ter grampeado o telefone do juiz Sérgio Moro – titular da vara especializada em lavagem de dinheiro – e, assim, ter tido conhecimento antecipado da prisão de seu ex-cliente Tony Garcia. Mas Bertholdo teria, segundo a Justiça Federal repassou no dia do depoimento, colocado Janene como autor das interceptações. O que Dalledone refuta. ?Meu cliente não afirmou que o Janene era o mandante. Disse apenas que recebeu a informação da prisão do Tony Garcia pelo Janene, que, por sua vez, teve a informação através de Youssef?, afirmou, se referindo ao doleiro Alberto Youssef.
O advogado responde sobre a ciência de Bertholdo a respeito dos grampos recordando o nome de Sérgio Rodrigues, responsável pela colocação da escuta e, conforme Dalledone, pela entrega das fitas na Procuradoria Geral da União. ?Meu cliente sofreu uma devassa e não encontraram nenhuma fita de interceptação ilegal. O grampo, quem entregou à Procuradoria, foi o Serginho do Grampo?, conforme descreveu. Segundo a Justiça Federal, porém, Sérgio Rodrigues, também ouvido em juízo, disse que entregava as fitas no escritório de Bertholdo.
Outro levantamento é a relação de Bertholdo com autoridades do Judiciário. Conforme a Justiça Federal, em seu depoimento, Bertholdo havia dito ser amigo do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Dalledone, porém, contesta: ?Em nenhum momento, Bertholdo teve relação com o ministro.?
Para o advogado, a questão foi levantada porque existe interesse da Procuradoria em saber de ministros e desembargadores. ?No depoimento, insistiram para que falasse de autoridades?, relatou Dalledone. ?Mas meu cliente não aceita delação premiada?, ressaltou.
O advogado nega que Bertholdo tenha interesse em ganhar tempo e levar seu julgamento para o Supremo Tribunal Federal (STF) e afirma que seu cliente foi vítima de extorsão. ?Ele afirmou no interrogatório que teve uma pedida de US$ 1 milhão de advogados que teriam interesse em resolver ?um problema seu??, sem revelar qual seria esse problema. Dalledone entrará com pedido de habeas corpus junto ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região na segunda-feira.
Justiça
A Justiça Federal do Paraná confirmou, ontem, em nota oficial, que no depoimento prestado por Roberto Bertholdo o deputado federal José Janene foi apontado como a pessoa que teria lhe repassado informações relativas a interceptações telefônicas obtidas de forma clandestina do juiz federal Sérgio Moro. Bertholdo sabia da existência de interceptações, já que, de acordo com a nota, afirmou que Janene revelou como tinha acesso às informações. A Justiça Federal afirma que Bertholdo confirmou que Janene receberia essas informações de Alberto Youssef, caracterizado pelo acusado como muito ligado ao deputado.