Adultos voltam para as salas de aula

Os adultos que ainda não tiveram a chance de aprender a ler e escrever contam com a ajuda das crianças que estudam na rede pública municipal de Curitiba para voltar à escola. De acordo com o último censo do IBGE (2000), somente na capital paranaense existem cerca de 40 mil adultos analfabetos, ou 3,4% da população. Número que pode mudar com a atitude dos estudantes junto a ações da prefeitura, que pretende chegar a um percentual de até 1%.

A busca para alcançar a meta tem como aliado um relatório distribuído aos alunos das escolas municipais, que pretende descobrir onde estão esses adultos e qual o perfil deles. "Foram encaminhados 117 mil questionários para saber se conhecem alguém que não sabe ler e escrever e como achar essa pessoa. Só de trazê-los à escola já é uma grande vitória", analisa a secretária de Educação de Prefeitura Municipal de Curitiba, Eleonora Fruet.

Ela acrescenta que há muito tempo a Educação de Jovens e Adultos (EJA) tenta buscá-los e que as escolas têm possibilidade de abrir turmas no período da noite, potencial que muitas vezes acaba não sendo aproveitado pela dificuldade em encontrar e trazer os adultos novamente à escola. "O que sabemos é que a maior parte dessa população é composta por mulheres acima de 50 anos", afirma Eleonora.

Outra constatação é a necessidade de investir na adequação da escola como atrativo às expectativas dessas pessoas. "Geralmente voltam a estudar por alguma necessidade ligada ao trabalho, como nível salarial e exigência de ofertas de emprego. Sem dúvida, o diploma faz a diferença" A secretária enfatiza que as 117 escolas que atendem aos oito mil alunos da EJA atualmente possuem um professor treinado para atender especificamente a esse público. "Além disso há parcerias com alfabetizadoras, que, juntas, chegam a ter em média 1.300 alunos", relata.

A professora Lourdes Pereira acredita que o questionário tem sido ferramenta importante para trazer novos alunos à Escola Municipal Professor Dario Persiano de Castro Vellozo, onde leciona para uma turma da EJA.

"Essa entrevista é muito importante porque o questionário vai direto nas casas e os alunos fazem o contato com os vizinhos, até mesmo dentro da família, e outras pessoas da região. O retorno tem sido imediato", conta. Ela acrescenta que em uma semana três novos alunos voltaram para a sala de aula e que mais dois estão para chegar. "Isso motivou a turma também", ressalta.

Quem comprova é a aluna Jacira Maria da Silva, de 67 anos. Ela diz que, onde mora, todo mundo já está na escola. "Até levei o questionário, mas onde eu moro todo mundo estuda. Se tivesse alguém que não estudasse, eu com certeza ia insistir para levar para a escola", afirma. "Já estou quase conseguindo escrever meu nome. Isso é uma felicidade grande, nem imaginava que pudesse acontecer", diz Jacira, feliz.

Da mesma forma pensa a aluna Marlene Tramontin, auxiliar de cozinha de 35 anos que já até recusou propostas de emprego para não deixar a escola. "Não quero largar dos meus estudos porque é importante para mim", enfatiza a estudante, que tem o sonho de aprender a navegar na internet. "Perdi um emprego de secretária porque não sabia usar a internet. Mas ainda bem que a gente vai ter aulas e vou aprender. Pode demorar, mas não vou desistir", comemora.

Paraná recebe prêmio de alfabetização

Durante a abertura do 7.º Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos (EJA), ontem, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães em Brasília, o Ministério da Educação (MEC) entregou medalhas de premiação para os estados que obtiveram maior relevância social na experiência com o EJA. Com o projeto "Paraná Alfabetizado", o Paraná ficou entre os quatro primeiros colocados e recebeu a Medalha Paulo Freire, na categoria maior destaque em EJA.

O Paraná Alfabetizado está na segunda edição e, entre 2004 e 2005 ampliou em 90% o número de alunos, passando de 24.642 para 46.966 alfabetizandos. O número de municípios atendidos passou de 225 para 344, obtendo aumento de 53%. Nesses dois anos, o número de turmas mais que dobrou, passando de 1.275 para 2.577. Dessas, 252 atendem pessoas com necessidades especiais (surdez, auditiva e mental), 25 turmas estão em terras indígenas, envolvendo 331 alfabetizandos caingangues e guaranis, duas turmas em terras quilombolas e 12 turmas atendem pescadores.

Conforme dados do censo do IBGE de 2000, o número de pessoas não alfabetizadas no Paraná é de 649 mil, ou seja, 3,8% da população. O total de atendidos nas duas edições indica que cerca de 10% deste percentual já está envolvido no projeto.

O secretário da Educação Maurício Requião disse que o prêmio concedido pelo MEC ao Paraná significa o reconhecimento ao esforço que o Estado tem feito nesse sentido. "Essa premiação não é só à Secretaria da Educação, mas a todos os alfabetizadores e alfabetizandos, que no dia-a-dia se envolvem, fazendo com que o programa aconteça. Ela aponta, sobretudo, para a importância de que essa ação permaneça e com ampliação nos anos seguintes", destacou.

Livros

Para Wagner Roberto do Amaral, coordenador do "Paraná Alfabetizado", os números indicam que o Estado caminha para a superação do analfabetismo. "Para continuarmos nessa perspectiva de crescimento, a alfabetização deve se apresentar não só como uma política de governo, mas como uma política de Estado", disse Wagner.

A Secretaria de Estado da Educação está em processo de elaboração de cinco livros específicos para alfabetização de EJA.

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